Lam Sio Man

Nascida em Macau, atualmente a viver em Nova Iorque. Dedica-se a exposições independentes, à escrita e ao trabalho em educação artística. Em 2019, foi curadora da Exposição Internacional La Biennale Di Veneza, inserida nos Eventos Colaterais de Macau, China. Trabalhou no Departamento de Assuntos Culturais da cidade de Nova Iorque, no Museu dos Chineses na América e no Instituto Cultural do Governo da RAEM. É licenciada pela Universidade de Pequim em Língua Chinesa e Artes, e mestre em Administração de Artes pela Universidade de Nova Iorque.

Devemos falar sobre o mercado da arte em Macau?

19a edição | 02 2017

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Os trabalhos do artista local Ieong Man Pan foram adquiridos pela coleccionadora privada Sabrina Ho  Foto cedida por Ieong Man Pan


Por muito tempo, não houve qualquer mal-entendido entre o que é negócio e o que é arte. Na verdade, muitas actividades artísticas e culturais são tipicamente financiadas pelo governo, e raramente atraem o apoio do sector privado. No entanto, em 2016 alguns líderes do sector empresarial de Macau, principalmente do sector do jogo, foram proactivos e organizaram várias actividades artísticas e culturais de grande escala. Sabrina Ho, por exemplo, filha do magnata Stanley Ho, organizou duas exposições de arte em hotéis e uma graduation art  num só ano. Além disso, Chau Cheok Wa , outro magnata local do jogo, foi pioneiro na edição inaugural do Festival Internacional de Cinema e Cerimónia de Entrega de Prémios•Macau, dirigida pelo reputado curador cinematográfico internacional, Marco Müller, o que causou grande expectativa no sector cultural, bem como uma considerável atenção internacional.


A julgar pelo debate nas redes sociais, o sector cultural local prestou muita atenção a estes projectos, particularmente porque estes projectos irão ajudá-lo a criar plataformas para negócios e intercâmbios internacionais, como por exemplo permitir que os artistas vendam e promovam os seus trabalhos. Müller acabou por decidir demitir-se devido a conflitos de opinião com o restante comité organizador, mas uma conversa com o curador revelou o seu nível de envolvimento através do potencial que vê na nova vaga de realizadores de Macau. Isto também mostra que o projecto foi bem-sucedido em oferecer oportunidades de intercâmbio internacional aos agentes locais. No entanto, assim que o festival começou houve controvérsia no sector – apesar de o evento ter convidado cineastas internacionais e outros profissionais de cinema, houve pouco público. Isto levou a crer que o evento poderia beneficiar com uma maior campanha de publicidade. A chave para atingir o reconhecimento da indústria está, portanto, relacionada com a atenção prestada pelos organizadores aos negócios profissionais e à participação local. Em Macau, será a convergência de arte e negócios algo duradouro ou apenas um efeito de curto prazo? Isto dá certamente que pensar.


Quando olhamos para as comunidades internacionais, empresas e individualidades sempre foram patrocinadores importantes do sector artístico e cultural. Os Estados Unidos da América (EUA), por exemplo, têm um número substancial de patrocinadores deste género, com mais de 30 por cento dos rendimentos do sector sem fins lucrativos a virem deste tipo de empresas e pessoas singulares, o que é cinco vezes mais do que a verba vinda de departamentos governamentais. Do ponto de vista financeiro, este tipo de patrocínio tem normalmente uma qualquer motivação, como a isenção fiscal, a construção da imagem de uma marca ou o reconhecimento social. O que vale a pena considerar é isto: se os benefícios de um patrocínio empresarial são tão óbvios, porque é ainda necessário tanto esforço para consegui-lo? A razão pela qual empresas ou indivíduos estão tão dispostos a apoiar eventos artísticos e culturais, afinal de contas, requer mais incentivos do que apenas a fama ou uma recompensa financeira.


Recentemente, o proeminente gigante da banca e do sector financeiro dos EUA, J.P. Morgan, adquiriu uma vasta colecção de arte. No século XX, Morgan foi nomeado presidente do Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque. A sua incessante promoção de um maior apoio empresarial às artes teve um impacto reverberante na indústria de arte pública dos EUA. Quando olhamos para a história de J.P. Morgan, podemos perceber que ele fez uma licenciatura em História das Belas-Artes, fase em que visitou galerias de arte, museus e relíquias artísticas. Como resultado do seu conhecimento sobre arte e cultura, Morgan tornou-se conhecido como um dos importantes patronos e defensores das artes.


Como podemos ver, a motivação para a participação de empresas no sector artístico e cultural pode estar relacionada com certas agendas, como o conhecimento que os patronos têm sobre arte e cultura, ou as relações estabelecidas entre as empresas e determinados líderes artísticos e culturais. Um paralelo semelhante pode ser encontrado nos patronos das artes em Macau. Até hoje, quando discutem o patrocínio de empresas ou pessoas singulares para determinada actividade, as organizações dos EUA preocupam-se com que haja um entendimento mútuo entre as partes. Isto releva a dimensão social da convergência entre artes e negócios. No caso de Macau, esta convergência ainda está na sua fase inicial. Seja como for, este diálogo mútuo entre entidades artísticas e culturais e empresas pode porventura encorajar um sector mais sustentável e diversificado.