Tendências da Indústria: Oportunidades de Emprego e Remuneração para Gestão Artística

10 2016 | 17a edição
Texto/Lei Ka Io


Informação Detalhada sobre Gestão Artística   O Futuro na Gestão Artística

Uma Introdução ao Ensino de Administração Artística em Macau


Nos últimos anos, o Instituto Cultural tem lançado o “Programa de Formanção de Recursos humanos na Gestão das Artes” e subsidiado grupos artísticos na formação dos gestores artísticos, causando alterações graduais na ecologia do sector. Havendo mais grupos artísticos dispostos a contratar, mais pessoas ficaram interessadas em trabalhar na área. Duas directoras executivas de companhias teatrais de Macau, Debbie Tai e Joanna Chan, lembram-nos que não qualquer pessoa com paixão pelas artes tem boas hipóteses de sucesso na indústria.

 

Debbie Tai: Maiores Expectativas da Indústria

 

Com o lançamento de um centro operacional adicional, a Cooperativa Sem Distância está a contratar novas pessoas para a equipa, sobretudo gestores artísticos. Debbie Tai, a directora, diz que o anúncio de emprego que colocaram atraiu uma quantidade invulgar de respostas. “Pensei que iríamos receber poucos CVs, mas acabámos por ter 20 candidaturas.” Segundo ela, o esquema de apoio recente do Instituto Cultural ofereceu perspectivas de carreira mais promissoras aos jovens interessados em tornarem-se gestores artísticos, e também permitiu que os grupos artísticos contratassem gestores a tempo inteiro.

 

Há uns anos, a gestão artística era vista como uma carreira sem brilho, sem grande reconhecimento social. Tai recorda-se que, antigamente, as companhias teatrais dependiam de voluntários, e não de trabalhadores a tempo inteiro, quando tinham espectáculos. “No passado, desde que se tivesse vontade e capacidade de trabalho, era-se contratado. Agora que os perfis de quem se candidata são mais variados, nós empregadores temos maior oportunidade de escolha, o que significa que a concorrência entre os candidatos também é maior.”

 

Mais escolha significa que também há mais expectativa face aos candidatos. Numa entrevista de emprego, Tai foca-se na experiência relevante e no percurso académico do candidato. Ela encoraja quem tiver interesse em entrar nesta indústria a procurar oportunidades de mostrar o que sabe fazer durante os anos em que é estudante, e a procurar os conselhos de quem é mais experiente, de modo a aprender mais sobre a profissão.

 

Joanna Chan: A Procura de Trabalhadores Empenhados

 

Outra companhia teatral, a Associação Teatro de Sonho, tem pessoal em part-time a suprir as suas lacunas em gestão artística. No entanto, estas pessoas não são recrutadas directamente pela companhia. No entanto, estas pessoas são escolhidas a dedo por Chan nas escolas onde ela dá aulas de teatro. Durante o semestre em que dá aulas de teatro em escolas, ela identifica estudantes empenhados dispostos a juntarem-se à equipa. “Neste período, contacto com alguns estudantes que têm potencial e que também compreendem a nossa filosofia.” Como todos foram seus alunos, não há necessidade de lhes dar formação a partir do zero. “Afinal, o que procuramos são pessoas dispostas a assumir responsabilidades.”

 

Em termos salariais, Chan sublinha que a sua companhia é um empregador consciente: os salários são superiores aos oferecidos pela McDonalds. Segundo Chan, as despesas da gestão artística são muitas vezes esquecidas quando as companhias teatrais planeiam os seus orçamentos, e isso faz com que o pessoal seja por vezes mal pago. As companhias teatrais estão mais dispostas a gastar os seus recursos na produção do espectáculo e na equipa artística. “Muitas pessoas acham, erradamente, que a gestão artística é uma coisa simples mas, na realidade, produzir um espectáculo dá muito trabalho, do princípio ao fim.”

 

Por norma, o salário de um gestor artístico não é muito elevado. Tai destaca que, em média, o salário mensal de um gestor artístico rondará as 8.000-15.000 patacas, dependendo da capacidade financeira da organização. “Honestamente, este nível salarial serve sobretudo para cobrir uma manutenção básica. Por isso, quem pretende um salário que lhe permita comprar uma casa ou um carro, não deve pensar que o vai conseguir neste tipo de trabalho.” Em termos de funções, um gestor artístico tem um âmbito limitado de promoção. Veja-se, por exemplo, o próprio trabalho de Debbie Tai na Cooperativa Sem Distância. Como a equipa de gestão artística é composta por apenas quatro pessoas, todas supervisionadas directamente por ela, há pouco espaço para cargos intermédios, ao contrário do que acontece nas estruturas do governo ou das empresas de jogo.

 

Ao mesmo tempo, as companhias teatrais normais não conseguem oferecer vantagens atractivas como seguros de saúde. O horário de trabalho é por vezes irregular e tem de ser ajustado à agenda dos espectáculos. “Não trabalhamos seis dias por semana, nem garantimos coisas como férias pagas e licenças de maternidade. A maior parte do tempo, temos de acabar o que estamos a fazer para podermos descansar em condições”, afirma Chan. Dadas as dotações governamentais inadequadas e a pressão das vendas de bilheteira, é difícil oferecer qualquer extra para além do salário mensal. Como a maioria dos fundos operacionais das companhias vem do governo, os prazos de candidatura ao subsídio deste têm um impacto no ritmo de trabalho da companhia, e por isso é frequente terem de estar a par do progresso de outros projectos. “Ao planearmos os nossos espectáculos, também temos de evitar conflitos de agenda com grandes eventos como o Desfile Por Macau e festivais de música, pois costuma haver falta de técnicos nessa altura.”

 

Além disso, segundo Chan, a rotatividade do pessoal é bastante comum na gestão artística.

 

“Muitas pessoas decidem sair porque não conseguem lidar com o stress associado à função”, acrescenta Chan. Por exemplo, muitos optam por terem trabalhos freelance. Deste modo, podem aceitar trabalhos de MC, interpretação dramática ou ensino, além da gestão artística.

 

Para quem está disposto a aceitar os contratempos de ter salário baixo e poucos benefícios adicionais, nem sempre é fácil ter sucesso nesta área, uma vez que a experiência é absolutamente crucial. Tai enfatiza a necessidade do trabalho em equipa na gestão artística. “Imagine que é uma pessoa artística que tem grande vontade de perseguir os seus próprios objectivos, a ponto de não conseguir aceitar facilmente conselhos de outros. Se for esse o caso, este trabalho não será muito atractivo para si.” Ao planear um programa, um gestor artístico muitas vezes tem de coordenar várias partes, sendo vitais boas capacidades de comunicação. Tai reitera que uma forma de fazer com que as pessoas se sintam respeitadas é telefonar-lhes em vez de enviar apenas mensagens de texto para tratar de assuntos importantes. Em vez de apressar os gestores para que entreguem os seus guiões é, por exemplo, mais eficaz relembrá-los da filosofia criativa por detrás do trabalho.

 

“Qualquer coisa que fique fora do trabalho criativo pertence à gestão artística”, afirmou. “É preciso ter determinação para resolver todo o tipo de problemas. E para o fazer, é preciso um coração forte, intrépido.”