Joe Tang

Vencedor do Prémio Literário de Macau e o Prémio de Novela de Macau, Joe Tang é escritor e crítico de arte. Assinou vários romances, incluindo The Floating City e O Assassino, traduzidos para Inglês e Português. Publicou também peças de teatro, entre elas Words from Thoughts, Philosopher’s Stone, Journey to the West, Rock Lion, Magical Monkey e The Empress and the Legendary Heroes.


A criatividade está no dia-a-dia

13a edição | 02 2016

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“Criatividade” é provavelmente uma das palavras-chave mais usadas e procuradas em Macau. É como se víssemos essa palavra em todo lado, seja nos meios de comunicação ou em actividades organizadas por diferentes associações. A maior parte das pessoas, em que me incluo, poderão ter uma questão em mente: o que é afinal a criatividade? O que é que ela inclui? E o que é que não inclui?


Tenho uma experiência interessante sobre a minha visita a Taiwan há não muito tempo que gostava de partilhar, já que me ajudou a reflectir sobre isto. Eu e a minha família visitámos Alishan. Quando a viagem estava quase no fim, o anfitrião do local onde estávamos a ficar arranjou-nos um motorista. No regresso, também fomos visitando alguns lugares. O tempo estava escuro e o passeio por um caminho rural e sinuoso deixou-nos cansados. A meio da viagem, o condutor levou-nos a um café muito especial. O estabelecimento está situado na encosta de uma colina e tem uma zona de esplanada ao ar livre. Do outro lado fica uma plantação de café detida pelo mesmo dono. Dentro do café, há várias placas nas paredes e no chão. São placas recebidas por uma cooperativa de agricultores locais e que distinguem o vencedor de uma competição. Ficámos a saber que o café é propriedade de um casal de irmãos pertencentes à tribo Tsou e tivemos oportunidade de falar com eles. Eles plantam o café, torram os grãos e fornecem o produto a diferentes retalhistas. Além disso, gerem o estabelecimento que nós visitámos. Quando chegámos, o irmão estava às voltas com o reposicionamento da marca e da identidade empresarial do projecto, desde as embalagens aos aventais dos funcionários e aos menus. “Temos de encontrar elementos que se encaixem na nossa cultura”, disse-nos. O irmão começou por pesquisar a cultura da sua própria tribo e incorporou elementos dos Tsou na sua marca. Desde a utilização de cores até ao design do logotipo que se assemelha a um totem, foram construindo gradualmente o carácter da marca e criaram um estilo único.


Apesar de este café ter sido apenas um lugar de paragem na nossa viagem, inspirou-me imenso. Fez-me acreditar que a criatividade está no dia-a-dia. As placas e prémios que aqueles irmãos receberam provam que gerem bem o seu negócio, seja na plantação, na torrefacção ou na venda. Têm muitas encomendas – no dia da nossa visita, o irmão disse-nos que o estoque de café estava esgotado e que o pouco que restava era para consumo naquele estabelecimento, não havia mais para venda – não é difícil ver que, quando um produto (ou um serviço) entra no mercado, o próximo passo é conseguir distingui-lo dos seus concorrentes. O que é necessário é saber utilizar o poder da cultura e da criatividade.


Acredito que a “criatividade” não é uma coisa sem sentido. A verdadeira criatividade tem de estar enraizada nas nossas vidas, para poder florescer. Seja um café, um restaurante, uma padaria ou uma loja de sobremesas, todas podem ser criativas. O pré-requisito é que o produto ou serviço tenha uma qualidade excepcional, seja qual for a indústria de que estejamos a falar. Um excelente produto ou serviço é o requisito primordial e a criatividade acrescenta-lhe valor. Produtos e criatividade podem andar lado a lado e crescer juntos. Logo, o mais importante da criatividade é a atitude e não o formato: tanto o produtor como o consumidor querem boa qualidade de vida e coexistir num ambiente em que as pessoas se respeitam mutuamente, onde sejam capazes de desafiar a autoridade e de pensar de modo diferente. Com esta atitude, a nossa simples vida de todos os dias é uma fonte de criatividade.