Wong Cheng Pou

Experiente professor de arte e colunista, Wong Cheng Pou viveu em Tóquio nos anos 80 e em Londres na década de 90. Tem especial interesse pelas indústrias criativas.

Um mundo maior

3a edição | 03 2015

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Foto cedida por Wong Cheng-pou


O sol nunca brilha duas vezes no mesmo lugar.


 O crescimento das receitas do jogo abranda, uma empresa adia a entrada na bolsa de Hong Kong e o mercado de propriedades de luxo de Macau começa a arrefecer. O que é que aquelas empresas que estão habituadas a ganhar dinheiro de forma rápida podem fazer para diversificar a sua actividade? Tudo depende da capacidade de adaptação. No mínimo, têm de pensar rápido e aproveitar a onda de mudança. À medida que a “diversificação” se vai tornando na palavra da moda, há cada vez mais pessoas a discutir como fazer desse conceito realidade e encontrar novos caminhos para a economia de Macau.


De um dia para o outro, os meios de comunicação social começaram a utilizar o termo “década dourada”, que em cantonês se assemelha ao ditado “a água avança em direcção à jaula dos porcos”. Claro que uma jaula de porcos tem aberturas, o que pode significar que a água, ou a riqueza, pode desaparecer tão rapidamente quanto aparece. De facto, Macau está praticamente afundada em riqueza, fruto de centenas de milhares de milhões de patacas arrecadadas anualmente só com as receitas do jogo. Mas, mesmo que os dias de rápido crescimento façam parte do passado, se o governo se juntar aos que têm vontade de trabalhar, ainda poderemos viver confortavelmente por muitos mais anos. Mas por quantos anos? Pensemos nisto.


Num primeiro momento, o número de salas de jogo irá contrariar a longa tendência de crescimento para começar a diminuir. Alguns dos que estão habitados a mudar de carro desportivo várias vezes ao ano, terão de parar de o fazer. Os despedimentos vão acabar por aumentar quando o número de trabalhadores superar o de turistas. E, quem sabe, as pessoas até podem começar a vender as suas propriedades de luxo – um presságio do colapso do mercado imobiliário. Depois, aqueles que só sabem baralhar cartas ou trocar fichas de jogo vão acabar no desemprego. Estas pessoas beneficiaram muito do boom do mercado imobiliário de Macau e, quando estiverem endividadas, vão começar a marcar reuniões com os bancos para discutir a forma de compensar tudo o que perderam.


 Qualquer cenário futuro requer imaginação. E, se quer abraçar um futuro com segurança, precisa de recorrer à lógica e fazer uma série de análises económicas. Pelo menos pode usar o bom-senso para perceber qual é a situação que tem diante dos seus olhos. Mas, mesmo sabendo que agora é a hora de começar a mudar a trajetória de vida, o que é que pensa  fazer em relação a isso? Tem a confiança necessária para enfrentar os novos desafios?


 Caso se sinta perdido e precise de alguma orientação, proponho que se inspire no exemplo do designer sul-coreano Ahn Sang-soo. Aos 60 anos, Ahn deixou de lado a estabilidade de uma vida como professor universitário e abriu uma escola de design em Paju Bookcity, nos arredores de Seul. Começada do zero,  a característica que melhor definia este projecto era “coragem”. Para entrar nesta escola, não é necessário fazer exames, bastam alguns dias de  entrevistas. Aqui, os candidatos dizem livremente o que pensam sobre determinados assuntos. Se não sabe o que quer fazer, proponho uma visita a este estabelecimento de ensino. Além do equipamento necessário nas salas de aula, a escola tem grandes espaços vazios. Os estudantes vivem nas suas próprias criações: projectam e produzem as suas mobílias e obras de arte. No caso de se sentirem encurralados, os professores estão lá para os ajudar a reflectir sobre todo o processo.