Eric Fok Hoi Song: “A arte vai além dos quadros e das exposições”

03 2015 | 3a edição
Texto/Ma, Allison Chan e Bob Leong

A importância dos artistas e dos coleccionadores de arte   Agentes de arte em Macau


Eric Fok Hoi Song: “A arte vai além dos quadros e das exposições”

 

O consagrado artista visual de Macau, Eric Fok Hoi Seng, desenvolveu nos últimos anos a série artística Paraíso, inspirando-se em mapas antigos. Em 2013, foi convidado a participar na Exposição de Ilustradores de Bolonha, uma das mais prestigiadas mostras da área. Sendo Fok um artista da geração pós-1990, de que forma é que a sua reputação internacional o está a ajudar?

 

Fok é um dos raros artistas de Macau que consegue viver da arte, ganhando a vida com as obras que faz e vende, com exposições, projectos encomendados e dando aulas. O artista admite que, por vezes, vendas a clientes importantes são suficientes para se sustentar durante um considerável período de tempo. Apesar de não ter um rendimento estável, a sua remuneração média equivale ao salário mensal de um professor do ensino secundário. Contudo, Fok admite que os artistas também têm muitas despesas.

 

“Não sou um gastador. Honestamente, é muito caro comprar telas ou material de trabalho. Também preciso de pagar para entrar em exposições. Por exemplo, participei numa exposição em Taiwan e partilhei metade dos custos com o organizador. Mesmo assim, tive de pagar mais de mil dólares, tirando o material, o seguro e o bilhete de avião.”

 

Apesar de ser possível cobrir algumas das despesas com ajudas do governo, Fok prefere não concorrer a estes subsídios, dado o tempo necessário e o custo de oportunidade que envolvem estas candidaturas.

 

Fok compara o artista típico de Macau ao dono de um cha chaan tang (pequeno estabelecimento de comidas). “Quando um artista tem a oportunidade de participar numa exposição, vai acabar por passar muito tempo a reunir material, principalmente as imagens das obras de arte, em vez de fazer arte. Para as pequenas exposições, apresentam-se desenhos, mas as grandes mostras têm como requisito o envio de fotografias de grande qualidade. Noutros países, os artistas podem pedir aos assistentes para prepararem toda a informação necessária à exposição e tratarem de todas as tarefas administrativas. Como sabe, este processo consome muito tempo. Por vezes sinto que sou o dono de um cha chaan tang, que é responsável por tudo, tem de comprar os ingredientes, preparar a comida, fazer as contas e, no final, lavar os pratos. Ao contrário do que todos imaginam, os artistas locais não passam o dia a fazer arte.”

 

Fok sublinha que não é difícil para os artistas de Macau apresentarem os seus trabalhos ao público, dado o número elevado de pequenas e grandes exposições que são organizadas todos os anos. O desafio está em saber transformar a arte num verdadeiro empreendimento, para que assim os artistas possam ter tempo ou espaço para criar e vender as obras a coleccionadores de arte. Fok continua: “Para assegurar o valor artístico e de mercado da peça de arte, uma pessoa precisa de encontrar um ambiente adequado e políticas de apoio. Não se trata apenas de apresentar uma peça de arte numa exposição. Neste momento, Macau ainda não tem um mercado de arte maduro, mesmo oferecendo espaço para os artistas fazerem ou exporem as suas obras.”

 

Isto leva-nos a outra questão importante: quais são as necessidades de um mercado de arte sofisticado e o que está a faltar a Macau para que se possa desenvolver um mercado com essas características? Fok aponta para falhas na distribuição dos recursos. “A arte é um fenómeno estimulado pelo mercado e um mercado de arte exige obras de qualidade. Em Macau, os recursos estão sobretudo disponíveis para as organizações e não para os artistas, que têm aqui um papel secundário. Em outras palavras, infelizmente faltam políticas que permitam o crescimento de artistas profissionais.”

 

Um outro aspecto já mencionado por Hong Wai e que também merece a atenção de Fok é a ausência de perspicazes coleccionadores locais de arte.

 

Fok admite que, surpreendentemente, as vendas das suas obras no estrangeiro ultrapassam de longe as de Macau. “Na Europa e nos Estados Unidos, muitos dos clientes decidem comprar os meus trabalhos desde que os preços estejam dentro do seu orçamento. Eles olham para a arte como uma componente do dia-a-dia. Quando expus em Portugal, por exemplo, consegui vender sete obras no dia da inauguração”.

 

Como é que Macau pode ultrapassar estas barreiras e melhorar a promoção do mercado local de arte? Fok diz: “Em algumas regiões, as transacções de arte estão isentas do pagamento de impostos. No Reino Unido ou em Taiwan, por exemplo, a importação de arte beneficia de uma política aduaneira de isenção de taxas. Iniciativas como estas vão encorajar definitivamente o crescimento dos mercados de arte. Hoje em dia, já existem algumas galerias comerciais em Macau, embora estejam ainda num estágio muito inicial e enfrentem uma série de problemas. Com a falta de artistas em Macau, estes espaços podem, por exemplo, ter dificuldade em encontrar trabalhos para expor. Além disso, as galerias de arte e os artistas são muito interdependentes uns dos outros. Os coleccionadores de arte e os artistas são como os dois lados da mesma moeda, enquanto as galerias de arte servem como seus agentes. Neste momento, há muito poucos agentes influentes neste sector.”