São as Exposições Temáticas Estrangeiras uma Ameaça para as Indústrias de Manga e Animé Locais?

10 2016 | 17a edição
Texto/Chan Lap Hang

A Exposição de Animé Comemorativa dos 25 Anos de Chibi Murako Chan, patente no Centro de Convenções de Macau durante o verão deste ano, foi muito bem recebida e atraiu imensos residentes locais e visitantes. As fotografias do público com Maruko tornaram-se virais nas redes sociais. Foram vendidos 70 mil bilhetes, um registo impressionante. Lo Tak Chong, director-geral da MACEXPO Exhibition Co. Ltd, partilha connosco a sua experiência enquanto co-organizador do evento. Kuan Man Chon, responsável pelo Estúdio Maple, também tem a sua opinião sobre este tipo de exposições.


“Não interessa se se está a desenhar manga, ou a trabalhar nas indústrias criativas. Desde que uma pessoa consiga destacar-se no seu ramo, há sempre uma saída. Macau é pequeno, mas não significa que não haja uma saída para Macau.” O sucesso da exposição de Murako pode inspirar os talentos locais das indústrias criativas, acredita Lo. “Como toda a gente sabe, animações famosas, como Murako e Crayon Shin Chan, impressionam-nos pelos seus diálogos mordazes e enredos memoráveis que contam histórias da vida quotidiana. Sem estes elementos, estas personagens seriam apenas uma imagem. Os conteúdos são vitais porque podem tornar as personagens vívidas e oferecer um enredo forte, e finalmente tornar essas animações memoráveis. Contudo, noto que alguns artistas manga de Macau se concentram apenas em expressar os seus próprios pensamentos, desenhando as personagens e as histórias com os seus próprios estilos. Todo o processo é garantido apenas por uma pessoa e essa pessoa pode não ser capaz de cuidar de todos os aspectos. A este respeito, penso que desenhar manga deve ser como uma produção de TV: há uma divisão de trabalho entre o realizador, o argumentista e o actor/actriz. É melhor procurar parceiros que são amigos. Um concentra-se no desenho, enquanto outro trabalha no guião. Ao fazer isto, haverá hipóteses de sucesso.”


Além disso, Lo diz que quando se trata de falar de negócios, as pessoas das indústrias criativas em Macau e Taiwan têm atitudes diferentes. “Tomemos a Exposição Play Hub em Macau como exemplo, visitei a zona criativa desse certame e falei com os expositores. Depois da minha visita, responsáveis de certos expositores de Taiwan entraram activamente em contacto comigo. Com Macau acontece o contrário. Os expositores locais não são assim tão activos e não houve qualquer conversa após a minha visita.” Lo sugere que os profissionais das indústrias criativas em Macau, especialmente os mais jovens, sejam mais proactivos de modo a conseguirem mais negócios.


A exposição sobre Maruko não foi uma criação local. Kuan Man Chon acredita que isso tem prós e contras. Considera que este tipo de exposições são boas para Macau já que podem fazer o público local perceber melhor a cultura e a indústria de manga e animé. “No passado, muitos pais tinham uma visão negativa da manga e do animé, e recusavam-se a deixar que os seus filhos pudessem vê-las. Mas agora é diferente. Esses miúdos que costumavam ver manga e animé são agora pais. Isso significa que o público considera a manga e o animé mais aceitáveis e está mais disposto a gastar dinheiro em produtos relacionados com esta indústria. Deste modo, o mercado tornar-se-á maior”, diz Kuan.


No entanto, Kuan acredita que, se Macau depender de exposições com esta, as pessoas podem achar erradamente que a manga e o animé estão apenas relacionados com as obras em si, e desse modo negligenciar outros trabalhos derivados, como os trabalhos imitativos de doujin e cosplay. Isto é na verdade prejudicial para a promoção das indústrias de manga e animé. “Além disso, quando falamos de promover a indústrias criativas em Macau, os produtos estrangeiros que são importados para cá já são bem recebidos no mercado internacional. Temo que, se importarmos apenas esses produtos, as pessoas possam compará-los com os trabalhos locais e achar prejudicialmente que as obras locais são amadoras.”


Quando se trata de incentivar os artistas locais a serem mais produtivos, Kuan espera que os investidores não importem apenas produtos estrangeiros para Macau. Idealmente, não deviam pensar em lucros imediatos mas também em formar talentos locais. Depois disso, poderiam organizar exposições que tivessem como tema os trabalhos locais e deixar que mais pessoas vissem e percebessem as obras de artistas locais, de modo a aumentar a sua visibilidade. Kuan acrescenta: “As indústrias criativas em Macau também precisam de um sistema integrado. Por exemplo, alguém tem de se especializar em pesquisa de marketing e promoção de produtos, de modo a tornar os trabalhos visíveis em diferentes aspectos e lugares, e finalmente tentar criar uma marca. Além disso, as pessoas das indústrias criativas também têm de encontrar um equilíbrio entre a obtenção de fama e de lucros. Se alguém põe um preço alto numa obra só porque esta é rotulada como ‘produto criativo’, isso pode dar que falar na cidade. Mas, do ponto de vista da sobrevivência no mundo dos negócios, fazer isso é bastante perigoso.”