Líderes Emergentes nas Indústrias Criativas

04 2016 | 14a edição
Texto/Jason Leong e Yuki Ieong

O sucesso das indústrias criativas reside, frequentemente, na forma se cultivam talentos. Conscientes disso, o governo de Macau e a comunidade em geral esforçam-se por encontrar os melhores meios para alimentar os talentos locais, em particular através de programas de aprendizagem financiados e de bolsas de estudo. Nesta edição, falamos com três líderes emergentes de diferentes áreas artísticas para entender os seus percursos profissionais e as suas perspectivas sobre a indústria.


Mok Sin Ting: Diversificando as Artes Dramáticas em Macau   Lei Ieng Wai: Pintando Macau

 

Lau Chi Keung: A Mestria do Som

 

A paixão de Lau pelo design de som e pelos efeitos sonoros nasceu da sua experiência de criação de uma banda com os amigos, quando era estudante do ensino secundário. Decidido a fazer disso profissão, foi bem-sucedido na obtenção de uma vaga para estudar produção de som no SAE Institute de Singapura. Porém, as propinas anuais, que chegavam às 300.000 patacas, não eram uma responsabilidade financeira fácil. Lau procurou financiamento junto da Fundação Macau, mas esta apenas podia apoiar programas das principais instituições internacionais. Assim, Lau decidiu seguir o conselho de alguns amigos e escreveu ao Instituto Cultural em busca de apoio financeiro, tendo conseguido um subsídio do Instituto.

 

“No início, a minha turma tinha cerca de 30 alunos. No final, apenas sete concluíram a formação.” O programa era intensivo, com uma elevada dose de trabalhos e apenas 15 dias de férias por ano, tendo muitos estudantes abandonado o curso. Na fase final, os estudantes tinham de entregar um ensaio por semana. “Para treinarmos o ouvido, o professor sintonizava habilmente a frequência na mesa de mistura e nós ficávamos quatro horas sentados a ouvir o ruído de fundo de uma TV a ser sintonizada”, conta Lau.

 

Em Singapura, os estudantes estrangeiros não estão autorizados a exercer uma actividade, mas isso não desanimou Lau, que procurou oportunidades, acabando por trabalhar durante um ano como engenheiro de som residente da ESO Symphony. Foi também a Taiwan entrevistar o engenheiro de som da Orquestra Sinfónica de Taiwan. Estas experiências proporcionaram amplos conhecimentos e enriqueceram a sua tese, além de o ajudarem a obter reconhecimento na sua área.

 

Como o chinês é muito falado em Singapura, Lau era frequentemente tomado por um habitante local quando ia a entrevistas para estágios. No entanto, rapidamente se percebia que ele não é um nativo. “Não creio que os estudantes sejam muito diferentes quando se trata da sua capacidade de aprendizagem e do desempenho profissional. A única desvantagem, sendo de Macau, é que o meu inglês falado é menos competitivo do que o dos habitantes locais.” Apesar da desvantagem em termos de fluência em inglês, Lau tem uma forte vontade de aprender e um espírito incansável. “Havia um estudante das Maurícias e eu estava muito curioso perante o facto de ele ter vindo de tão longe para aprender produção de som. Pelos vistos, há falta de profissionais de som no seu país, pelo que ele decidiu estudar nesta área. Ao regressar às Maurícias, ele criou uma empresa e iniciou projectos com grandes artistas.”

 

Durante a estadia de Lau, várias oportunidades de trabalho – como performances de quarteto, performances corais e bandas sonoras de documentários – ampliaram o seu portfólio. Em Macau, profissionais de efeitos sonoros apenas são necessários quando há grandes concertos e festivais. Todavia, em Singapura, Lau descobriu que as orquestras têm grandes expectativas quanto à perfeição do som, o que fazia com que fosse muito respeitado.

 

“No que se refere a ambientes musicais, a diferença mais significativa entre Macau e Singapura é que as orquestras de Macau valorizam mais as oportunidades de actuação do que as gravações em estúdio, enquanto, em Singapura, mesmo os pequenos concertos são objecto de gravações profissionais.”

 

As principais academias de música de Singapura têm, há muito, programas de gravação de música.

 

O realizador do premiado filme Ilo Ilo é um dos antigos alunos do Politécnico Ngee Ann, que financiou as filmagens. Isto mostra como o governo local está atento e promove a cultura e a criatividade à escala nacional. Lau citou os singapurenses: “Basta olhar para as escolas e para os programas da Universidade Nacional de Singapura para entender as políticas do governo”.

 

Havendo uma cena artística consolidada, os estudantes podem tentar progredir assim que aceitam trabalhos nas suas áreas artísticas. Lau sentiu que, por comparação, as indústrias criativas de Macau estão ainda numa fase inicial. Isto significa que há potencial de crescimento no que respeita às práticas criativas, mas tem a desvantagem de exigir que os artistas sejam pró-activos na busca de oportunidades. “Quando entrei para este sector, ganhei muito conhecimento ao entrevistar profissionais veteranos. Os nossos compositores de música para cinema, técnicos de iluminação e fotógrafos não oferecem estágios. Então, a questão é como progredir após se ter atingido um certo nível de profissionalismo?”

 

De acordo com as regras do subsídio, exige-se que aqueles que recebem financiamento regressem para trabalhar em Macau durante pelo menos dois anos no prazo de cinco após a conclusão do curso. Originalmente, a ideia de Lau era candidatar-se a empresas de jogo, mas um colega disse-lhe: “Podes ficar com o teu talento sufocado nas grandes corporações. É de longe preferível aventurares-te no exterior para aperfeiçoares primeiro o teu ofício”. Posteriormente, Lau chamou a atenção de alguns cineastas locais, e assim trabalhou em gravação áudio e banda sonora do bem-sucedido filme Macao Stories 3: City Maze.

 

No seu regresso a Macau, trabalhou sobretudo em gravações para filmes, em produção de som e na criação de bandas sonoras. O seu objectivo é encontrar tempo para prosseguir os estudos. Sorrindo, diz que, nos últimos anos, quando viajou para a China continental, teve o privilégio de conhecer colegas de notável talento. Ao fazer produção de som, deparou-se com um assistente que costumava trabalhar como estagiário no registo sonoro. Enquanto conversavam, Lau percebeu como estes jovens estagiários podem saber muito mais do que ele. “O interior da China tem uma cena artística florescente. Mesmo para os estagiários, as oportunidades de aprender são vastas, uma vez que lidam com uma enorme diversidade de géneros cinematográficos. Isso significa mais trabalhos para nós. Tenho de reconhecer que não sou mais do que um grão de areia. Na verdade, isso tem-me mantido motivado.”