Yap Seow Choong

Yap é um aficionado do design, das viagens e de tudo o que é belo na vida. Escreve para várias publicações sobre viagens e design e tem vários livros publicados, dos quais se destacam Wander Bhutan e Myanmar Odyssey. Antigo editor da Lonely Planet China, Yap é agora o principal responsável por todos os conteúdos da Youpu Apps, uma empresa de aplicações sediada em Pequim.


Taipé, a Capital Mundial do Design

14a edição | 04 2016

Visitei Taipé algumas vezes nos últimos tempos e percebi que esta cidade está a tornarse cada vez mais habitável. A paisagem urbana pode ser uma fonte de inspiração e o poder criativo que um andarilho ou um ciclista retira da rua é claramente mais forte do que o obtido pelos viciados em smartphones que viajam no metro ou noutro meio de transporte.


Este ano, Taipé foi nomeada Capital Mundial do Design pelo Conselho Internacional das Organizações de Design Industrial, pelo que este é o ano do design na cidade. Taipé conseguiu convencer o painel de jurados com a sua visão – uma cidade adaptável que pretende perseguir uma renovação contínua e uma melhor qualidade de vida, ultrapassando as limitações a nível de recursos através da aplicação de um planeamento e de um design inovadores.


O desenvolvimento sustentável é o trunfo na área do design. Em Taipé, os armazéns devolutos são transformados em centros criativos (como Songshan e Huashan); os bairros antigos ganham nova vida com a chegada de hipsters e afins; e algumas indústrias em declínio vão reaparecendo. Este tipo de revitalização cuidada não pretende livrar-se do velho e dar as boas-vindas ao novo. Na verdade, ela ajuda a proteger o património urbano. Se é daqueles que pensam que as coisas velhas já não têm qualquer utilidade, pense de novo. É possível dar-lhes nova vida.


Há um cluster de lojas de ferragens e de venda por atacado na zona da Taiyuan Street. Localizada numa viela escondida, a Ri Xing Type Foundry é uma delas. A popularização do desktop publishing veio substituir a impressão tipográfica tradicional. Como tal, as tipografias que em tempos foram importantes fecharam portas. Fundada em 1969, a Ri Xing é actualmente a única tipografia sobrevivente em Taiwan. Os livros costumavam ser impressos utilizando matrizes de impressão tipográfica. Estas envolvem a colocação de tinta em caracteres móveis, os quais são depois pressionados contra o papel, deixando a impressão na folha. É um processo lento mas encantador, e é por isso que esta técnica já não é necessária num mundo que dá prioridade à racionalidade e à eficiência. A Ri Xing manteve a estrutura original da tipografia, com um conjunto de tipos muito bem organizado, à espera de ser novamente usado. A máquina de moldar os tipos, importada do Japão, parece uma antiguidade, mas continua a fazer tipos lindos com diferentes tamanhos e estilos de letra. Actualmente, os visitantes podem conhecer a tipografia e saber mais sobre o processo de impressão tipográfica, e os tipos podem ser levados para casa como lembrança. Aqui, o carácter único dos caracteres chineses recebe um olhar refrescante.


Andando para norte a partir da tipografia, chega-se rapidamente a Dihua Street, uma área muito recomendada por quem acompanha as tendências da moda. Dihua Street é uma zona histórica de Taipé e é onde os locais fazem as compras do Ano Novo Chinês. Ao início, os meus amigos de Taipé só queriam passear pelo reluzente Bairro Oriental. Agora, visitam ocasionalmente a zona antiga da Dihua Street. Entre as lojas de produtos chineses e as ervanárias, há alguns estabelecimentos interessantes que merecem uma visita.


A Dihua Street está localizada em Dadaocheng, na zona ocidental de Taipé. Dada a sua proximidade com o rio Tamsui, Dadaocheng costumava ser um porto movimentado, tendo sido também o primeiro bairro de Taipé aberto a estrangeiros. A Dihua Street está pontilhada por mansões elaboradas que incorporam estilos arquitectónicos do Sul da China, do Ocidente e do Japão. São uma prova dos dias de glória desta zona. O executivo autárquico de Taipé renovou as casas, com o objectivo de revitalizar esta área antiga e atrair mais visitantes. O Gabinete de Regeneração Urbana da Cidade de Taipé criou Postos de Regeneração Urbana como catalisadores de ideias inovadoras. Há vários postos destes na zona de Dihua Street. Entre eles está a URS127 Art Factory, uma galeria para artistas emergentes levarem a cabo projectos experimentais. Adjacente a ela está a ArtYard, que está alojada num velho edifício e vende produtos com design local. Dentro do edifício também há um café e uma casa de chá. Estes são espaços capazes de alimentar a criatividade num ambiente descontraído.


Uma cidade está em constante evolução. Reordenar, reutilizar e revitalizar usando os limitados recursos disponíveis é uma arte. Quando pomos isto em prática, o resultado é normalmente mais apelativo do que quando simplesmente fazemos algo de raiz. Ao dar nova vida ao que é velho, o velho também dá mais camadas de significado ao que é novo. A mistura do velho e do novo é mais sofisticada do que um novo começo e, como tal, pode construir um ambiente que encoraja ainda mais a criatividade.