Lam Sio Man

Nascida em Macau, atualmente a viver em Nova Iorque. Dedica-se a exposições independentes, à escrita e ao trabalho em educação artística. Em 2019, foi curadora da Exposição Internacional La Biennale Di Veneza, inserida nos Eventos Colaterais de Macau, China. Trabalhou no Departamento de Assuntos Culturais da cidade de Nova Iorque, no Museu dos Chineses na América e no Instituto Cultural do Governo da RAEM. É licenciada pela Universidade de Pequim em Língua Chinesa e Artes, e mestre em Administração de Artes pela Universidade de Nova Iorque.

Design orientado para o futuro: design especulativo e inovação social

28a edição | 08 2018

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Imagem: O Group Otolith usou trabalhos de colagem para atravessar o passado, presente e futuro da educação na Índia. Espaço da exposição “disappearing future”, fotografada pela autora.


Para pessoas familiarizadas com investimentos financeiros, “especulação” não deve ser um termo particularmente desconhecido. É uma previsão de futuro que retira proveito dos mercados voláteis. A palavra tem um significado de “ver” na sua raiz latina, mas ao contrário daquilo que é do senso comum, está muito relacionada com o futuro. Na verdade, o modo como olhamos o futuro normalmente influencia o caminho do nosso desenvolvimento futuro. Devido a esta orientação futura, a “especulação” parece ter ganho mais vivacidade nos campos das humanidades e sociais nos últimos anos. 


O meu primeiro encontro com o termo “especulação” foi ao estudar as características e os valores de pequenas instituições culturais nos EUA. O historiador de Arte norte-americano David Joselit escreveu o artigo In Praise of Small em 2016, que fala sobre o facto de uma pequena instituição artística ter um modo operacional relativamente livre, e de poder ter mais possibilidades de “especular” no futuro. Através de actividades e trabalhos experimentais, pode desenvolver o novo modo de sistema operativo. Na edição de Abril deste ano, apresentei a New York Bruce High Quality Foundation University. Os seus métodos educativos experimentais revelam novas possibilidades de ensino no futuro, o que é um exemplo dessa “especulação”. 


Recentemente, deparei-me novamente com este conceito, associado ao design. Uma nova categoria de design foi proposta pelos designers britânicos Anthony Dunne e Fiona Raby, chamada “design especulativo”. Eles tentam promover um novo conceito de design que reflecte o futuro imaginado através do design, não importa se num novo produto ou numa forma social ideal. Este tipo de design normalmente propõe primeiro o “tente imaginar...”. Depois, através do filme e da narração virtual, deixa o público antecipar o futuro. Dunne e Raby ensinam actualmente na Parsons School of Design, na The New School. Este curso foi especialmente ensinado por eles e os livros relacionados foram publicados. 


Estou realmente interessada na prática da “especulação” porque vi recentemente um documentário chamado O Horizon. É um trabalho novo, encomendado pelo Rubin Museum of Art de Nova Iorque e uma unidade da exposição “disappearing future”. Este filme foi produzido pelo The Otolith Group, de Londres. Este grupo tornou-se famoso no campo da arte contemporânea nos últimos anos. Combina som, imagem e arquivos históricos para uma criação baseada na investigação, e discute várias questões sociais. O Horizon regista a universidade Visva Bharati, em Bangladesh ocidental, fundada pela principal figura literária indiana, Tagore. Tagore fundou a escola em 1912 numa aldeia distante do centro da cidade, onde praticou uma abordagem de ensino diferente da ocidental, regressando à cultura nativa e ao ambiente natural. Sob as lentes do grupo Otolith, professores e aluno sentam-se em volta de uma árvore e debatem. A música indiana, a dança, pinturas e esculturas são o legado da sala de aula, todas demonstrando a possibilidade de integrar a visão do mundo oriental na educação contemporânea. 


Mas como explica a apresentação da exposição, a mostra tenta “especular” o futuro. Se pesquisarmos a escola na Internet, bem como a filosofia educative futurista de Tagore, não parece que encontremos qualquer prova da sua importância na sociedade indiana hoje em dia. Esta criação do grupo Otolith é um pouco como uma pepita de ouro encontrada num mar de areia de história, dando às ideias de Tagore de há cem anos um vislumbre do espírito contemporâneo. De facto, este filme não reflecte a verdadeira imagem da educação contemporânea na Índia, mas é também suficiente para deixar as pessoas “ver” as possibilidades alternativas de educação no futuro. Na minha opinião, é uma espécie de criação “orientada para o futuro”. 


Não sei se “design especulativo” é um pouco como o conceito da garrafa velha de vinho novo. Afinal, a prática de conceber o futuro ao criar está em toda a parte. Contudo, enquanto método, a “especulação” põe ênfase na capacidade de os criadores e praticantes de cultura e arte conseguirem “ver” o futuro e encorajarem as pessoas a avançar para essa sociedade futura.