Johnny Tam

Realizador teatral e director artístico do Grupo de Teatro Experimental de Pequena Cidade. Viveu e trabalhou em Xangai e Berlim. As obras recentes incluem O Sr.Shi e o Seu Amante Lungs.


"Moderation" no Festival de Artes de Taipé

29a edição | 10 2018

A dramaturga local Miki To recebeu no início de Março deste ano um convite do Festival de Artes de Taipé, organizado pelo Governo da Cidade de Taipé, para levar o seu trabalho Moderation ao festival no Think Bar, no começo de Agosto. Grupos de teatro de Macau actuaram várias vezes em Taiwan. Por exemplo, o Festival Fringe de Taipé e o Festival de Artes de Kuandu são ambos familiares às pessoas de Macau. O primeiro, em particular, é aquele em que peças de Macau têm sido mais frequentemente apresentadas em Taiwan. Por outro lado, para que uma peça seja seleccionada pelo Festival de Artes de Kuandu e pelo Festival de Artes de Taipé, tal requer a referência de um curador, ou que tenha sido previamente estreada noutras regiões da Ásia. É por isso que as peças de Macau são relativamente menos levadas à cena nestes dois festivais.

 

No passado era raro os grupos de teatro locais convidarem curadores do exterior para as suas produções, o significa que eles têm de tratar de encontrar um espaço, da angariação de fundos e da promoção para a sua tournée no exterior. Esta situação, no entanto, pode estar a mudar lentamente com a introdução, nos últimos anos, da Plataforma dos Produtores Asiáticos. Workshops e conferências com o tema “Rede e Diálogo Transfronteiriço” são organizados na Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Macau, dando aos grupos e criadores de teatro locais mais oportunidades de aparecer nos radares dos produtores asiáticos. Além disso, organizadores de eventos como o Festival de Artes de Macau e o Festival Fringe da Cidade de Macau, organizados pelo governo, e Dancing in the Moment e BOK Festival, organizados por promotores privados, incluíram também uma sessão para criadores locais interagirem com produtores estrangeiros. Naturalmente, também incluíram o visionamento de espectáculos e discussões de grupo. A produção local Moderation, por exemplo, recebeu o seu convite para o Festival de Artes de Taipé dos curadores Tang Fu Kuen e Betsy Lan no BOK Festival do ano passado, após a sua apresentação.

 

Certamente, além de ter curadores a assistir pessoalmente à performance, vários outros factores desempenham um papel em determinar se uma peça pode ser convidada para apresentações no exterior. Por exemplo, pode ser reencenada com uma equipa menor (o tamanho habitual é de cinco a oito actores e membros de equipa)? A peça é suficientemente original? O grupo pode manter a qualidade da performance? Questões como estas, bem como a compatibilidade da performance e a direcção geral, são fundamentais para entender esta questão.

 

Moderation, de acordo com a dramaturga e encenadora Miki To, é uma peça construída a partir da reflexão sobre o significado dos movimentos sociais. Devido aos seus elementos de crítica social, no entanto, foi bastante difícil para a peça encontrar mais recursos durante a sua fase inicial de criação, em comparação com outras peças. Felizmente, o grupo continuou a desenvolver a peça apesar da falta de fundos. Moderation foi encenada no Teatro Experimental de Cai Fora e no Teatro Caixa Preta no Edifício do Antigo Tribunal em 2016 e 2017, respectivamente, evoluindo de uma peça curta de 25 minutos para um espectáculo de quase uma hora de duração.

 

Voltando à questão da compatibilidade da direcção geral e do trabalho em si: na verdade tem havido falta de plataformas capazes de fazer criticismo social na Ásia. As edições anteriores do Festival de Artes de Taipé, por exemplo, viram todas o domínio da lógica da estética do teatro, seguida pela exploração da ligação entre a arte e a cidade. Este ano, no entanto, houve uma mudança – o Festival de Artes de Taipé deste ano foi curado por Tang Fu Kuen, um veterano do teatro de Singapura. Tang orientou o Festival para uma direcção diferente das suas edições anteriores, uma que visava confrontar a assembleia e fazer com que esta repensasse a própria ideia de “social-democracia”. Tang vê o festival como uma nova plataforma discursiva que, além do simples consumo da performance, procura também “revelar as provocações que a ASSEMBLEIA levanta ao identificar como a ‘performance’ opera nos movimentos sociais recentes, nos fluxos globais de capital, na migração cultural e no activismo jovem ”(Tang Fu Kuen, Discussão Artística do Festival de Artes de Taipé de 2018).

 

Podemos, portanto, concluir a partir destes exemplos que uma região, além de trazer intrigantes espectáculos internacionais para serem encenados localmente, poderia impulsionar o desenvolvimento criativo de artistas emergentes, bem como permitir que as suas vozes sejam ouvidas globalmente. Esta é também uma tarefa urgente para o desenvolvimento cultural. Sendo uma região pioneira das artes performativas na Ásia, Taiwan sublinhou os conceitos centrais da arte contemporânea, como “diversidade”, “inclusão” e “autodeterminação” em várias plataformas artísticas. Esperamos que os nossos artistas locais, ao participarem de performances no exterior, não apenas levem os seus trabalhos para o exterior, mas também incorporem neles as características mais marcantes da nossa cultura e a apresentem a esses públicos.