Yap Seow Choong

Yap é um aficionado do design, das viagens e de tudo o que é belo na vida. Escreve para várias publicações sobre viagens e design e tem vários livros publicados, dos quais se destacam Wander Bhutan e Myanmar Odyssey. Antigo editor da Lonely Planet China, Yap é agora o principal responsável por todos os conteúdos da Youpu Apps, uma empresa de aplicações sediada em Pequim.


Publicação responsável

2a edição | 02 2015

Para muitas empresas estrangeiras, a China é uma mina de ouro, mas não é fácil encontrar uma pepita de ouro realmente valiosa. Assemelhamo-nos a um bando de patos a deslizar graciosa e suavemente à superfície da água, enquanto, escondidos dos olhares, as suas patas agitam-se freneticamente.


Comecei a trabalhar na Lonely Planet China em 2009, quando esta se juntou à Joint Publishing num projecto que visava publicar uma série de guias de viagem. Ao mesmo tempo, a Lonely Planet lançava um outro projecto: guias de viagem das várias províncias da China feitos por viajantes chineses. Foi o desafio mais difícil mas mais interessante da Lonely Planet China. Em vez de traduções de línguas e pontos de vista estrangeiros, produzíamos agora guias de viagem concebidos por autores chineses de acordo com os hábitos e interesses dos turistas chineses. Os guias da Lonely Planet sobre Hong Kong, Macau e Taiwan são agora altamente recomendados pelos leitores chineses.


Em comparação com outros mercados asiáticos mais maduros, a viagem independente na China ainda está a dar os primeiros passos. Mesmo assim, o crescimento é notável e em 2014 mais de 100 milhões de chineses rumaram aos mais variados destinos turísticos fora da China, que lutam por uma fatia do turismo chinês. Cada vez mais lojas estão a contratar funcionários falantes de chinês e alguns destinos ficaram, do dia para a noite, inundados de turistas chineses. Na minha última visita a Chiang Mai, na Tailândia, a cidade transformara-se numa Chinatown, onde dominam os caracteres chineses. Alguns turistas chineses menos educados causaram má impressão entre os locais, ao fumar nos templos com total desrespeito pela cultura local, por exemplo. O mais chocante foi o facto de um desses turistas ter comprado o uniforme da Universidade de Chiang Mai para se imiscuir e poder tirar fotos até mesmo dentro das salas onde decorriam aulas ou exames, perturbando o ambiente escolar. Como resultado, a entrada no campus universitário, gratuita anteriormente, é, agora paga de forma a controlar a intrusão de visitantes chineses.


Por esta razão, a China tem uma crescente necessidade de guias de viagem de qualidade que, além de aconselharem o viajante para que este possa aproveitar ao máximo a sua estadia, também eduquem o turista. Por exemplo, estes guias dão a conhecer hotéis amigos do ambiente, encorajam os leitores dos guias a envolverem-se em actividades de carácter social, e ensinam a cultura local de forma a ser respeitada pelo visitante. O fundador da Lonely Planet, Tony Wheeler, acredita que se mudarmos a nossa maneira e hábitos de viajar, e ponderarmos sobre o caminho que devemos seguir e a razão por que nos deslocamos em viagem, os danos ambientais causados pela pegada do homem podem ser reduzidos.


Além de conselhos sobre alimentação e entretenimento, um guia de viagem responsável deve ter em conta o enquadramento histórico e actual, e os problemas sociais do local de destino. Só através de um conhecimento profundo pode o turista abrir a mente para compreender o lugar de destino e desse modo integrar-se na vida local. Por isso, acredito que a parte mais importante do guia, e a que dá maior dor de cabeça, é a escrita de informação de fundo, que inclui a história e a cultura do local, entre outros.


Devido à censura na China, é impossível escrever livremente, mas quando se trata dos guias de viagem locais, aconselho os autores e editores a não se auto-censurarem e a serem o mais directos possível. A editora tem os seus próprios censores e, sempre que necessário, reúno-me com eles para discutir a melhor forma de abordar o tema problemático de forma a evitar a não-publicação do guia. Existem outras editoras chinesas de guias de viagem que, de um modo geral, descrevem apenas os aspectos positivos, deixando de fora os negativos, tentando assim evitar algumas questões críticas. Felizmente, tive a sorte de trabalhar com autores e editores que partilham dos mesmos ideais – contribuir para um crescimento positivo do mercado turístico, assim como editorial. É um trabalho árduo, mas é também uma óptima e inesquecível experiência.