Joe Tang

Vencedor do Prémio Literário de Macau e o Prémio de Novela de Macau, Joe Tang é escritor e crítico de arte. Assinou vários romances, incluindo The Floating City e O Assassino, traduzidos para Inglês e Português. Publicou também peças de teatro, entre elas Words from Thoughts, Philosopher’s Stone, Journey to the West, Rock Lion, Magical Monkey e The Empress and the Legendary Heroes.


Sobre o Cinema de Macau: Não Tenham Pressa, Abrandem

16a edição | 08 2016

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Tive a honra de participar numa série de Oficinas de Guionismo organizadas pelo Pen Club de Macau no final de Maio. Os instrutores eram académicos e profissionais da indústria de cinema e televisão do interior da China. Foram convidados a partilhar as suas perspectivas sobre teorias, experiência e técnicas de criação de um guião. Aprendi muito com eles e reflecti bastante.


A indústria de cinema em Macau teve recentemente um bom arranque. O governo iniciou muitos esquemas de subsídios e acaba de abrir uma sala dedicada a filmes artísticos. Várias organizações não-governamentais estão também a organizar diferentes tipos de competições de microfilmes e curtas-metragens. Em poucos anos já temos filmes criados por pessoas de Macau e a “taxa de natalidade” e “visibilidade” dos filmes de Macau aumentou. De facto, com o domínio da cultura visual, e com o material de filmagem a tornar-se mais acessível, bem como com a melhoria das técnicas de filmagem, fazer um filme de 30 minutos ou de uma ou duas horas é muito mais eficiente do que escrever um romance de média ou longa extensão. É também mais fácil convencer uma pessoa a ver um filme de uma hora do que a ler um livro com milhares de palavras. No entanto, para o bem da sustentabilidade desta indústria – isto é, de modo a construir fundações sólidas para os filmes de Macau – o importante não é apenas ver resultados imediatos. Trata-se também de investir tempo a formar talentos.


O Festival Internacional de Cinema de Xangai aconteceu em Junho e convidou o aclamado realizador Ang Lee como orador para um fórum sob o tema “Quão Longe Se Está dos Lugares da Frente Quando Sé N.º 1 nas Bilheteiras?”, que foi um grande sucesso para o festival. O que Ang Lee disse no fórum pode ser sintetizado numas quantas palavras. “Não tenham pressa. Abrandem.” Lee lembrou aos cineastas e investidores do interior da China que não devem ser impetuosos. Não devem pensar apenas em assegurar lucros e contratar grandes estrelas. Cineastas emergentes não devem pensar apenas no sucesso imediato. “Espero que os jovens possam crescer devagar e deixar as coisas acontecer naturalmente. A pressa fará com que cometam erros”, disse Lee. O realizador encorajou os cineastas do interior da China para que “aprendam o ABC dos filmes”. Isto, obviamente, inclui todos os aspectos e detalhes daquilo que é o ofício do cinema.


A sugestão de Lee também se aplica a Macau. Pensemos no guião, parte tão essencial da indústria cinematográfica. Ainda que eu já tenha escrito romances e guiões para peças de teatro, sinto claramente, depois de participar nas oficinas de guionismo já referidas, que escrever para cinema e televisão é uma experiência totalmente nova. De facto os guiões podem ser subdivididos em argumento e guião para cinema e TV, e são completamente diferentes um do outro. Enquanto a escrita literária é mais pessoal, a escrita de guiões envolve mais técnicas e trabalho em equipa, e por isso os guionistas precisam de mais tempo para exercitarem essas técnicas. Macau tem de cultivas os seus próprios guionistas para cinema e TV. É uma questão mais complicada do que apenas atribuição de subsídios e a organização de competições de cinema. Na verdade, além do guionismo, a iluminação, a filmagem, o som e a arte dos filmes também precisam de profissionais, e é necessária uma plataforma que permita o desenvolvimento destes talentos. O crescimento da indústria cinematográfica em Macau depende de quanto talento a indústria possui, e também é essencial que esses talentos consigam construir uma carreira que os satisfaça.