O Caminho dos Filósofos, em Quioto, perto da galeria onde trabalhei, é normalmente sossegado. Mas quando chega a época das cerejeiras em flor, está cheio de turistas. Uma vez estava a guiar na direcção da montanha e fiquei parado no trânsito antes de chegar à ponte do Caminho dos Filósofos. Algum tempo depois pude avançar lentamente, depois dos turistas que tiravam fotos se terem apercebido que havia uma fila de carros à espera. Apesar de tantos turistas deixaram os lojistas exaustos, eles ficam satisfeitos porque os seus rendimentos aumentam. 

Às vezes penso que este fenómeno é bastante estranho. Nenhum outro tipo de flor é como a de cerejeira, atraindo tanta gente para admirá-la. E esta flor delicada e fugaz serve também de inspiração às indústrias culturais e criativas do Japão. 

Há dez anos, tornei-me comprador de uma loja de produtos seleccionados em Hong Kong. Sendo novo e inexperiente, havia muitas coisas que não conhecia. Os produtos disponíveis para venda eram diferentes. Mas houve um produto que me devolveu a confiança: o copo Sakurasaku, produzido pela marca japonesa 100 percent. Sakurasaku é o modo como se pronuncia “flor de cerejeira” em japonês. Este copo é desenhado por Hironao Tsuboi. A sua base é feita em forma de flor de cerejeira. Se o copo for cheio com uma bebida gelada, as partículas de ar vão condensar-se em gotas, escorrendo pelo exterior do copo até à mesa. Para muitas pessoas, isto é um problema. No então, a marca de água deixada por este copo terá a forma da flor de cerejeira, uma depois da outra. Aquilo que seria um problema transforma-se imediatamente em algo elegante e romântico. As flores de cerejeira florescem na mesa. 

Este copo é o produto mais impressionante entre os da 100 percent, e é certamente o mais vendido. Posteriormente, Hironao Tsuboi adicionou novos membros à família. A versão original do copo era transparente. Mais tarde, surgiu a versão cor-de-rosa, como as flores de cerejeira, bem como outras versões feitas em vidro fosco, em vidro fino, etc.. 

A flor de cerejeira é frágil. A sua glória dura apenas momentos. Se não houver cuidado, as flores murcharão – mas nunca desiludem as pessoas. Porque, depois de caídas as flores, os ramos murchos permanecem e novos botões crescerão, o que significa o renovar da vida. Por isso, mesmo que as flores caiam, a mente continuará aberta. Talvez por esta razão, todos os produtos inspirados nas cerejeiras em flor parecem gerar emoções românticas e positivas nas pessoas. E assim as marcas de água dos copos Sakurasaku transformam a irritação das pessoas em algo surpreendente. Por outro lado, o “sabonete Sakura”, criado por uma empresa que produz e desenvolve produtos chamada GEL Design, de Hokkaido, faz as pessoas sentirem a bela mas curta vida das flores de cerejeira. 

Ao abrir a embalagem deste produto, uma caixa com pétalas de flor de cerejeira cor-de-rosa salta à vista. Finas como papel, essas pétalas são feitas de sabão natural. Se colocarmos cinco a dez pétalas nas mãos, para lavarmos as mãos ou a cara, e as misturamos com água, o sabão dissolve-se de imediato, tal como as flores de cerejeira, elegantes mas efémeras. Este produto acabou por ganhar o prémio de “Melhor Nova Lembrança do Japão” no Tokyo Midtown Award em 2008. 

Desde 2002, a cada primavera o Starbucks lança o esquema de promoções “Sakura”. São lançadas uma série de bebidas em tons rosa e vários produtos que têm como tema as cerejeiras em flor, incluindo canecas térmicas. Na primavera deste ano, duas novas linhas de produtos, “Passado” e “Futuro”, foram lançadas no mercado. A primeira é mais nostálgica, a segunda mais contemporânea. Ao todo, foram produzidos um total de 34 novos produtos. No Japão, as canecas térmicas do Starbucks são vistas como produtos da moda. Por isso, já se pode imaginar os lucros que as cerejeiras em flor geram a cada primavera. 

Não entrei em detalhes. Mas existirá outro país como o Japão, em que uma flor se tenha tornado no símbolo da própria nação? Com anos de cultivo, as cerejeiras em flor ajudaram, arbitrária ou intencionalmente, a promover a indústria do turismo. Além disso, os investidores e os residentes fazem bom uso delas, criando imensos produtos que atraem consumidores. 

Durante a minha infância em Hong Kong, lembro-me de ver filas de árvores sumaúma em flor na beira da estrada no frio do inverno. Os seus troncos eram rectos e firmes, e as flores de um vermelho intenso. Naqueles dias em que me sentia relutante em sair de casa por causa do frio, estas sumaúmas eram a minha motivação. As árvores-de-fogo também eram belas. Em Maio e Junho, as suas flores desabrochavam como chamas vermelhas. Comparadas com as cerejeiras em flor, estas eram de uma beleza poderosa. As árvores podem não só embelezar o meio envolvente, gerar ar puro e proteger-nos do sol e da chuva, mas também ser fonte de inspiração criativa. Se as cultivarmos de modo apropriado, quem sabe se elas não serão como as cerejeiras em flor, dando-nos o poder de promover as indústrias culturais e criativas.