Lam Sio Man

Nascida em Macau, atualmente a viver em Nova Iorque. Dedica-se a exposições independentes, à escrita e ao trabalho em educação artística. Em 2019, foi curadora da Exposição Internacional La Biennale Di Veneza, inserida nos Eventos Colaterais de Macau, China. Trabalhou no Departamento de Assuntos Culturais da cidade de Nova Iorque, no Museu dos Chineses na América e no Instituto Cultural do Governo da RAEM. É licenciada pela Universidade de Pequim em Língua Chinesa e Artes, e mestre em Administração de Artes pela Universidade de Nova Iorque.

Rangoli: algumas reflexões sobre a oficina de arte de Tattfoo Tan

36a edição | 12 2019

No outono, o Conselho Cultural da Baixa Manhattan abriu um novo centro de arte na Governor Island e convidou o famoso artista Tattfoo Tan para realizar uma oficina de arte num fim-de-semana. Há muito que eu esperava a oportunidade de conhecer melhor Tan, pois os seus trabalhos estão intimamente relacionados com o meio ambiente e a agenda da comunidade.

A oficina teve como tema Curar a Humanidade a fim de curar a Terra e realizou-se numa sala pequena mas bem organizada. A primeira sessão em que participámos foi sobre rangoli. Rangoli é uma arte folclórica tradicional da Índia, geralmente feita com farinha branca ou colorida. Segundo Tan, as pessoas no sul da Índia fazem rangoli à frente das suas casas todas as manhãs. Os pássaros e os cães vadios comem a farinha se calham de passar pelos rangoli. Os indianos acreditam que os rangolis são oferendas de Deus e da natureza. Eles também acreditam que os rangolis reflectem o funcionamento da natureza, uma vez que desaparecem, como qualquer outra coisa na natureza.

Para nos ajudar a aprender a fazer rangolis, Tan estabeleceu um padrão no chão, usando pequenas pedras que nos guiaram para podermos formar um rangoli. Ele preparou também uma imagem de um padrão mandala que mostrava as várias fases do rangoli, desconstruindo o padrão em várias etapas simples. Isto permitiu-nos aprender a desenhar o padrão. Em termos de materiais, ele trouxe algumas sementes de grãos plantadas por pessoas desde tempos antigos para substituir a farinha. Não pude deixar de cheirar as sementes. Cheirei a natureza, juntamente com a nossa imaginação de civilização e história.

Depois que terminarmos o rangoli, Tan pediu que nos sentássemos à sua volta e participássemos de actividades como meditação. Enquanto meditávamos, imaginávamo-nos como árvores. Também lemos poemas sobre a mudança de estações, a natureza e a morte. Percebi que estas actividades eram como rituais antigos. O artista agia como um feiticeiro e nós éramos membros de uma tribo antiga. O rangoli era o nosso totem. O que realmente me surpreendeu foi o facto de materiais comuns, vozes e acções poderem inspirar a nossa imaginação e criatividade. A experiência permitiu-nos mergulhar no modo como as pessoas se relacionam e na estreita conexão entre os seres humanos e a natureza.

Tan tenta criar uma oportunidade para as pessoas experienciarem a conexão entre os seres humanos e o universo através destas práticas. Ele tentou ajudar-nos a construir uma conexão com o ambiente à nossa volta e aumentar a nossa empatia. Ele acredita que somente quando as pessoas tomarem conhecimento da sua conexão com a natureza, poderão encontrar a cura para tratar dos males do ambiente. Isto corresponde ao tema da oficina: curar a humanidade para curar a terra. Na verdade, Tan estudou muitas tradições culturais diferentes em todo o mundo, escreveu sobre práticas semelhantes e editou um livro chamado New Earth Resiliency Training Module. Através deste livro, ele espera envolver mais pessoas no processo de reparação da humanidade e da Terra.

As práticas artísticas de Tattfoo Tan ajudaram-nos a vislumbrar outra possibilidade para a arte moderna, que reconsidera a relação entre arte e vida, bem como as relações sociais. A criação de arte não produz apenas peças de arte para serem exibidas em museus e galerias. Pode também ser educação e promoção social. As práticas de Tan activam rituais e valores antigos sobre a natureza e a vida. Ele faz sempre oficinas nas comunidades como se estivesse a fazer um rangoli. Tan dedica os seus esforços a esta actividade, assim como os rangolis, contribuindo para a natureza.

Material de referência: Site de Tattfoo Tan: www.tattfoo.com