Deserto Cultural: que futuro está reservado para o mercado editorial de Macau?

04 2015 | 4a edição
Texto/Si Wong, Wong Io Man, Ling Lui, Xu Yuehua

A China destronou a Alemanha e o Japão, e já é o segundo maior mercado editorial do mundo, apenas atrás dos Estados Unidos, de acordo com o Estudo das Tendências Globais do Mercado Editorial 2014, publicado pela Feira do Livro de Frankfurt. Taiwan e Hong Kong publicam sobretudo em língua chinesa e, apesar da dimensão editorial e dos números de vendas estarem aquém do Interior da China, já consolidaram a sua indústria editorial. Macau, por outro lado, tem ainda muitos desafios pela frente. Convidámos escritores locais para partilharem as suas experiências no sector editorial e a livraria independente Pin-to Livros para discutir a tendência de vendas de obras em Macau. Tendo em conta o vasto âmbito de publicações existentes, limitámo-nos à discussão das obras em papel em língua chinesa na área das humanidades.

 

Promover a literatura de Macau lá fora   Pin-to Livros: fiel defensora da edição independente

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Chau Ka Lai: “O mercado editorial local ainda está subdesenvolvido”

 

Os residentes e turistas de Macau poderão aperceber-se da dificuldade em encontrar publicações de escritores locais nas livrarias de Macau. Qual é a razão para isso acontecer?

 

O romancista Chau Ka Lai é bastante céptico em relação a este fenómeno. Na opinião do escritor de Macau, para que um livro chegue às mãos do leitor, é necessário muito mais além da produção do texto—o processo envolve a edição, correcção, vendas, marketing, publicidade e a aquisição de direitos para a distribuição no exterior. Estes canais, diz Chau, ainda não se estabeleceram firmemente em Macau. “Nos últimos anos, o mercado editorial de Macau parece estar a prosperar, mas grande parte dos livros são publicações amadoras, editadas por grupos ou organizações. O sector editorial local ainda se encontra numa fase embrionária. O trabalho de edição não é habitualmente remunerado e a qualidade dos livros deixa muito a desejar, mesmo que os autores não o consigam dizer abertamente. É urgente estabelecer padrões profissionais na indústria editorial em Macau”, refere Chau.

 

Olhando, por exemplo, para o romance de Chau Ka Lai, One to One. O autor admite que, embora a obra ainda esteja à venda em várias livrarias locais—Plaza Cultural Macau, Livraria Seng Kwong ou Pin-to Livros—o stock não vai ser reposto. Para o autor, a razão é clara: o livro não alcançou um número considerável de vendas e, além disso, as livrarias não conseguiram encomendar mais cópias à medida que se foi vendendo. “Em lugares onde esta rede de distribuição é mais madura, como é o caso de Hong Kong ou Taiwan, isto dificilmente acontece”.

 

Foi assim que, quando chegou a altura de publicar a colecção de ensaios Cruel Story of Youth, Chau optou por uma edição independente em conjunto com a livraria local Pin-to Livros. Os exemplares foram posteriormente distribuídos por algumas livrarias designadas. Com uma tiragem inicial de 500 cópias, o livro conseguiu vender pelo menos 400—em Macau este já é considerado um bestseller. “As livrarias fizeram um óptimo trabalho ao dar destaque ao livro e reabastecer o stock com base no número das vendas. Também ajudei na promoção online. Este tipo de marketing integrado só pode ser alcançado através da edição de autor. Apesar deste livro ainda estar a recuperar dos custos de publicação, a verdade é que se registaram boas vendas.”

 

Considerando a dificuldade que os escritores têm em publicar os próprios livros, torna-se evidente que a edição de obras em Macau ainda tem um longo caminho pela frente. A maior limitação, diz Chau, reside na falta de leitores.

 

“Em Macau, várias organizações editam as suas próprias publicações. Mas onde estão os leitores? O que acontece é que quem frequenta os eventos literários é um círculo limitado e sempre composto pelas mesmas pessoas. É importante que as autoridades da área da cultura consigam fomentar o desenvolvimento de um público mais abrangente. Isto poderá ajudar a criar um ambiente mais favorável aos escritores, permitindo que tenham um maior número de canais para expressar a sua criatividade e para chegar a um maior número de leitores.”

 

Chau sugere que Macau siga o exemplo de Hong Kong e Taiwan, estabelecendo uma plataforma online, onde seja apresentada a literatura local. “Em Hong Kong e Taiwan existem arquivos literários virtuais detalhados, onde se apresenta o que se faz localmente. Apesar destes arquivos não estarem directamente relacionados com o sector editorial, são instrumentais para a promoção dos livros e para o negócio da edição.”