Yap Seow Choong

Yap é um aficionado do design, das viagens e de tudo o que é belo na vida. Escreve para várias publicações sobre viagens e design e tem vários livros publicados, dos quais se destacam Wander Bhutan e Myanmar Odyssey. Antigo editor da Lonely Planet China, Yap é agora o principal responsável por todos os conteúdos da Youpu Apps, uma empresa de aplicações sediada em Pequim.


Deixe que Akihabara o surpreenda

18a edição | 12 2016

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O distrito de Akihabara em Tóquio é o paraíso para os otaku (fãs incondicionais) e eu normalmente não visito essa área. Assim que deixamos o metro, há lojas pelas ruas que vendem vários gadgets e aparelhos electrónicos. “Empregadas” com um ar querido usam vestidos de princesa e estão prontas para insistir em fazer negócio. Com um conjunto de cafés com estas empregadas, Akihabara pode satisfazer a imaginação dos otakus no que toca a raparigas com ar querido.


Desta vez visitei Akihabara para ver arte contemporânea. O 3331 Arts Chiyoda fica perto de Akihabara. Este espaço costumava ser um colégio abandonado e foi revitalizado como complexo artístico. As antigas salas de aula albergam agora galerias e empresas de tecnologia. Além das pessoas, uma das coisas mais interessantes desta cidade é perceber como os seus espaços são utilizados. O modo como uma cidade em rápido desenvolvimento reutiliza os recursos existentes revela não apenas o quão amiga do ambiente é, mas também mostra a inovação e o gosto das pessoas que a habitam. O 3331 Arts Chiyoda é uma incubadora de artes gerida por privados. A empresa que gere o espaço tem o direito de escolher os inquilinos. Não são apenas escolhidos artistas, mas também algumas empresas de tecnologia. Isto é feito na esperança de que profissionais de diferentes indústrias possam trabalhar em conjunto no mesmo espaço e criar mais ideias convergentes.


A revitalização de edifícios antigos não é nada de novo. Antigas estações de comboio e fábricas desactivadas foram transformadas em museus em Paris e Londres, e são apenas um dos poucos excelentes exemplos, entre outros. Estes edifícios são transformados e preservados devido ao seu valor histórico e estético. Mas o 3331 era apenas um campus escolar completamente comum. A demolição do campus teria claramente gerado mais valor comercial do que a sua manutenção. No entanto, os accionistas preferiram manter todo o complexo e arrendar os espaços a galerias privadas. Não é fácil gerir um centro artístico não muito lucrativo em Tóquio, uma vez que o preço dos terrenos é elevado na cidade. Considero esta iniciativa admirável.


Senti isso mesmo enquanto visitava as galerias, estava na verdade a visitar um colégio no Japão. Todo o espaço conseguiu entrelaçar o passado e o presente. Quando vi as típicas pias rectangulares que existem nas escolas, tive várias recordações da minha vida de estudante. Manter um campus também serve para salvaguardar as memórias de quando se busca o conhecimento durante os tempos da escola. Depois da visita, sentei-me debaixo de uma velha árvore num terreno perto da entrada e escutei o som das folhas a murmurarem na brisa. A vida deste lugar, tangível e intangível, é sustentada.


Localizado junto a Akihabara e ao longo de Kandagawa, Kanda Manseibashi foi construído em 1912 e costumava ser o terminal de transportes mais movimentado de Tóquio. Os dias agitados desta estação de comboios há muito que desapareceram, devido à expansão da rede de caminhos-de-ferro no Japão. Em 1943 a estação foi abandonada. O espaço por baixo da ponte de caminhos-de-ferro já foi transformado pelos proprietários, a East Japan Railway Company, num espaço comercial cheio de estilo, chamado mAAch ecute.


A maior parte da estrutura original da estação de caminhos-de-ferro foi mantida, incluindo uma série de arcos e paredes exteriores em tijolo vermelho que chamam a atenção. O átrio e as plataformas estão ocupados por boutiques e lojas. Mobiliário de qualidade em segunda mão e trabalhos de artistas japoneses podem ser encontrados ali. O espaço também tem cafés e restaurantes. As lojas são pequenas mas atractivas, cheias de carácter. Há uma loja chamada Library que não só vende livros mas tem também desenhado um “mapa antigo” que permite aos viajantes navegarem e terem uma ideia daquela área em tempos passados. Um bom plano de revitalização não separa totalmente o velho do novo. Em vez disso, deixa que as pessoas vejam a transição e a transformação do passado para o presente. Quando subimos as escadas com mais de 100 anos que dão acesso ao segundo andar, vamos encontrar a antiga plataforma onde agora existe um café. É até possível ver comboios avançarem com estrépito pelos carris através de um ecrã de vidro. A experiência é definitivamente única.