Lam Fai

Viaja pelo mundo, é colunista, autor do livro Travel Between Hope and Pain, co-fundador e editor-chefe do website IronShoe Travel Channel.


IronShoe: a nossa história

7a edição | 07 2015

É oficial: o papel já não se usa nas viagens.


Quando era um jovem viajante, tinha sempre na minha mochila alguns tipos de artigos de papel: algo prático, geralmente o Lonely Planet; um bloco de notas para apontar momentos das minhas viagens; mapas que acumulava ao longo da viagem, cuidadosamente dobrados depois de usados; um dicionário, de preferência bilingue, e um ou dois registos de viagem escritos por outras pessoas para ler cuidadosamente durante a minha jornada.


Hoje temos computadores, telemóveis e a internet que, colectivamente, vieram substituir os fragmentos de papel nas nossas mochilas. Em vez disso, transportamos gadgets e carregadores, e substituímos os guias de papel pelo TripAdvisor, WikiTravel, mapas e tradutor do Google, Facebook e blogues. A internet tornou-se na nossa mais importante companheira de viagem. Também gosto de ler diferentes websites de viagem, páginas de Facebook e blogues. Alguns são puramente informativos, outros são compilações de relatos de viagem que consigo ler e voltar a ler, porque não satisfazem apenas um único objectivo prático. Mesmo que não viaje para um sítio em particular, tenho curiosidade em ler sobre a experiência e as ideias de quem escreve.


Durante os dois anos em que estive a viajar pelo mundo, também criei uma página no Facebook, onde partilhava as minhas experiências com o mundo. Mas à medida que as regras do Facebook começaram a mudar, a partilha tornou-se cada vez mais difícil (por exemplo, se eu não quisesse pagar por um post patrocinado). Comecei a pensar se não haveria uma plataforma onde eu pudesse colocar alguns dos meus escritos, fotos e vídeos para partilhar com um tipo de público mais apropriado.


Então tive a ideia de criar o website IronShoe Travel Channel.


Não há certamente falta de informação sobre viagens na internet, seja em jornais, revistas ou meios de comunicação online. Mas no universo de língua chinesa não existem muitas plataformas sobre viagens com conteúdo de qualidade. O problema não é a quantidade, mas a qualidade—e como podemos nós definir qualidade? A verdade é que as histórias mais bem escritas nem sempre são aquelas com maior visibilidade e mais clicks. Na realidade, às vezes dá-se mesmo o efeito contrário—a seriedade do conteúdo afasta os leitores. Às vezes, uma manchete que chame a atenção é mais importante do que o conteúdo. De facto, o preciosismo não pode ser o mesmo quando se trata de meios online; um escritor tem sempre de considerar quais são as preferências do leitor e como atrair mais público. Mas claro que não queremos chegar ao outro extremo e simplesmente criar uma página do género “Content Farm”, cheia de artigos sensacionalistas, com poucas ideias e sem profundidade.


Ainda estamos a tentar encontrar um equilíbrio. O caminho que escolhemos não é fácil, mas tem sido uma viagem agradável. Ao criar esta plataforma, tivemos oportunidade de conhecer diferentes tipos de pessoas, como viajantes experientes, empresários que trabalham nesta área, pessoas que estavam prestes a embarcar em viagens ambiciosas e outras que tentavam perceber se poderiam ou não aventurar-se na viagem dos seus sonhos. Tentar estabelecer uma plataforma onde todas estas pessoas possam interagir e partilhar é um projecto extremamente interessante.


Esperamos conseguir apresentar as diferentes faces de uma viagem através da nossa plataforma, que é mais do que uma versão online daqueles guias de viagem pomposos que se encontram em todo o lado e que simplesmente fomentam o consumismo. Viajar é um acto criativo, um desafio, uma reflexão, uma ambição e muitas outras coisas. Viajar é algo que nunca é previsível e que nos surpreende quando menos estamos à espera—tal como a própria vida.