Diz-se muitas vezes que o teatro é uma arte minoritária. A dimensão populacional de Macau tornou o público de teatro pequeno e a comercialização do mesmo tem sido difícil por muitas razões. Mesmo após dois a três meses de desenvolvimento e aprofundamento, muitas produções com grande potencial terão apenas três a cinco actuações no final, e o público será limitado. A fim de sustentar a vida das suas produções, e de permitir que os artistas e criadores desenvolvam os seus pontos fortes e as suas forças através de recriações, para que a indústria possa continuar a desenvolver-se, e para acumular energia criativa enraizada na comunidade local, muitos grupos artísticos começaram a fazer outras experiências, e novos caminhos têm gradualmente emergido. Alguns grupos de teatro optaram por entrar na Área da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau para criar mais espaço para o desenvolvimento através de uma maior base de público e de uma rede de teatro; algumas pequenas mas requintadas equipas de produção conseguiram, com o seu engenho, levar as artes performativas até perto do público; e alguns grupos de dança insistiram e persistiram até criarem uma obra que, em quatro anos, ganhou o seu reconhecimento.
Teatral Hiu Kok: ir além de Macau para construir uma audiência maior
“Só através do trabalho contínuo é que uma peça de teatro pode ser melhorada e aperfeiçoada, e assim a peça pode crescer, e também o seu criador.” Esta é a filosofia do administrador e produtor do Teatral Hiu Kok, Ben Ieong, que também explica porque é que o Hiu Kok tem estado activamente ligado a diferentes grupos de teatro na província de Guangdong nos últimos anos e continua a promover a série “Longrun”. Ben está com expectativas de que cada produção possa transcender o “destino” de ter apenas algumas actuações em palco, para que mais possam testemunhar a dedicação de actores e criadores. Na recepção do seu 45º aniversário, Hiu Kok assinou um acordo de alto nível de Cooperação Estratégica em Teatro e Artes de Performance com a Associação de Performance de Zhuhai e a Companhia de Comunicação da Cultura do Círculo de Hengqin de Zhuhai. Este nível de formalidade em que um grupo de teatro faz um acordo oficial com as autoridades competentes é raro em outros grupos de teatro locais de Macau.
O administrador e produtor do Teatral Hiu Kok, Ben Ieong, acredita que um espectáculo tem de ser encenado continuamente, a fim de polir tanto a peça quanto o seu criador para ser melhor e atingir mais progresso. Foto cedida por Cora Si
Deslocar-se para actuar na Área da Grande Baía é uma forma de estender a longevidade da vida da performance e a apresentação da obra 29 de Fevereiro foi o primeiro passo dado pelo Hiu Kok nesse sentido. Em Maio deste ano, o grupo foi convidado pelo Teatro de Caixa Negra de Foshan Chenmei para participar no primeiro Festival de Música e Comédia. No entanto, por que se escolheu a obra de teatro 29 de Fevereiro para apresentar no festival? Ben respondeu imediatamente: “Porque é barato!” A ironia da sua resposta vem do facto de que, na altura, havia apenas um actor e o cenário foi recriado no Interior da China, o que levava o custo a ser menor. Além disso, o tema da obra era bastante neutro. Tudo isso tornou a obra uma tentativa adequada para testar a reação do público. Posteriormente, com a resposta entusiasta da audiência e os comentários positivos dos críticos, foi imediatamente convidado por diferentes organizações da área da Grande Baía e teve uma boa oportunidade de continuar a produção nesta região. Infelizmente, a colaboração foi temporariamente interrompida no meio de uma nova onda da pandemia, mas este teste permitiu a Ben prever as possibilidades de desenvolver as produções de Macau na área da Grande Baía. E ressalta: “Quero apenas construir uma rede de performance e actuar em algumas cidades da área da Grande Baía antes de trazer as produções de volta a Macau. Ou talvez possamos ter um espectáculo de qualidade em Macau e depois levá-lo em digressão. É assim que podemos continuar a operar a nossa causa.”
A resposta da audiência de Foshan foi entusiasta. A audiência partilhou as suas opiniões com os membros de Hiu Kok após o espectáculo. Foto cedida pelo entrevistado
Para além das apresentações, no Teatral Hiu Kok também se trocam impressões, com o sector do teatro em Foshan, sobre o ambiente teatral dos dois lugares. Foto cedida pelo entrevistado
Depois de 29 de Fevereiro, Hiu Kok cooperou este ano com a Empresa de Desenvolvimento Artístico e Cultural Limitada para levar a obra Alguém em “Foragidos do Pântano” ao Interior da China. Ben disse que, para além de escolher as obras com temas neutros, as produções locais de Macau são também uma das razões da sua escolha. “Queremos exportar a nossa cultura e as nossas características utilizando, na medida do possível, produções locais, tais como Alguém em “Foragidos do Pântano” escrito pelo Lei I Leong. Não somos muito claros sobre quais são as características de Macau, porque, em comparação com Hong Kong, todos nós temos um passado cultural cantonês, o que torna fácil para que o público confunda Macau com Hong Kong. Afinal, quais são as características de Macau?”, diz. Durante a sua viagem a Foshan, conheceu o público local e ficou impressionado pela sua coragem de criticar e a clareza da lógica dos comentários relativamente aos espectáculos. No dia da realização das performances de teatro, o organizador criou um grupo no WeChat onde os interessados puderam juntar-se e discutir entusiasticamente, e onde o organizador também tomou a iniciativa de divulgar as fotografias, publicar os pontos de conversa pós-realização e até um pequeno clip da actuação para atrair os membros do grupo a partilharem os seus sentimentos e comentários. Esta é não só uma forma directa de obter os comentários e as opiniões do público, mas também uma forma de construir a imagem do grupo do teatro e a base da audiência.
O número limitado de espectáculos em Macau deve-se principalmente à dimensão da audiência ou à viabilidade do local da performance. Antes de ir para o estrangeiro, Hiu Kok foi um dos poucos grupos de teatro em Macau que continuou a desenvolver-se numa perspectiva de “long run”, sendo o seu recorde as 15 actuações da peça French Kiss no Edifício do Antigo Tribunal de Macau, em 2017. Ben salienta: “Precisamos de ter um público suficientemente grande para poder continuar a operar em regime de autofinanciamento. Este é o meu pensamento quando estou a dirigir o grupo de teatro numa direção de “long run”. Tenho a expectativa de que possamos trazer um público mais vasto à medida que tornamos os espectáculos mais acessíveis. O meu objetivo é muito claro, quero criar uma rota como esta.” Quanto ao plano “long run” e ao desenvolvimento a longo prazo do grupo de teatro, Ben acredita que, para que a indústria teatral se desenvolva bem, Macau e o Interior da China precisam de trabalhar em conjunto. Se dependermos apenas de Macau, “há aqui demasiados problemas”, incluindo locais e audiências, que não podem ser resolvidos a curto prazo. De facto, os teatros no Interior da China também precisam de desenvolver programas diferentes. Só ligando os dois locais é que a indústria teatral de Macau pode desenvolver-se de forma mais sustentável.