Cheong Sio Pang

Cheong vive em Pequim, trabalha em investigação académica e gosta de escutar música clássica. As suas publicações incluem An Oral History of the Concert Band in Macao. Ele é também o autor de Macau 2014 – Livro Musical do Ano e Macau 2015 – Livro Musical do Ano. Cheong adora aprender.


Arte e tempo

11a edição | 11 2015

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Foto cedida pelo Museu de Arte de Macau


A apreciação da arte aprofunda-se com o tempo. Com o tempo, adquire-se um melhor entendimento sobre uma obra artística. Os trabalhos do artista francês Robert Cahen são um bom exemplo. Na sua mais recente exposição, muitas obras de arte exigiam aos visitantes que se demorassem algum tempo para reflectir sobre o seu significado. O vídeo de 23 minutos Fall with the Objects requeria, em particular, essa atenção dos espectadores. Para algumas pessoas, esta “pintura” animada, na qual se podem ver objectos do dia-a-dia a cair lentamente de uma “tela emoldurada” fixa, pode não significar nada, ou então também é possível que não saibam como reagir. No entanto, o seu sentido artístico reside no carácter quotidiano dos objectos. A mensagem do artista é que tudo neste mundo cai gentilmente da tela. A obra de arte pretende expressar que tudo neste mundo vai acabar por desaparecer, independentemente do esforço que alguém possa fazer para contrariar isso. Também reflecte sobre como tudo está sujeito à lei do tempo. Quando algo desaparece, continua a existir na memória, mesmo que esse momento se tenha tornado passado e seja irreversível.


O sentido da arte não reside somente na substância do próprio objecto, mas no valor apresentado pela obra de arte. Em The Charm of Art, do artista taiwanês Chang Yi, a arte é definida como o único produto espiritual que, a um nível sentimental, expressa a consciência do artista sobre a vida. E ao longo deste processo outras pessoas poderão viver uma experiência enriquecedora ao apreciar arte. Contudo, a arte em si também pode encorajar o uso da razão e, como tal, não pode ser explicada inteiramente através do seu valor subjectivo. De facto, a arte possui elementos intensamente subjectivos, que apelam ao fundo subjectivo do ser humano. De acordo com a teoria sobre a produção artística do crítico de arte britânico Herbert Read, o homem projecta um valor subjectivo nas obras de arte e, ao fazê-lo, liberta-se das armadilhas das suas próprias emoções. O desenvolvimento no nosso mundo contemporâneo – seja a nível de avanços tecnológicos ou da vida do consumidor – ultrapassou claramente o das décadas anteriores. A procura da racionalidade levou a certas inibições do sentimentalismo. Por isso, a função da arte como meio para reflectir sobre valores subjectivos pode servir para promover a diversidade da arte contemporânea. Muitos dos interessados em arte podem ser influenciados por sentimentos transmitidos em exposições de arte num museu, até ao ponto de tremer ou chorar.


O sentido da arte aprofunda-se ao longo do tempo. Nesta sociedade actual de rápidas mudanças, muitos são obrigados a tomar decisões na vida, mesmo antes de poderem compreender plenamente determinada situação. Por outras palavras, as nossas vidas consistem em satisfações imediatas, num viver simplificado e directo. E, nesse processo social, tudo o que não seja mainstream é marginalizado. Felizmente, no que diz respeito ao desenvolvimento da arte, as belas-artes ainda têm boa aceitação e não são marginalizadas. No entanto, o imediatismo da cultura mainstream levou à busca de desejos exagerados e de um marketing exageradamente glamoroso. Este fenómeno tornou-se numa espécie de culto religioso: os que são a favor disso vivem praticamente alheados; e os que existem à margem deste universo sentem-se chocados por ele. Já os que defendem esta linha convencional, consideram os de fora alienados e estranhos. A arte em si nunca foi exclusiva. Pelo contrário, tem uma essência evidente e abrangente. No entanto, a diferença de expressões artísticas vai por vezes causar divisões tremendas. Por isso, a troca de pontos de vista e a comunicação entre diferentes práticas de arte são necessárias, para que a arte não seja tão cruamente dividida entre “mainstream” e “não-mainstream”.