Agentes de arte em Macau

03 2015 | 3a edição
Texto/Hazel Ma, Allison Chan e Bob Leong

A importância dos artistas e dos coleccionadores de arte   Eric Fok Hoi Song: “A arte vai além dos quadros e das exposições”


Agentes de arte em Macau

 

O mercado local de arte é pequeno e as galerias têm dificuldade em operar, mas a associação Art for All, líder no agenciamento de artistas em Macau, alcançou um sucesso sem precedentes. É através desta associação que os trabalhos de Hong e Fok são vendidos. Os dois artistas admitem que, na maioria das vezes, as obras não são vendidas pelos próprios profissionais nem durante as exposições, mas através de galerias com contactos e com visão para o negócio.

 

Fundada em 2007, a associação Art For All precisou de oito anos para se estabelecer como a mais reputada galeria de Macau e líder do mercado local. O designer, artista e director da galeria, James Chu, sabe que os artistas precisam de muito trabalho para criar e produzir obras de valor. Mas, quando se fala em marketing, a arte já não é apenas uma matéria de valorização subjectiva. É necessário trabalhar estrategicamente a imagem e o estilo dos artistas e das suas obras de forma a criar valor de mercado.

 

Então, que tipo de obras de arte é que o mercado procura? Chu explica: “Para que seja vendida, a obra de arte deve abordar uma temática original e o artista deve ser conhecido como alguém que faz boa arte de forma regular. Os nossos clientes são compradores regulares de arte e procuram maturidade e experiências no campo criativo. São compradores perspicazes e são geralmente muito determinados na compra de arte”.

 

No entanto, experiência e longos anos de educação artística são frequentemente importantes para responder às necessidades dos compradores e distinguir os trabalhos de arte que têm potencial para ser comercializados. Chu admite que este know-how ainda falta em Macau.

 

Chu acrescenta: “Ser-se um agente de arte é uma carreira de uma vida e requer muitos anos de experiência e persistência no trabalho. Macau tem uma reduzida taxa de desemprego e, mesmo assim, poucas pessoas querem trabalhar na área da administração artística ou do marketing. Pode olhar para a nossa companhia, por exemplo. No ano passado, saiu em média quase um empregado por mês. Não há muita formação profissional no sector, o que torna inevitável recrutar ao exterior. A concorrência feroz no recrutamento de recursos humanos para o sector não pode continuar a ser ignorada.”

 

E, enquanto houver falta de agentes de arte profissionais em Macau, que perspectivas podem ter os artistas representados? Como são vendidas as suas obras de arte em Macau e no exterior?

 

Chu aponta que o preço do quadro de um jovem artista pode variar entre três mil ou quatro mil patacas, dependendo do mercado. Artistas consagrados, como é o caso de Tong Chong ou Eric Fok Hoi Seng, podem arrecadar entre dez mil ou 40 mil patacas. Chu estima que mais de 80 por cento dos compradores interessados sejam estrangeiros a trabalhar em Macau.

 

“Os hábitos de consumo dos ocidentais diferem muito dos asiáticos. Eles olham para a arte como uma parte integrante da sua vida, ao passo que a maior parte dos asiáticos preferem poupar e gastar o dinheiro em bens para o dia-a-dia, como roupa, comida ou casa. Vai ser necessário algum tempo até que a população de Macau desenvolva um gosto pela colecção de arte.”

 

Se a associação Art For All pode ser chamada de agência artística, então as duas edições da Feira Internacional de Arte ART MO, que se realizaram recentemente em Macau, podem ser vistas como uma plataforma para promover os compradores e coleccionadores de arte.

 

Quem esteve nesta feira de arte provavelmente apercebeu-se da existência de poucos expositores de artistas locais. Grande parte dos expositores estava nas mãos de organizações de arte ou galerias de Hong Kong, Interior da China, Taiwan, Coreia do Sul e Japão.

 

O director de operações da Feira Internacional de Arte ART MO, Ho Kin U diz: “Não havia muitos trabalhos de artistas locais porque as obras de arte que encontrámos a nível local não eram suficientemente inteligentes para atrair compradores. Além disso, continua a haver em Macau pouco interesse por trabalhos de topo. Por isso, o que temos de fazer, em primeiro lugar, é apostar naqueles trabalhos que garantidamente têm potencial para serem comercializados. Desta forma poderemos atrair compradores asiáticos a Macau, particularmente os compradores e coleccionadores do Interior da China que representam uma significativa quota do mercado. Depois disso, claro, devemos atrair mais compradores locais.”

 

Ho Kin U explica ainda que, apesar da feira de arte não apostar numa fase inicial em artistas locais, o evento poderá ser vantajoso para os profissionais de Macau e o mercado em geral. “O objectivo da feira de arte é posicionar Macau como um novo centro privilegiado onde os compradores asiáticos comecem a adquirir o hábito de comprar e coleccionar arte. Isto vai promover o seu desenvolvimento. Um mercado de arte adequado só pode emergir com compradores, caso contrário quaisquer hipóteses de desenvolvimento serão difíceis.”