Centro Cultural de Macau: é necessária uma visão global na compra de programas

11 2015 | 11a edição
Texto/Yuki Leong, Jason Leong e Roy Lei

Tealosophy: marketing cultural e produtos criativos feitos com sentimento   De que tipo de produtos criativos e culturais estão os consumidores à procura?


Centro Cultural de Macau: é necessária uma visão global na compra de programas

 

O Centro Cultural de Macau abriu portas em 1999. Desde essa altura, tem vindo a injectar força artística à cidade. Pedro Lencastre trabalha há 16 anos como director de programação e marketing, participando com a sua equipa em eventos artísticos de todas as dimensões. Por vezes, passam mais de dez horas a fazer a apreciação de um trabalho para assegurar que o Centro Cultural está a mostrar algo que possa corresponder às preferências da população. Uma das principais funções de Pedro Lencastre passa por perceber quais são as necessidades e vontades da população de Macau em termos de eventos de arte, e assistir a diferentes acontecimentos artísticos por toda a parte para reunir programação de excelência. Pedro Lencastre descreve-se como sendo o intermediário entre os artistas e o público. Apesar de não falar cantonês, aprecia o guarda-roupa e o estilo de espectáculo que envolve a ópera cantonense. Antes de assistir a espectáculos chineses, Lencastre tem o hábito de ler as versões traduzidas dos guiões ou os resumos para ter a certeza que entende o conteúdo da história. Depois então pode sentir o ambiente e a tensão das histórias através da interpretação dos actores, vestuário e linguagem corporal.

 

Lencastre testemunhou alterações em relação ao grupo de frequentadores do Centro Cultural. No início, o público estava mais inclinado para a música clássica, mas foi mudando gradualmente para uma programação mais diversa, como espectáculos familiares. No entanto, houve consumidores que desenvolveram gostos diferentes. Pedro Lencastre também se apercebeu do recente aparecimento de um fiel público jovem.

 

Além de clássicos de todos os tempos, os espectáculos que têm mais saída entre a população local são os musicais. “Os consumidores locais de arte estão mais inclinados para espectáculos conhecidos, como o Lago dos Cisnes, e o número de pessoas que se aventura em programas menos conhecidos é reduzido. Mas o Centro Cultural também opta por uma série de espectáculos não convencionais, vanguardistas, para oferecer ao público outras escolhas. No final de contas, a nossa equipa precisa de ter uma visão global. Nós não apresentamos eventos culturais apenas para aumentar as receitas da venda dos bilhetes, mas também para estimular a inspiração dos artistas locais e alargar as suas perspectivas.”

 

Os tipos de programação do Centro Cultural são abrangentes e adaptam-se aos gostos de todas as idades, incluindo temas habituais, programas para a família e clássicos. Lencastre admite que o maior desafio é que não existe um público-alvo específico para o Centro Cultural e, por isso, as propostas promocionais e o design dos pósteres precisam de ser frequentemente alterados, de forma a perceber as características e preferências dos diferentes públicos.

 

No ano passado, o Centro Cultural recebeu cerca de mil eventos e espectáculos, que contaram com a presença de 270 mil pessoas—mais 8 por cento do que no ano anterior. Pedro Lencastre diz que um programa de arte extremamente popular no estrangeiro não será necessariamente um êxito em Macau. Depende se o tema da programação e o contexto cultural estão relacionados com o panorama local, e de outros factores complicados, como a interpretação e as tendências actuais. Por exemplo, a ida ao Centro Cultural é afectada durante o período do Mundial de Futebol.

 

“Ninguém pode garantir qual é o tipo de programação que tem mais procura entre os locais. Além de avaliar as preferências dos consumidores com base na venda dos bilhetes, também temos de prestar atenção ao que é escrito pelos meios de comunicação social e às discussões nas redes sociais. Temos de comunicar com o público de forma dinâmica, e viajar frequentemente ao estrangeiro para observar”, confessa Lencastre.

 

Pedro Lencastre não concorda quando se diz que em Macau há falta de consumidores de programação artística e descarta a necessidade de se avaliar a capacidade dos locais em apreciar arte. “Os cidadãos que ouvem música da rádio na rua e os agricultores que andam a cantarolar músicas durante as colheitas têm ambos olho para apreciar arte. Actos culturais com características locais podem ser encontrados em todo o lado, e qualquer pessoa tem a capacidade de apreciar obras de arte”, diz.

 

Sendo o Centro Cultural um espaço de educação do consumidor cultural, Lencastre acredita que a atracção da população para a compra de bilhetes é apenas um passo elementar. O segundo passo é fazer com que os consumidores participem activamente nos workshops, para aprenderem e criarem arte. O terceiro objectivo consiste em valorizar os trabalhos dos artistas e, por último, incrementar a importância dada pela sociedade à cultura artística.