Cheong Sio Pang

Cheong vive em Pequim, trabalha em investigação académica e gosta de escutar música clássica. As suas publicações incluem An Oral History of the Concert Band in Macao. Ele é também o autor de Macau 2014 – Livro Musical do Ano e Macau 2015 – Livro Musical do Ano. Cheong adora aprender.


Os recintos das indústrias criativas em Cantão

15a edição | 06 2016

07_張少鵬_01.jpg

Foto cedida por Redtory

Há vários meses participei numa viagem de intercâmbio de indústrias culturais, organizada por um grupo de jovens locais, e tive oportunidade de visitar alguns locais icónicos de Guangzhou, incluindo o Guangzhou Leafun Culture Science and Technology Co. Ltd. (Leafun), o distrito artístico Redtory e a Yi-Gather Community. O nosso grupo pôde conhecer Lin Zhuanghao, representante da Leafun, e de utilizar a sala de 100 lugares desenvolvida pela sua marca de sistemas acústicos Lemuse. A tecnologia digital é aplicada para alterar a forma tradicional como o som é transmitido. Isto permite que uma única sala possa criar diferentes efeitos acústicos.


Em vez de utilizar absorventes sonoros para conseguir um efeito acústico perfeito, a Lemuse tem os seus próprios pontos fortes. Por exemplo, o Centro Nacional de Artes Performativas em Pequim é composto por três salas que disponibilizam espaço e infraestruturas acústicas que satisfazem diferentes necessidades. Temos a sala de ópera, a sala de concertos e o teatro. A Lemuse, no entanto, é capaz de alterar o efeito acústico das salas, aplicando tecnologias digitais. Esta solução não só responde a diferentes necessidades acústicas, como é competitiva em termos de custos. Eu, porém, tenho dúvidas sobre a utilização desta tecnologia quando se trata de música clássica. Afinal, o público espera efeitos verdadeiros e ao vivo. Ouvir CDs em casa é provavelmente melhor do que ouvir o som produzido por uma mesa de mistura digital.


O tamanho do distrito artístico Redtory, em Cantão, não é provavelmente comparável ao do 798 em Pequim, mas as lojas do Redtory, não importa com que que design ou com que formato, estão impregnadas de estilo Linglan, tradicional da província de Guangdong – elaborado, duradouro, minimal e requintado. Os preços dos produtos são obviamente superiores aos que o comum habitante de Guangzhou pode pagar. Não há, no entanto, nenhum valor cobrado para entrar no Redtory. Vi bastantes turistas e locais passearem-se por aquela zona. Se Macau quer tornar-se num destino de turismo e lazer de nível mundial, e promover as indústrias culturais e criativas com as suas políticas, o modo de funcionamento do Redtory é uma muito boa referência. Contudo, o que faz falta a Macau é uma área que tenha menos restrições de uso, que seja económica e que permita a estas indústrias agruparem-se. O Bairro de São Lázaro é demasiado pequeno e por isso é difícil que se torne muito conhecido. Este bairro não oferece as condições para a concentração necessária ao crescimento destas indústrias. A falta de mão-de-obra também impede estas indústrias de se desenvolverem. Um espaço em que seja possível concentrarem-se permitirá que as indústrias proliferem e que melhore o reconhecimento da marca, para que possa então ser finalmente construído um verdadeiro distrito para as indústrias criativas. Infelizmente, neste momento o Fundo das Indústrias Criativas apenas atribui subsídios para a renovação de edifícios, e para grupos artísticos e pessoas singulares. O modo de funcionamento assemelha-se à relação entre um gestor e os seus arrendatários. Os arrendatários devem ter oportunidades para trocar ideias, mas os senhorios tendem a lucrar com o arrendamento ou a cedência de espaços. O verdadeiro propósito não é atingido mas, antes, transforma-se numa ferramenta para gerar lucros.


A Yi-Gather Community está localizada na Zhongshan Qilu, no distrito de Liwan. É um bairro histórico de Guangzhou e tem ainda muitas casas tradicionais. A Yi-Gather está num edifício tradicional de estilo cantonês, de três pisos. Os membros da comunidade são bastante próximos uns dos outros e trocam ideias livremente. Debates e oficinas sobre criatividade são organizados regularmente, para que todos possam melhoras as suas competências de design. Achei interessante que algumas pessoas criticassem o facto de os preços destas oficinas serem demasiado baixos. No entanto, a maior fonte de rendimentos não vem da cedência de sub-unidades do edifício. Em vez disso, os artistas juntam-se para trabalhar em projectos comissionados (normalmente comissionados por empresas) e fazem dinheiro com eles. Além disso, a comunidade recebe eventos e os lucros são utilizados como receitas para gastos correntes. De acordo com o representante da Yi-Gather, os lucros são consideráveis. Em comparação com a Yi-Gather, as áreas criativas de Macau têm fraca visão no que toca à eficácia. Neste momento, esses lugares apenas contam com o subaluguer de espaços para gerar lucros como forma de funcionamento. Quando toca a alocar recursos, o único factor que o inquilino considera é quanto terá de pagar para arrendar o espaço, e por isso os recintos criativos podem não ser considerados como opção. Além disso, do ponto de vista do gestor de um destes recintos, subarrendar espaços e receber dinheiro em retorno não deve ser a função mais importante que um espaço criativo deve ter. Olhar para aquilo por que Guangzhou já passou, poderá ser uma boa ideia que os gestores destes espaços criem oportunidades de trabalho para os artistas. Ao fazerem isto, não só os profissionais destas indústrias terão um maior incentivo para se instalarem nesses recintos, como a produtividade desses espaços sairá reforçada. É uma situação vantajosa para todos.