Rumo ao Profissionalismo: Programa de Subsídios à Produção de Álbuns de Canções Originais

08 2016 | 16a edição
Texto/Yuki Ieong

Algumas pessoas dizem que fazer uma canção é como cozinhar: enquanto a música e a letra são os ingredientes principais, processos como os arranjos, o acompanhamento instrumental, a mistura de som e a edição são como que os procedimentos de um chef, transformando os ingredientes num prato excelente. Por outras palavras, a capacidade do chef é decisiva para a qualidade do prato. Em 2014, o Instituto Cultural lançou o Programa de Subsídios à Produção de Álbuns de Canções Originais, que atraiu vários músicos e produtores locais de nomeada. Os candidatos subsidiados receberam apoio financeiro e acompanhamento profissional para produzir e lançar os seus álbuns, bem como para lançar trabalhos promocionais, e desse modo avançarem com as suas carreiras profissionais.


Subsídios: Um Gesto Bem-Vindo


Leong Chi Long e Chang Heng Ian foram dois dos artistas a beneficiar deste programa. Passaram as fases de selecção e de apreciação de documentos, e conseguiram completar e lançar os seus álbuns.


Leong tocou numa banda quando era estudante e desde logo percebeu a dificuldade em assegurar financiamento suficiente para a produção musical. A partir de 2010 começou a investigar a possibilidade de fazer um estúdio em casa, uma nova moda no ocidente, como forma alternativa de produzir música. Desde investir no seu próprio equipamento até trabalhar em composição e pós-produção, a experiência de Leong não é invulgar entre os músicos independentes locais. Confrontados com a falta de financiamento e não estando familiarizados com os processos de edição de álbuns, ao mesmo tempo que não podem contar com o apoio de um mercado musical maduro, os músicos locais têm muitas vezes de lançar álbuns pelos seus próprios meios.


A rápida ascensão da tecnologia digital veio remover algumas destas barreiras. Já não é essencial promover a música através de uma editora discográfica. Com as várias aplicações para gravação que se encontram disponíveis, música gravada pelos próprios artistas é cada vez mais popular. Leong está agradado com o aparecimento de nova música original da autoria de compositores locais. No entanto, na sua opinião, muitas destas produções musicais locais ainda estão bastante abaixo dos padrões aceitáveis, tendo muita margem para melhorar.


“Há estúdios de mistura de som para arrendar em Macau, mas estes espaços não têm equipamento profissional, e isto tem afectado negativamente a pós-produção.” Chang trabalhou em mistura de som durante seis anos e concorda com esta observação. Considera que algumas pessoas têm uma interpretação errada do que são os arranjos musicais e a mistura de som, por pensarem que são procedimentos lineares, e por isso os músicos não querem investir na pós-produção, acabando a maior parte dos fundos por ficar nas mãos dos agentes musicais. “Pode gastar-se MOP 1500 a 2000 só para contratar um baterista, e por isso ter um bom acompanhamento musical pode muitas vezes ser um entrave para os músicos. Quando o orçamento é curto para as expectativas existentes, é necessário tomar uma abordagem do género ‘faça você mesmo’ e trabalhar em diferentes aspectos da produção, desde os arranjos musicais, ao empréstimo de instrumentos, aos acompanhamentos, e mesmo a responsabilidades administrativas como o pedido de direitos autorais.”


Para melhorar a qualidade da produção, Leong decidiu investir regularmente em software. Juntamente com Chang, foi a Taiwan para receber formação num estúdio conceituado, aprendendo mais sobre produção em estúdio. Mesmo cantores de renome como A-mei e a banda Mayday gravaram ali os seus álbuns.


Com o financiamento governamental garantido para os seus álbuns, Chang e Leong concordam que o esquema de apoio é uma bênção para este sector profissional, sendo que os requisitos para participar são bastante rigorosos, com os candidatos a terem de entregar as canções dos seus álbuns, planos de marketing, propostas de produção do álbum e comprovativos de experiência de produção para avaliação. Chang considera que a fasquia de apoio mais elevada, de MOP 200,000, não é demasiado curta, uma vez que é possível adaptar os projectos para que se encaixem no orçamento disponível.


“Pensemos desta maneira: Eason Chan chega a pagar RMB 300.000 para contratar alguém do interior da China para escrever uma canção. Há bandas no ocidente que gastam HKD 700,000 apenas para um acompanhamento musical ou para comprar equipamento profissional de edição de canções.”


Os músicos sugerem também que o governo possa considerar alargar os subsídios para que possam incluir formação e intercâmbio com o exterior, para encorajar mais colaborações com bandas do exterior, ou para ajudar os músicos locais a captar mais canais internacionais de marketing através do financiamento da cooperação regional.


Melhorar a Qualidade Através da Competição


Chang Peng Fai, vice-presidente do Instituto Cultural, tem tido um papel activo na supervisão do Programa de Subsídios à Produção de Álbuns de Canções Originais, que pretende cultivar compositores e produtores talentosos, e ajudá-los a estabelecer contactos com empresas musicais para que possam desenvolver as suas carreiras profissionais. O programa tem também por objectivo melhorar a qualidade musical através da competição. Chan refere que, no que toca à música original feita em Macau, o primeiro grande passo é conseguir mostrá-la, enquanto o passo seguinte será ajudar os músicos a conseguir algum reconhecimento.


“No passado, a indústria musical local sofria de falta de talento, e como consequência há menos empresas musicais dispostas a investir aqui. Nos últimos anos, algumas empresas do sector começaram a preparar os seus artistas para apresentá-los aos mercados no exterior. Ao mesmo tempo que as produtoras musicais de Macau vão amadurecendo, nós continuaremos a explorar formas de usar este programa para aumentar o poder de atracção da música criada localmente, dentro de um quadro de avaliação e formação profissional.”


Agora que os álbuns subsidiados na primeira edição deste programa de apoio estão a ser preparados, e que já foram seleccionados os beneficiários da segunda edição do programa, Chan assinala a avaliação positiva do júri: “Alguns dos músicos de Hong Kong que foram júris deste programa de apoio nos últimos dois anos estão impressionados com o nível dos trabalhos entregues por estes produtores estreantes.” Actualmente, o Instituto Cultural está a lançar a Série de Programas de Subsídios para as Indústrias Culturais e Criativas, que cubram áreas como a produção de álbuns musicais, criação de amostras de design de moda e cinema. Chan revela ainda que o Instituto Cultural está a planear lançar um novo programa de subsídios para apoiar outros aspectos da indústria musical e para promover o desenvolvimento deste sector em Macau.