Joe Tang

Vencedor do Prémio Literário de Macau e o Prémio de Novela de Macau, Joe Tang é escritor e crítico de arte. Assinou vários romances, incluindo The Floating City e O Assassino, traduzidos para Inglês e Português. Publicou também peças de teatro, entre elas Words from Thoughts, Philosopher’s Stone, Journey to the West, Rock Lion, Magical Monkey e The Empress and the Legendary Heroes.


A magia de Hobbiton

17a edição | 10 2016

01_鄧曉炯_01.jpg


A minha família e eu fomos visitar os nossos parentes à Nova Zelândia durante as férias de verão, e também aproveitámos a oportunidade para viajar pelo país. Digamos que sou um fã de O Senhor dos Anéis e é escusado dizer que a lendária Hobbiton estava na minha lista de viagem. Aqueles que leram os livros ou viram os filmes saberão que Hobbiton é a terra dos Hobbits na Terra Média, na saga O Senhor dos Anéis, escrita em inglês por J. R. R. Tolkien. É uma aldeia ficcional mas o cineasta neozelandês Peter Jackson encontrou as localizações perfeitas para recriar Hobbiton no seu país. Depois de ter sido lançada a trilogia O Senhor dos Anéis, os fãs dos livros e dos filmes começaram imediatamente a rumar à aldeia para visitá-la, tornando Hobbiton numa atracção mundialmente famosa e bem-sucedida. Isto também trouxe enormes lucros turísticos.


Localizada nos arredores de Matamata, no norte da Nova Zelândia, Hobbiton é uma pequena cidade com apenas 13,000 residentes. Tornou-se numa atracção muito conhecida devido aos seus cenários deslumbrantes mostrados na saga O Senhor dos Anéis. Reflecti bastante depois de visitar a cidade durante várias horas. Em primeiro lugar, o que mais me impressionou é que existe o equilíbrio certo entre o desenvolvimento do turismo em Hobbiton e a manutenção da serenidade característica daquele lugar. Os visitantes podem apanhar autocarros turísticos que partem do centro de visitantes em Matamata, ou conduzir até à entrada de Hobbiton e depois apanhar um autocarro com um guia que os acompanhará pela cidade. A visita dura duas horas e o destino final é o Green Dragon Inn, onde é possível descansar e desfrutar de uma cerveja produzida em Hobbiton e que está incluída no pacote da visita. A atmosfera é relaxante.


No entanto, quando se trata de desenvolver uma indústria, se pensarmos que devemos cavalgar a onda do sucesso, a maximização dos lucros é o próximo passo. Se for esse o caso, então o projecto turístico temático de Hobbiton tem sem dúvida um enorme potencial para ser desenvolvido. Por exemplo, pode ser construído um parque temático do Hobbit, um desfile que tenha como tema os habitantes da Terra Média, um hotel-boutique e restaurante inspirados em Tolkien, ou mesmo “Apartamentos Servidos de Hobbiton” e “Villas da Terra Média” podem ser adicionadas ao projecto. Importa não esquecer que Hobbiton tem um total de cinco milhões de metros quadrados de terras agrícolas. No entanto, os neozelandeses não fizeram isto. Pelo contrário, mantiveram um equilíbrio entre recreação e facturação. As recordações que tenho são de uma atmosfera relaxada com o número certo de visitantes. A juntar ao cenário pitoresco, sentimo-nos mesmo como se tivéssemos chegado à Terra Média. Agora, olhemos para Macau. Com pessoas a inundar a Avenida de Almeida Ribeiro e as Ruínas de São Paulo, e sem quaisquer medidas de controlo de multidões, é difícil não nos sentirmos desiludidos.


Hobbiton, na Nova Zelândia, deu-me muito em que pensar. Neste mundo altamente globalizado, devemos ponderar de modo mais abrangente quando toca ao desenvolvimento e gestão das indústrias culturais e criativas. Vejamos Hobbiton como exemplo. Originalmente escritas pelo autor britânico J. R. R. Tolkien, estas histórias foram adaptadas ao cinema por uma empresa dos Estados Unidos da América (com investidores de outros países). Um realizador neozelandês encontrou uma pequena cidade no seu país e transformou Hobbiton na Terra Média. Isto não apenas enriqueceu os recursos turísticos da Nova Zelândia, como impulsionou a economia local. Por exemplo, a nossa família composta por seis pessoas gastou um total de 2,000 dólares de Hong Kong nos bilhetes de entrada. Além disso, também comprámos comida num pequeno café e presentes numa loja de recordações. Outras despesas naquela pequena cidade incluíram combustível, compras e refeições. Juntando tudo, gastámos um montante considerável nesta viagem.


“Indústrias Culturais” é hoje em dia um slogan mas na verdade não é difícil perceber do que se trata. Honestamente, tudo se resume à capacidade de contar boas histórias. Para fazer isso é necessário ter talento e conectividade – ou seja, ter um posicionamento claro e permitir que o talento seja bem aproveitado quando se entra nesta indústria globalizada com oportunidades inesgotáveis. Posto isto, nós em Macau, em vez de fazermos dinheiro rápido, devíamos realmente olhar para as coisas de um modo mais global – isto significa fazer aquilo em que somos bons até sermos os melhores, recusar o oportunismo e ser sensíveis. Com estas qualidades, estou confiante que esta pequena cidade também pode contribuir muito para a indústria.