Lei Ieng Wai: Pintando Macau

04 2016 | 14a edição
Texto/Jason Leong e Yuki Ieong

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Nascido em Macau nos anos 80, o pintor Lei Ieng Wai é um artista activo na cena local, bem como na Grande China. Terminando o curso de mestrado no Departamento de Pintura da Academia de Belas-Artes de Cantão, Lei obteve muita reputação com as suas obras. Para reflectir o glamour e a indulgência que permeiam a indústria do jogo em Macau, Lei utiliza tons luminosos, de modo a destacar e a registar a realidade social.

 

O seu estúdio está localizado na mezzanine de um antigo edifício Tong Lau. O espaço, em forma de triângulo, não tem muita mobília – apenas um sofá, uma mesa de café e alguns utensílios de pintura. Um cartaz gigante da cantora Tse On Kei, de Hong Kong, ocupa informalmente um lugar de destaque, em harmonia com os outros objectos no estúdio.

 

Lei tem um estilo de trabalho espontâneo. De sexta a domingo, ensina alunos, a maioria dos quais chegou até ele por passa-palavra. Durante o horário de expediente, ensina História da Arte em escolas secundárias e, no tempo restante, pinta ou descansa. “Quando tenho tempo para mim? Eu pinto mesmo no meu tempo de descanso. É algo inseparável da minha vida de todos os dias”, conta.

 

Com um estúdio próprio e uma carreira que está em ascensão, o seu caminho é fruto de anos de trabalho. Nascido numa família de artistas, chegou à arte naturalmente, e aprendeu a criar com lápis de cor, aguarela e guache. Mas a sua paixão reside na descoberta da pintura a óleo.

 

“Para mim, os lápis de cor são muito brilhantes e as aguarelas muito claras. A pintura a óleo é o meio mais adequado à minha expressão e estou mais familiarizado com as técnicas deste tipo de pintura. Mas, para dizer a verdade, são apenas materiais. A coisa real é o que o artista procura expressar”, explica Lei.

 

Quando era estudante, Lei não pensava tornar-se artista profissional, vendo a arte mais como um passatempo. Por não ter obtido grandes resultados na escola, começou por trabalhar no sector das tecnologias de informação, ganhando a vida a montar computadores. Mais tarde, trabalhou em logística e mudou-se para as artes por iniciativa do artista local Wong Ka Long, depois de ter terminado o ensino secundário. Decidiu, então, candidatar-se ao curso de Pintura na Academia de Belas-Artes de Cantão, a mais conceituada da China, o que constituiria um passo significativo na sua carreira.

 

“Naquela época, eu apenas sabia que adorava pintar. Não era bom nos estudos, nem em línguas estrangeiras e, na Macau de então, não existiam cursos focados unicamente na criação artística, pelo que escolhi aquele curso de Pintura, no qual podia desenhar e pintar o dia todo”, conta.

 

Quando entrou para a Academia, não estava familiarizado com o ambiente e as pessoas daquela estrutura. Lei percebeu que a formação em artes na China continental é bastante diferente da de Hong Kong e Macau, centrando-se mais no lado técnico e na aprendizagem do ofício do que no pensamento criativo.

 

“Lembro-me de que todas as semanas tínhamos de entregar trabalhos, pelo que cada dia era aplicado sobretudo no trabalho em curso ou em dormir, deixando pouco espaço para a criatividade. Há nisso prós e contras. Quando há inspiração, são necessárias técnicas para lhe dar forma.”

 

Concluído o curso, em 2008, Lei regressou a Macau para continuar a sua carreira. Nesse período, as suas obras chamaram a atenção das grandes galerias de Macau, e conseguiu uma bolsa de estudo da Art For All, que o ajudaria a terminar o mestrado em Pintura na Academia de Belas-Artes de Cantão, em 2010, um incentivo à continuidade da sua prática artística.

 

“Naquela altura, o programa de mestrado era de três anos. No primeiro ano, aprendíamos anatomia e desenho do corpo humano. Nos dois anos seguintes, abundava o tempo para o trabalho criativo. E eu podia usar as técnicas aprendidas durante a licenciatura para fazer um novo trabalho.”

 

Depois do mestrado, Lei conseguiu um estúdio próprio, tornou-se artista a tempo inteiro, trabalhando e ensinando. “Gosto de pintura, mas sei que, para sustentar a minha paixão, tenho de ter uma fonte de rendimento segura, pelo que entrei no ensino. Felizmente, Macau é uma cidade pequena, pelo que posso ensinar de manhã e voltar para o meu estúdio à tarde, para fazer o meu próprio trabalho, já que demoro apenas dez minutos a ir de um local para o outro. É essa comodidade que me faz ficar em Macau. Além disso, agora que Macau se está a tornar uma cidade mais global, o meu trabalho pode ser apresentado na Grande China e até mesmo internacionalmente. Portanto, não faz grande diferença onde estou, desde que possa continuar a produzir um bom trabalho”, diz Lei.

 

Quando era estudante, Lei deslocava-se ao campo, pintando as paisagens. Apaixonado pela natureza, rapidamente descobriu que, para ele, a alegria de pintar paisagens residia em trabalhar as tonalidades da luz. Esta conclusão deu um novo rumo ao seu trabalho. “Senti que a luz é um conceito muito especial e que pode representar o tempo em que vivemos. Actualmente, toda a gente fica em casa frente a um ecrã digital e, mesmo durante esta entrevista, há uma grande quantidade de luz projectada sobre nós. Nós vivemos as nossas vidas na manipulação da luz.”

 

Em 2011, Lei teve uma exposição individual intitulada Simpatia, na qual explorava as relações geradas pela intersecção da luz nos espaços. Mais tarde, a sua série Eco concentrava-se nos reflexos de luz que geram espaço. Nos últimos anos, Lei afastou-se do seu tema inicial, concentrando-se em ponto, linha e plano para retratar uma era pós-moderna em 3D, revelando a sua visão do relacionamento do eu com a sociedade e a luz. “O meu estilo de pintura tende para o uso de cores luminosas como reflexo da sociedade de Macau, uma cidade saturada pelo jogo, a sedução do dinheiro, os produtos de alta tecnologia, uma cultura do aqui e agora. Procuro expressar esta cultura através daquele que é o meu meio artístico.”

 

Depois de tantos anos de trabalho duro, Lei não dá sinais de abrandar. O que o motiva a trabalhar tão infatigavelmente? “É tudo uma questão de conseguir algum espaço para imaginar, e encontro esse espaço e essa liberdade na minha arte”, assegurou Lei.