Yap Seow Choong

Yap é um aficionado do design, das viagens e de tudo o que é belo na vida. Escreve para várias publicações sobre viagens e design e tem vários livros publicados, dos quais se destacam Wander Bhutan e Myanmar Odyssey. Antigo editor da Lonely Planet China, Yap é agora o principal responsável por todos os conteúdos da Youpu Apps, uma empresa de aplicações sediada em Pequim.


Finlândia – A Beleza do Despretensioso e da Durabilidade

16a edição | 08 2016

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Sinto-me atraído pelo design finlandês há muito tempo. Com uma população de cinco milhões de pessoas, o país dos mil lagos possui uma fonte inesgotável de criatividade. Há a Nokia, em tempos a principal potência no mundo sem fios; há o Angry Birds; e, escusado será dizer, há os cristais Iittala, indispensáveis para quem aprecia a qualidade de vida. E também há as tesouras Fiskars. Cada família na Finlândia tem, pelo menos, um par delas. Todas estas marcas tiveram origem neste país tranquilo.


Quando vi Helsínquia pela primeira vez, não tive desde logo a sensação de que este país era tão forte a nível de design. As casas das ruas da cidade são velhas, mas resistentes. Não são atractivas. Ao invés, são tão discretas e silenciosas quanto os finlandeses. Talvez seja essa a essência do design finlandês – simples, sólido, honesto e duradouro.  O design finlandês é como um companheiro caloroso em vez de um parceiro glamoroso que podemos exibir. Criar a beleza da simplicidade é uma tarefa árdua. O bom design não precisa de ser muito elaborado para tocar o nosso coração.


Por norma, acreditamos no que os nossos olhos vêem e qualquer um ficaria enfeitiçado pelo que vi. Porém, só sabemos se um design é realmente bom depois de o experimentarmos. Por exemplo, o banco de três pés e a jarra Savoy desenhados por Alvar Aalto são ambos funcionais e lindos. Não possuem quaisquer acessórios desnecessários. Ao invés, no design, a abordagem centrada no ser humano garante que os objectos vão, sem dificuldade, incorporando o mundo natural na vida quotidiana. A tecnologia única da curvatura do banco de três pés foi desenvolvida pelo designer. E o design empilhável é, simultaneamente, bonito e funcional para uso diário. A forma irregular da jarra Savoy parece ter assemelhar-se a um lago, e o seu design versátil permite que o consumidor decida como a usar. Todos estes designs surgiram na década de 1930, e tornaram-se clássicos e ícones da Finlândia.


Os finlandeses perceberam a importância do design desde sempre. Eles acreditam que o bom design é essencial à qualidade de vida. Também acreditam que só a beleza que resista ao teste do tempo pode durar uma eternidade. Não fique surpreendido se os cafés na Finlândia ainda hoje usarem copos de Iittala e bancos de Aalto; as senhoras usem roupa de Marimekko colorida e com padrões únicos, e quem corre use ténis de Karhu, uma marca de material desportivo fundada em 1916 e clássica na Finlândia, conhecida por inovar ao usar pela primeira vez sistemas de amortecimento no calçado de corrida. O armário escorredor da loiça, um aparelho doméstico onde se podem guardar pratos secos e que, ao mesmo tempo, permite que os pratos vão secando separadamente, também é uma invenção finlandesa. Todos estes excelentes designs apareceram devido à observação cuidada do que faz falta na vida quotidiana.


A Finlândia é conhecida como “o país dos mil lagos”. A paisagem do país é tão natural e despretensiosa que até na capital é impossível ver edifícios ostensivos. A Biblioteca Principal da Universidade de Helsínquia é um dos poucos edifícios novos que se destaca no centro da capital. A altura e os materiais de construção do exterior do edifício combinam na perfeição com as casas em volta da biblioteca. Está tão integrada na paisagem que é fácil não dar por ela quando se anda a pé pela zona. Mas esta harmonia, tranquilidade e discrição não significam que o edifício não tem personalidade. Aliás, o designer do edifício sabia que se só um edifício merecer admiração numa cidade, então a sua beleza é apenas superficial. Quando entramos na biblioteca, imediatamente somos atraídos pelo seu design interior. O branco é a cor principal da biblioteca, que é muito acolhedora. O design curvilíneo de cada andar transforma um espaço conhecido por ser frio e solitário num espaço com mais vida. As pessoas podem sentar-se silenciosamente para ler. Quando se sentem cansadas, podem simplesmente olhar pelas janelas e ver as gaivotas voar e as nuvens passar.


Quando viajo, adoro visitar livrarias. Apesar de não conseguir apreender o conteúdo dos livros, ver como eles estão ordenados e que livros é que os locais gostam de ler dá ao viajante uma ideia da cidade onde está. Os nórdicos parecem gostar de ler policiais para dar algum entusiasmo à sua vida pacífica. A Livraria Academic está no centro da cidade. O edifício foi desenhado por Alvar Aalto há 60 anos e esta é a maior livraria de tijolo e argamassa dos países nórdicos. A livraria ainda emana um ambiente descontraído. O tecto de vidro permite que a luz natural percorra o edifício, um design essencial num país conhecido por ter pouca luz solar. Se observarmos de perto as estantes e os manípulos das portas, vemos que foram desenhados meticulosamente e não têm um aspecto nada antiquado.


Quem preferir a nova arquitectura não deve perder o Museu de Arte Contemporânea Kiasma, desenhado pelo arquitecto norte-americano Steven Holl. Este é um dos principais museus de arte contemporânea na Finlândia. Construído em 1998, o museu tem agora quase 20 anos, mas o edifício continua a ter um aspecto tão avant-garde como tinha. Instalado com muitos vidros, o museu permite que a luz do sol entre no seu interior nos dias solarengos, ajudando a esbater as fronteiras entre interior e exterior. Quando visitei Helsínquia, havia uma exposição itinerante de trabalhos do famoso fotógrafo norte-americano Robert Mapplethorpe. “Procuro coisas que nunca tenha visto” é a sua citação famosa, bem como a sua força motriz para a inovação. Ele descobriu a beleza que Deus criou através das curvas do corpo humano, e disse-nos que desde que façamos um esforço por observar, e por observar de diferentes ângulos, também nós temos a capacidade de descobrir a beleza na vida do dia-a-dia.