Yap Seow Choong

Yap é um aficionado do design, das viagens e de tudo o que é belo na vida. Escreve para várias publicações sobre viagens e design e tem vários livros publicados, dos quais se destacam Wander Bhutan e Myanmar Odyssey. Antigo editor da Lonely Planet China, Yap é agora o principal responsável por todos os conteúdos da Youpu Apps, uma empresa de aplicações sediada em Pequim.


SG50: a história de Singapura

4a edição | 04 2015

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Celebram-se em 2015 os 50 anos da independência de Singapura e, por isso, este “pequeno ponto vermelho” vai voltar a evidenciar-se no palco internacional. A cidade-estado tem em mãos a organização de uma série de eventos e festivais. Tudo, seja de grande ou pequena dimensão, estará relacionado com o “SG50” – o emblema que de momento pode ser visto em todo o lado em Singapura. Até os bebés que nascem neste ano vão ter direito a um certificado de nascimento com um design especial. Para alguns dos singapurianos, como é o meu caso, começa já a sentir-se a fadiga das celebrações.


Ao longo desta década, Singapura tem tentado explorar o potencial das indústrias criativas. Experimente dizer às pessoas que é designer ou artista e verá que já ninguém vai franzir as sobrancelhas e perguntar: “Como é que vai sobreviver?” O Conselho de Design de Singapura, liderado pelo governo, quer apoiar o sector do design através de bolsas e subsídios para os designers e da promoção dos artistas locais nos mercados estrangeiros. Desde que tenha ideias inovadoras, qualquer pessoa pode candidatar-se a financiamento. Este conselho também patrocina projectos de escrita, de edição, campanhas de marketing, viagens de estudo ao exterior e participação em conferências. Vários tipos de subsídios estão também disponíveis.


A Cidade do Leão, muitas vezes chamada de “deserto cultural”, vê o investimento financeiro em indústrias importantes como uma forma rápida de cultivar a criatividade. Esta pode não ser a melhor das vias para atingir este objectivo, mas é suficientemente eficaz. Pense no Dubai ou em Abu Dhabi e poderá perceber porquê. Ao longo de anos de investimento, estas cidades construídas sobre a areia tornaram-se em centros artísticos no Médio Oriente e passagem obrigatória para os aficionados de arquitectura de ponta.


Escusado será dizer que o SG50 oferece uma série de actividades, com destaque para o design local: a Semana do Design de Singapura realizou-se entre 10 e 22 de Março, com mais de 60 exposições organizadas durante esse período; designers consagrados foram distinguidos com os prémios President`s Design Awards; a feira comercial de design de interiores Maison & Object de Paris lançou uma edição asiática em Singapura; e a exposição permanente Cinquenta Anos de Design em Singapura, organizada na sede do Conselho de Design de Singapura, apresenta trabalhos de artistas locais ao público de Singapura e aos visitantes.


Produtos de design que têm como objectivo melhorar a qualidade de vida da população podem dizer muito sobre uma sociedade. Singapura tem trabalhado muito ao longo dos tempos na sua internacionalização. Também o design local esboça esse carácter internacional. Um design sem carácter local pode ser acusado de falta de individualidade mas, se for um bom design, ninguém se vai preocupar se carrega valores locais ou não. Por exemplo, ninguém perguntaria se o desenho de um produto da Apple foi inspirado em valores norte-americanos.


O conceito “agir à escala local” também pode tornar o design superficial. Alguns artistas de Singapura inspiraram-se na cultura local para criar uma série de produtos de estilo retro. Aos olhos dos hipsters ou dos amantes do vintage, estes produtos podem parecer excepcionais. Mas isto não é design. Pelo contrário, estes produtos são fruto de um design pobre. Não existe uma mensagem neste tipo de design e a mera nostalgia não os pode levar muito longe. Dê uma vista de olhos no que se está a passar com a G.O.D. e poderá antecipar o que vai acontecer no futuro com esta marca. Por último, e não menos importante, a minha modesta opinião: o traje nacional da Miss Universo Singapura 2015, adornado com estrelas e uma lua crescente (sem dúvida, inspirado na bandeira nacional) ofende a vista.