Johnny Tam

Realizador teatral e director artístico do Grupo de Teatro Experimental de Pequena Cidade. Viveu e trabalhou em Xangai e Berlim. As obras recentes incluem O Sr.Shi e o Seu Amante Lungs.


O teatro pós pandemia—destruição ou inovação?

40a edição | 09 2020

As luzes, finalmente, apagaram-se na Broadway, nos EUA.


Carregado do sonho de inumeráveis artistas, sob a sombra do novo coronavírus de 2019 (COVID-19), esse palco obrigou-se a anunciar que não haveria nenhum espectáculo até ao fim de 2020; o famoso Teatro do Globo de Shakespeare, na Inglaterra, também está a enfrentar o encerramento na situação actual de pandemia; a cadeia ecológica dos teatros em todo o mundo sofreu um duro golpe, inclusive a produção deste autor, que teria sido executada originalmente em Paris e no Japão, neste ano, e foi cancelada por causa da pandemia. Tudo isso nos dá um alarme muito evidente: o ser humano está a ponto de entrar na era pós-pandémica, a qual nos forçará a acelerar a nossa marcha revolucionária para a destruição e inovação futurista na economia, vida, cultura e turismo.


Antes da pandemia, apesar de ter sido sempre desafiada pelas artes veiculadas nos novos media, como o cinema e as plataformas online, a indústria do teatro era capaz de se desenvolver de forma equilibrada e saudável entre a tradição e a inovação; o surgimento da pandemia tocou o sinal de alarme. O musical da Broadway Hamilton: An American Musical, que se tinha tornado globalmente popular há pouco, foi recentemente exibido na plaforma online Disney Plus. Pensava-se que esse espectáculo, muitíssimo procurado ao vivo, não seria lançado em formato de vídeo tão cedo no entanto, na impossibilidade de prever quando a pandemia terminaria para que o espectáculo pudesse retornar aos palcos, os produtores da Broadway viram-se “obrigados” a ajudar a companhia a ultrapassar o atual período de dificuldade através dos rendimentos do volume de cliques. Os produtores da indústria e os investidores apenas podem confrontar-se com os problemas por que passa a indústria do teatro durante a crise e esperar que os directores e curadores de exposições que têm falado em inovação ofereçam à indústria uma resposta persuasiva e subversiva neste momento crucial.


No entanto, no curto prazo, não é fácil reformar a tecnologia teatral e realizar a inovação da apreciação e das artes. A opção por “digitalizar o teatro”, isto é, transmitir online as suas obras clássicas resultará apenas em produtos derivados da arte performáticas, o que poderá, talvez, acelerar a integração do teatro ao cinema, no entanto, não poderá trazer ao teatro qualquer inovação conceptual. Aliás, muitos géneros do teatro são difíceis de serem transformados em produto digital, por exemplo, o teatro imersivo (Immersive theatre) que tem ganho muita atenção nos últimos anos e sublinha a intimidade e a interação, não pode, de modo algum, ser substituído pela produção digitalizada.


Quanto mais algo é insubstituível, mais valioso se torna. Em vez de passar mais tempo a pesquisar como tornar a experiência de espectadores mais real e viva, estou interessado em criar uma experiência insubstituível de aprecição que exige a presença de espectadores que assumam o risco. Por exemplo, tenho interesse em explorar como a relação entre actores e espectadores do teatro imersivo pode ter um maior impacto social e político no público ou o tratamento artístico que pode criar mais ligações sociais entre os espectadores no teatro comercial, etc.. Em outras palavras, acredito que a verdadeira inovação teatral não pode abdicar da ligação humana, vista como o seu valor essencial. O teatro até se pode realizar em espaço e tempo virtuais, mas o seu núcleo deve ser, certamente, o momento presente.


Embora as luzes da Broadway se tenham apagado, não acredito que os criadores verdadeiramente excelentes percam os seus empregos. Através da crise e das oportunidades da pandemia, os criadores podem aperceber-se de quanto espaço há para a evolução e para a inovação nesta arte ancestral de mais de dois mil anos—o teatro. Não é difícil para as obras permanecerem em formato de filme, mas é a arte teatral que poderá avançar para o futuro pós pandemia se as suas obras puderem superar o medo que a humanidade sente e continuarem a executar-se em teatros reais.


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A peça de teatro Elfos Verdes, realizada pelo director Johnny Tam, esteve em cartaz em Xangai e Shenzhen antes da pandemia.