Ho Ka Cheng

Supervisor da Associação Audio- Visual CUT, Ho é um dos realizadores do projecto Macau Stories 1 e esteve também envolvido no Macau Stories 2 – Love in the City e no Macau Stories 3 – City Maze. Macau Stories 2 – Love in the City recebeu uma menção especial no festival português de cinema Avanca e foi mostrado nos festivais de Tóquio e Osaka.

O cinema não é um sonho: uma crítica do documentário Do It for Yourself

7a edição | 07 2015

O Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Macau (MIFVF), organizado pelo Centro Cultural de Macau, realizou-se em Maio de 2015. Entre os 40 filmes de diferentes estilos e géneros, provenientes de Macau e de todo o mundo, encontrava-se Do it for Yourself (Realizador: Benz Wong/ 45 minutos), um documentário que foi apresentado durante o evento “Macau Indies” do MIFVF.


O filme conta a história de Chi Kin Wong, um enérgico recém-licenciado em Design 3D por uma universidade de Taiwan. Após terminar a licenciatura, o jovem não encontra uma forma de mostrar o que vale e começa a trabalhar como empregado de uma drogaria. Quando a oportunidade surge, Wong participa na produção do filme Macau Stories 3, iniciando a sua carreira na área da produção de vídeo. O documentário também inclui entrevistas a cineastas freelancer, fotógrafos de cena, realizadores, produtores, fotógrafos, actores, à mãe de Wong, entre outros, de forma a explorar as diferentes perspectivas do trabalho dos cineastas.


Apesar de Wong ter estudado Design 3D, não se importa de aceitar outros cargos quando trabalha num projecto cinematográfico, tais como assistente de produção, assistente de fotografia, assistente técnico de iluminação, designer de adereços ou dar mesmo assistência na mudança do equipamento nos locais de filmagem. O público pode não se aperceber de todo o trabalho que está por trás das telas glamorosas mas, de facto, cada etapa da produção cinematográfica é física e mentalmente exigente. Longas horas de trabalho e ainda mais horas de espera no local de filmagens. Não é de surpreender que uma pessoa se questione sobre a decisão de escolher uma carreira como esta, já que na maior parte do tempo está a carregar o equipamento em vez de estar a ser criativo. Na realidade, trabalhar em cinema é como ter qualquer outra profissão que exija muito trabalho, experiência e conhecimento.


Os membros do Free Dream, um estúdio de produção sediado em Macau, também aparecem neste documentário. O estúdio foi criado por um grupo de jovens realizadores talentosos, que partilham o mesmo sonho. As tarefas de cada membro mudam à medida que iniciam um novo projecto, para que assim possam trabalhar de perto uns com os outros e aprendam com os diferentes cargos. Isto traz-me à memória o movimento New Wave de Taiwan, que ocorreu nos anos 1980, em que todos na indústria se ajudavam mutuamente em busca dos seus sonhos. Todos nós esperamos que a indústria cinematográfica em Macau floresça. Também é importante que as pessoas possam competir num ambiente justo e amistoso.


Fiquei particularmente sensibilizado com a entrevista da mãe de Wong. Por um lado, ela dá um grande apoio à caminhada do filho e, por outro, está preocupada se Wong conseguirá viver do cinema. Ela deseja que o filho encontre um emprego estável caso a carreira no mundo do cinema termine. Wong também está preocupado por não ter dinheiro suficiente para casar e comprar um apartamento.


Os tempos mudaram e tudo o resto também. Hoje em dia é mais fácil editar um filme do que encontrar um lugar para estacionar o carro; é mais fácil gravar ou misturar uma música do que ser contratado como funcionário público; é mais fácil fazer um filme do que comprar um apartamento. Às vezes sinto que o cinema já não é um sonho. Viver a vida é que é um sonho.