Cheong Sio Pang

Cheong vive em Pequim, trabalha em investigação académica e gosta de escutar música clássica. As suas publicações incluem An Oral History of the Concert Band in Macao. Ele é também o autor de Macau 2014 – Livro Musical do Ano e Macau 2015 – Livro Musical do Ano. Cheong adora aprender.


Cruzamento da música com outras formas de arte

13a edição | 02 2016

07_張少鵬_01.jpg


Senti-me muito honrado por me ter sido dada a oportunidade de trabalhar com Ben Ieong, do Teatro Hiu Kok, no final do ano passado. Escrevemos e dirigimos juntos o Best Film Music of All Time, organizado pela Associação de Regentes de Banda de Macau e apresentado no Centro Cultural de Macau. O concerto nasceu da colaboração de inúmeros grupos artísticos de Macau, com uma orquestra sinfónica a interpretar bandas sonoras de filmes, em conjunto com uma peça de teatro, dança e animação. Uma performance multidisciplinar como esta não é comum em Macau, mas é certamente significativa para o crescimento da música de sopro. Devido a limitações de tempo, cada participante passou muito tempo a ensaiar para este concerto.


Escrever o guião da peça não é tarefa fácil, já que tem de estar de acordo com a banda-sonora e a história tem de acompanhar a música. Por isso, recriámos algumas das narrativas, com base em filmes – há músicas de dez filmes e cada uma representa uma fase da vida do protagonista. No final, chegamos a Macau e para concluir usamos um dos temas de conversa na cidade (o controverso caso da construção de edifícios de muitos andares, que poderia potencialmente destruir a paisagem da Colina da Penha).


Eis a trama da narrativa: Gump (Música: Forrest Gump) é o único sobrevivente de um planeta destruído pelo Diabo (Guerra das Estrelas). A sua vida é um falhanço absoluto, seja enquanto está na escola (Harry Potter), no trabalho (Missão Impossível) ou quando decide juntar-se à máfia (O Padrinho). Quase por acaso, Gump viaja até às montanhas e aprende Kung Fu com o mestre de artes marciais Eagle (O Tigre e o Dragão). No entanto, acaba por perder uma colega de que tanto gosta e, com a ajuda de Eagle, decide ir até ao porto e apanhar um barco em busca do seu amor. Nesse barco, Gump acaba por encontrar Ah Lai, a sua amada, mas a embarcação naufraga (Titanic). Neste momento, um violinista toca A Lista de Schindler juntamente com a banda filarmónica, para expressar a devastação de perder alguém que se ama. O Diabo, de outro planeta, volta a aparecer. Destrói edifícios em Macau e captura Gump (Piratas das Caraíbas). No final, Gump escuda-se no poder da música e toca Somewhere In Time juntamente com os seus companheiros e com a banda, conseguindo repelir o Diabo. A beleza de Macau é salvaguardada, os edifícios de muito andares desaparecem e a Colina da Penha continua a abençoar toda a gente em Macau.


Todas as pessoas em palco e nos bastidores têm trabalhado afincadamente para fazer o seu melhor e criar esta produção teatral, desde o começo até ao cair do pano. Com tantas pessoas talentosas juntas – incluindo a trupe do Teatro Hiu Kok, Philip Chan, C-La in Macau, a dançarina Leong Iek Kei e o actor Gary Ng, o resultado é surpreendente. O processo criativo é de constante perplexidade e consome muito tempo. Felizmente, os resultados de bilheteira do concerto mostram que tem sido um sucesso, com uma taxa de lotação de 80 por cento (com excepção de alguns bilhetes VIP, não distribuímos bilhetes gratuitos). Os concertos públicos da Fundação Macau são um bom modo de promover as artes performativas, mas a longo prazo a promoção das artes precisa de estar direccionada ao mercado. Neste momento a maior parte dos programas de artes performativas em Macau são financiados pelo Governo. Apenas uma maior interecção e multidisciplinariedade entre a inovação e as diferentes formas de arte fará com que o público decida assistir a espectáculos, tornando as artes mais populares.