Tracy Choi

Realizadora. Ganhou em 2012 o Prémio do Júri do Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Macau com o documentário “Aqui Estou”, o qual foi exibido, a convite, em vários festivais de cinema na Ásia e na Europa. Posteriormente, a realizadora frequentou o curso de mestrado em produção cinematográfica na Academia de Artes Performativas de Hong Kong, tendo a sua obra “Sometimes Naive”, resultante da graduação, sido seleccionada para competir no Festival de Cinema Asiático em Hong Kong em 2013. Por sua vez, o documentário “Farming on the Wasteland” foi galardoado com a Menção Honrosa do Júri no Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Macau 2014. A sua recente obra “Sisterhood”, seleccionada para competir no 1.º Festival Internacional de Cinema de Macau, conquistou o Prémio do Público de Macau e foi nomeada para dois prémios na 36.ª edição dos Prémios Cinematográficos de Hong Kong.

 


Uma lacuna na produção cinematográfica de Macau

27a edição | 06 2018

O sucesso de um filme não é, definitivamente, um contributo pessoal do realizador. Um filme é um trabalho colectivo. Apenas quando pessoas de diferentes departamentos trabalham em conjunto, pode produzir-se uma boa obra. 


Nos anos 1990, quase ninguém trabalhava a tempo inteiro em cinema e televisão em Macau, as pessoas usavam apenas o seu tempo livre para produzir filmes. Por isso, muitas funções diferentes podiam ser desempenhadas apenas por duas ou três pessoas. Ou os filmes podiam fazer-se durante as férias, quando alguém estivesse disponível. Hoje em dia, cada vez mais pessoas estão a dedicar-se à indústria do cinema e televisão. E cada vez mais profissionais decidem deixar os seus empregos a tempo inteiro e trabalhar como freelancer. O número de talentos cinematográficos está a aumentar mas alguns cargos estão ainda por preencher, o que faz com que sejam precisos muito mais assistentes para a produção de um filme, levando ao aumento do orçamento e dos custos das produções locais. 


O principal problema é a falta de actores. Actores são escassos em Macau. Obviamente, isto acontece porque o número de trabalhos para televisão e de produções cinematográficas é insuficiente para garantir a sua subsistência. Por isso, não podem ser actores a tempo inteiro. E, quando há um filme para rodar, não podem participar devido ao conflito de horários, o que se transforma num ciclo vicioso com o passar do tempo. Outra razão pode ser o facto de, nos filmes com algum financiamento, os investidores esperarem usar algumas caras conhecidas para apoiar a obra e garantir êxito de bilheteira. Todavia, quando toca a promover filmes de Macau, não é tomada qualquer medida adequada para promover os actores locais no território ou no exterior, o que faz com que os actores não tenham saída. Como em muitos tipos de artes performativas, não se pode ser um mestre da representação se apenas se fica a ler guião, a ler livros e a ver filmes em casa. É inegável que a autodisciplina de um actor é absolutamente importante, mas a experiência propriamente dita é igualmente relevante. Através do trabalho com diferentes realizadores e equipas de rodagem, os actores podem crescer mais rapidamente. 


Na maior parte das vezes, a aura dos filmes é atribuída de um modo distorcido aos actores e ao realizador, com os outros profissionais a serem negligenciados. Muitos jovens que desejam entrar nesta indústria nunca consideram qualquer outra ocupação a não ser as duas mencionadas acima. Directores artísticos, de som, assistentes de realização─é sempre um problema encontrar estes profissionais quando se trabalha numa produção em Macau. Estes cargos podem apenas ser desempenhados por umas poucas pessoas, e quando elas têm outros trabalhos em mãos a única coisa que a equipa pode fazer é encontrar ajuda em regiões vizinhas. Na verdade, o director artístico controla o tom e o estilo do filme. A textura da imagem do filme é criada pelo director artístico, o director de fotografia e a equipa de iluminação. Certa vez ouvi que algumas equipas de produção consideram que o trabalho do operador de som é apenas pôr o microfone ali, que não precisa de ser profissional. O problema é que demasiadas pessoas não se preocupam com a gravação de som. Se o som gravado ao vivo não tiver qualidade, será preciso muito tempo para corrigi-lo e a qualidade pode mesmo assim não estar garantida. Na verdade, o director de som deve participar no processo desde a repérage, para poder avaliar se as localizações apresentam problemas sérios para a gravação de som. Antes de filmar, ele deve confirmar o design de som com o realizador. Depois dirige-se aos locais escolhidos para gravar o som directo e os sons ambientes. Nada disto pode ser omitido. O trabalho de assistente de realização deve ser o mais subestimado em Macau. O território não desenvolveu a indústria de cinema, por isso as pessoas fazem os seus filmes com recurso a várias técnicas. Este tipo de filme tem as suas vantagens, mas o que eu constatei foi uma lacuna no mercado. Devido à falta de quem saiba fazer a gestão profissional de talentos, as produções de baixo orçamento acabam sempre por gastar dinheiro no sítio errado e por organizar-se de forma inapropriada. Para mim, a capacidade de gestão deve ser maior do que a veia criativa, no que toca ao assistente de realização. Se é certo que as audições e o trato com os actores requerem criatividade e talento, a função mais importante de um assistente de realização é fazer com que o filme decorra suavemente, para que o realizador possa concentrar-se nele. 


Felizmente, quando filmo posso encontrar sempre equipas óptimas e profissionais. Toda a gente trabalha arduamente para terminar a produção do filme. Espero que, num futuro próximo, todas as obras em Macau possam ter equipas melhores, que apoiem toda a estrutura do filme.