Em 2012, cinco jovens de Macau na casa dos 20 anos formaram a banda Catalyser e em apenas dois anos ficaram famosos. Para a secção Diálogos, entrevistámos Tomy Ho, o vocalista da banda, que nos revela as suas aspirações para o panorama da música independente.
Lei Chi Pang (L): Comentarista cultural
Tomy Ho (H): Vocalista da banda Catalyser
L: Como surgiu os Catalyser?
H: Actuámos no baile de finalistas da escola secundária e a partir daí resolvemos formar a banda.
L: Quando começou a fazer música?
H: Comecei a compor músicas e a escrever letras no 10.º ano de escolaridade. A música Attitude foi o tema principal do concerto no baile de finalistas. Muitas bandas começam por tocar covers, mas nós optámos por usar os nossos próprios trabalhos logo desde o início. Childhood Fairy foi um deles.
L: Existem várias bandas em Macau, mas poucas são as que usam questões sociais como temática. No entanto, a sua banda fala livremente sobre as questões como a violência doméstica e a protecção dos animais.
H: Preocupamo-nos com questões sociais e já na escola levantávamos a voz contra a injustiça. Por exemplo, quando um colega, membro do coro da escola, tinha uma nota excessivamente alta na disciplina de educação musical, sem aparente motivo, irrompíamos pelo gabinete do reitor a pedir explicações. Também nos recusámos a participar na viagem de finalistas por ser demasiado cara.
L: Eram uma dor de cabeça na escola, suponho.
H: Sim. Foi uma experiência que nos ensinou a lutar contra qualquer tipo de injustiça.
L: Já existia alguma banda antes de vocês que partilhasse da preocupação pelas questões sociais?
H: A banda Blademark tinha muitas músicas com o mesmo tópico, mas o heavy metal não agrada a todos. No entanto, as coisas evoluíram e o público já começa a aceitar os diferentes géneros musicais.
L: Que bandas o inspiram?
H: Gosto dos Supper Moment, de Hong Kong, e também dos Beyond. O concerto do último a que assisti motivou-me a aprender a tocar guitarra.
L: Segundo o seu ponto de vista, que papel deveria ter a música pop na sociedade?
H: Deve ressoar. Esperamos incentivar debates, não dar respostas conclusivas.
L: Qual o balanço destes dois anos de trabalho?
H: Houve grandes mudanças a nível pessoal, assim como na banda. Maturámos e progredimos em qualidade. Life in a Mould, de 2014, foi uma música importante que atraiu a atenção de muitas pessoas.
L: O que pensa no mercado musical de Macau?
H: Macau tem apenas 500 mil habitantes, é vital explorar outros mercados. O público de Hong Kong e do Interior da China, quando comparado com o de Macau, é mais aberto a outros géneros musicais. Quando actuámos no Festival de Música de Guangzhou, o público mal nos conhecia e esteve disposto a escutar-nos durante meia-hora. O público de Macau está a melhorar, está mais aberto a outros géneros musicais, por isso creio no potencial do mercado local.
L: Em Hong Kong, não se vai longe com um único reportório de canções cantonenses. Com este declínio do mercado musical cantonense, como podem os músicos de Macau abrir caminho?
H: As nossas letras são, basicamente, em cantonense. Tenho um grande sentido de pertença em relação à música cantonense. Podem pensar que é obrigatório cantar em mandarim quando se actua no Interior da China, mas apresentámos cancões em cantonense durante a nossa digressão e os resultados foram muito bons. Pergunto-me se as pessoas assumiram directamente que as canções em cantonense não são aceites no Interior da China e nem sequer tentam. O mais interessante da criatividade é explorar todas as possibilidades.
L: O que falta na indústria musical de Macau?
H: Personalidade. A falta de personalidade é fatal para a indústria musical. Se desistimos da originalidade para apenas satisfazer o mercado, todos os produtos se tornam iguais, tal como denunciamos em Life in a Mould.
L: Que opina sobre as indústrias culturais e criativas, um termo que tem estado muito em voga no discurso governamental?
H: Em primeiro lugar, o dever do Governo é subsidiar as indústrias. É necessário ter orçamento para pôr as coisas em marcha. No entanto, também nos devemos perguntar o que podemos aportar para as indústrias. Há coisas que podemos melhorar? É certo que os artistas se tornaram mais produtivos com a ajuda dos subsídios governamentais, o que é óptimo, mas acredito sinceramente que poderemos sempre encontrar uma forma de continuar o nosso trabalho se um dia nos falhar essa ajuda.