Nam Fan Lou–O Herdeiro da Arte de Fazer Leques

10 2016 | 17a edição
Texto/Jason Leong

Em tempos remotos, académicos e advogados talentosos tinham sempre nas mãos um leque elegante que agitavam quando recitavam poesia ou discutiam ideias. A cultura do leque tem uma longa história na comunidade chinesa. Hoje em dia, é possível encontrar mini-ventoinhas e ares-condicionados por todo a parte e a arte de fabrico de leques está aparentemente em declínio. No entanto, ainda há quem trabalhe no anonimato, e a Casa de Artesanato Nam Fan Lou é um desses estabelecimentos. “O ritmo da vida urbana é muito rápido e muito poucas pessoas prestam atenção às artes que representam a vida espiritual, como a dos leques. Mas eu ainda quero continuar a fazer isto e a herdar esta cultura tradicional”, diz a responsável pelo estabelecimento, Monita Chao.


A Nam Fan Lou é situada numa rua interior junto à Escola Secundária Luso-Chinesa de Luís Gonzaga Gomes, perto da Praça do Tap Siac. A loja do piso térro é usada para venda a retalho, enquanto o segundo andar é usado como galeria de livros, pinturas e leques feitos por artistas famosos. Apesar de ter poucos clientes, a Nam Fan Lou é extremamente conhecida dentro da indústria de leques. “Abrimos em 2003. Somos a única loja de alguma dimensão com produtos manufacturados, que têm mais qualidade e melhor relação qualidade-preço do que aqueles produzidos no Interior da China. Por isso, muitos turistas vêm especialmente para nos visitar”, diz Chao com um sorriso.


Actualmente, 40 por cento dos leques da Nam Fan Lou são feitos à mão por artesões locais veteranos. Os outros 60 por cento são feitos em fábricas no Interior da China. A fábrica original era localizada em Zhuhai, mas devido ao aumento do preço das rendas e dos salários, foi deslocada para Suzhou e Hangzhou, onde os leques são produzidos em grandes quantidades. “Não temos outra opção. Os custos de produção na região do Cantão são agora muito elevados, e não há muitos apreciadores de leques em Macau. Se queremos continuar a funcionar, temos de encontrar uma solução.”


Há muitos tipos de leques – aqueles que eram usados por académicos, aqueles que eram usados pelas concubinas imperiais e pelas empregadas dos palácios para cobrirem os seus rostos, os leques originários da Coreia e do Japão em que a estrutura do leque é visível, leques de folha de palmeira e leques de papel preto. Alguns materiais são ainda mais sofisticados – marfim, sândalo, carapaça de tartaruga. Qualquer material em que possa pensar, eles têm. Quanto mais complexo for o padrão da estrutura do leque, mais facilmente esta pode partir-se durante o processo de manufactura. Linhas de produção fabris não podem produzir algo desta qualidade, é preciso trabalho artesanal. É por isso que Chao insiste em que uma parte dos seus produtos seja produzida localmente e à mão. A Nam Fan Lou passou recentemente a fazer parte do “Mapa Cultural e Criativo de Macau” e tornou-se num dos locais recomendados pelo governo. Por isso, decidiu inovar e incorporar “elementos de Macau” nos seus produtos, inserindo palavras como “Macau” nos leques, para agradar aos turistas.


Chao acaba por se levantar gesticular na direcção dos leques decorativos que estão atrás de si. “Este foi feito para o governo em 2014, como uma recordação para oferecer noutras regiões. Tem estampas pintadas à mão, juntamente com bordados de fios de ouro, serigrafia e tecnologia laser. Os custos são muito elevados, mais de MOP 200. Este, por sua vez, é uma recordação para a Benz, distribuída numa das suas exposições, uma vez que os ocidentais são extremamente interessados por arte chinesa. Este foi encomendado pela Wynn Macao. Eles forneceram os estampados com o seu padrão específico, que nós apresentamos na cobertura do leque.”


Actualmente, os lucros da Nam Fan Lou estão principalmente divididos em duas partes – venda a retalho e encomendas de grande escala. Desde 2004 que o estabelecimento tem recebido encomendas para recordações que são distribuídas em eventos de grande escala organizados pelo governo ou por grandes marcas. Em épocas boas, a Nam Fan Lou recebe encomendas todos os meses. No entanto, o número de encomendas diminuiu com a queda das receitas do jogo. “A venda a retalho tem sido fragmentária. A maior parte das pessoas apenas olha para os leques nos expositores, porque pensa que pagar MOP 50 ou MOP 60 por um leque é caro e não vale a pena. Contudo, quem está por dento desta indústria saberá que nós usamos materiais de alta qualidade quando comparados com os do Interior da China.”


Chao diz que a encomenda mais memorável que já recebeu foi a primeira de grande escala, há mais de dez anos, para produzir lembranças para o Dia Internacional dos Museus, em 2004. A Nam Fan Lou tinha acabado de abrir. Aconteceu de o director do museu passar pela loja, tendo acabado por pedir um orçamento após uma simples visita. Não era o orçamento mais barato, mas a Nam Fan Lou acabou por ficar com o trabalho. O director explicou que tal se deveu à qualidade dos produtos. Desde então, Chao percebeu que praticar preços baixos pode favorecer a loja no que toca a aproveitar o mercado no curto prazo, mas no longo prazo será melhor para o desenvolvimento da loja se a qualidade for aquilo que se destaca.


Agora no 13º ano de operação, o negócio da Nam Fan Lou é flutuante e instável. Mas porque é que Chao insiste na arte de produção de leques? “Acho que alguém tem de fazer alguma coisa para que este ofício tradicional possa continuar.” A Nam Fan Long era anteriormente uma loja de materiais artísticos, aberta por Chao e alguns amigos na década de 1980 – a famosa Livraria Ngai Chi Hin. Naquela altura, Chao já estudava pintura tradicional chinesa há vários anos e era difícil encontrar materiais. Então abriu a sua loja de materiais artísticos para conveniência das suas próprias criações, ao mesmo tempo que servia os talentos artísticos. No entanto, o número de aficionados de arte em Macau é muito limitado e a Ngai Chi Hin fechou no começo da década de 1990. “Foi uma pena. Depois disso fui trabalhar em Hong Kong, mas continuava a amar a arte chinesa. Os leques e a pintura tradicional chinesa têm a mesma origem, e muitos leques têm pinturas e caligrafia. Acabou por vir para Macau e abrir a Nam Fan Lou.”


Quando fala de história, Chao tem sempre um sorriso. Contudo, quando mudamos para o presente, não consegue disfarçar um suspiro. “O ritmo da vida urbana é muito rápido e muito poucas pessoas prestam atenção a artes como a dos leques. Mas eu ainda quero continuar a fazer isto e a herdar esta cultura tradicional.”