Tracy Choi

Realizadora. Ganhou em 2012 o Prémio do Júri do Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Macau com o documentário “Aqui Estou”, o qual foi exibido, a convite, em vários festivais de cinema na Ásia e na Europa. Posteriormente, a realizadora frequentou o curso de mestrado em produção cinematográfica na Academia de Artes Performativas de Hong Kong, tendo a sua obra “Sometimes Naive”, resultante da graduação, sido seleccionada para competir no Festival de Cinema Asiático em Hong Kong em 2013. Por sua vez, o documentário “Farming on the Wasteland” foi galardoado com a Menção Honrosa do Júri no Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Macau 2014. A sua recente obra “Sisterhood”, seleccionada para competir no 1.º Festival Internacional de Cinema de Macau, conquistou o Prémio do Público de Macau e foi nomeada para dois prémios na 36.ª edição dos Prémios Cinematográficos de Hong Kong.

 


A resistência do cinema de Macau ao mundo

28a edição | 08 2018

Tem havido um enorme aumento do número de filmes locais em Macau na última década. No entanto, uma vez que o mercado local não é suficiente para apoiar toda a indústria cinematográfica, o modo como o cinema de Macau deve desenvolver-se tem sido sempre motivo de preocupação. 


Enquanto realizadora local, vi muitos trabalhos dos meus amigos de Macau nos últimos anos. É encorajador ver aquelas curtas-metragens, longas-metragens e documentários tornarem-se populares noutras partes da Ásia e até em diferentes festivais de cinema pelo mundo. Mas estamos sempre a fazer a mesma pergunta: qual é o próximo passo para estes cineastas? 


A produção de filmes, especialmente longas-metragens, pode facilmente custar mais de um milhão. Numa indústria com um ponto de partida tão elevado, o modo como deve este grupo de novos profissionais em Macau proceder, e como encontrar financiamento apropriado, tornou-se a chave para saber se os filmes de Macau conseguirão conectar com o mundo no futuro. 


Quando se trata de milhões ou mesmo dezenas de milhões de investimento, seja em Macau ou não, é difícil aos novos realizadores consegui-los. Uma das razões é que o realizador não tem muitos trabalhos para referência, e a outra é que, quando se trata de investimento, uma boa história não é suficiente. Poucas pessoas ou empresas estão dispostas a investir em filmes em Macau. O investimento em cinema já é de alto risco e em Macau as pessoas não têm confiança nos filmes locais, pois pensam que os cineastas em Macau ainda estão “verdes”. Por isso, muitas vezes é infrutífero procurar empresas locais para falar sobre investimento em cinema. Para mudar a actual situação, julgo que os cineastas e as empresas de Macau podem trabalhar em conjunto. 


Se os investidores não têm confiança em si mesmos, é certamente responsabilidade do cineasta fazer com que os outros sintam confiança na obra em si, incluindo a acumulação de experiência e trabalho. Além do realizador, outra personagem muito importante nesta fase inicial é o produtor. Encontrar um produtor que saiba muito sobre criação, que encontre os investidores certos e que leve o filme a diferentes certames pelo mundo, já para não referir em Macau, é difícil em toda a parte. Em Macau é muito difícil procurar um produtor que ajude a encontrar o investimento certo e que lide com alguns procedimentos administrativos não criativos. As pessoas interessadas na indústria cinematográfica querem sempre realizar. Sentem que o realizador é a alma de todo o filme, mas esquecem-se de que o filme é uma criação de toda a equipa. Sem as pessoas adequadas para fazer o que é adequado, o filme não será bem-sucedido. Como ter uma equipa de sonho é a direcção de que a nova geração de realizadores está em busca. 


Além do papel dos cineastas, as empresas locais podem dar mais apoio ao desenvolvimento do cinema local. Devido às suas características culturais, Macau atrai filmes estrangeiros a serem filmados aqui todos os anos. Podemos ver isso sempre que acontece, qualquer filme que envolva estrelas de Hong Kong ou do interior da China tem imenso apoio das empresas locais ou dos hotéis. O patrocínio de quartos de hotel ou de espaços está assegurado. Infelizmente, quando produtores locais batem a essas portas, são frequentemente rejeitados. Sabemos obviamente que, quando se trata de negócios, investimento passa por ter retorno. Filmes com estrelas garantem resultados de bilheteira, por isso garante que os produtos patrocinados pelas empresas possam ser vistos pelo público. Contudo, as empresas locais não têm responsabilidade social? Além de fazerem dinheiro, podem as empresas locais ser um catalisador para a indústria de cinema local? Há muitos exemplos no exterior. Empresas naqueles locais dão prioridade ao apoio a criações artísticas locais. 


Embora não exista neste momento uma política relevante em Macau, creio que vale a pena discutir se é possível ter por base este modelo para permitir que as empresas contribuam para Macau, além de ganharem dinheiro. Quando se trata de conectar com o mundo, é mais efectivo encontrar canais de investimento e distribuição fora de Macau do que encontrar uma saída aqui. Para os cineastas que acabam de começar em Macau, é difícil estabelecer contactos. Macau organizou também muitas feiras de investimento nos últimos anos, para atrair investidores estrangeiros ou produtores que vejam os seus projectos cinematográficos. Mas como garantir que tão poucos projectos possam atrair investidores de qualidade? Por enquanto, é uma questão difícil. Por outro lado, os cineastas de Macau também podem experimentar outras feiras de investimentos de grande escala em todo o mundo. Mas ao competir com os melhores cineastas de todo o mundo, saber se as pessoas de Macau se podem destacar da multidão é uma outra questão.