Quando falamos sobre filmes, a primeira coisa que nos vem à mente são os blockbusters de Hollywood. Porém, a China e os países de língua portuguesa também têm uma série de produções de qualidade ao dispor. O Festival de Cinema entre a China e os Países de Língua Portuguesa, um dos principais eventos da primeira edição do “Encontro em Macau — Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa” organizado pelo Instituto Cultural de Macau, apresentou à cidade 24 filmes de qualidade chineses e lusófonos. O festival de cinema foi uma oportunidade para os habitantes de Macau saberem mais acerca do cinema lusófono e uma excelente forma de as comunidades lusófonas do território conhecerem melhor o cinema chinês.
O festival exibiu 24 filmes, divididos por três secções: “Filmes em Chinês”, “Filmes em Português” e “Imagem‧Macau”. No âmbito do festival, também foram organizadas palestras e seminários após as projecções. A curadora do festival de cinema, Rita Wong, apresenta-nos a visão e a direcção do festival de cinema.
Um festival, três secções e 24 filmes chineses e lusófonos
Na secção “Filmes em Chinês”, foram incluídas quatro longas-metragens chinesas contemporâneas. Já filmes lusófonos foram nove a ser exibidos no festival, oriundos do Brasil, de Portugal, de Cabo Verde, de Moçambique, da Guiné-Bissau e da África do Sul.
Quanto à secção “Imagem‧Macau”, ela recolheu filmes portugueses e chineses produzidos entre 1923 e 2015 por realizadores portugueses. Estes preciosos filmes são curtos, mas a partir deles o público pode ter um vislumbre de Macau em diferentes eras. Entre estes filmes contam-se quatro documentários de 35mm e uma curta-metragem filmada em 1960 cedidas pela Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, I.P. Os cinco filmes de 35mm na “Secção Especial 1” desta parte tiveram um excelente acolhimento por parte da audiência. A organização teve de acrescentar mais sessões antes da exibição oficial devido à elevada procura.
Selecção profissional feita por críticos de cinema
O festival contou com uma equipa profissional na selecção dos filmes. “Convidámos Joyce Yang, crítica de cinema e membro da Sociedade de Críticos de Cinema de Hong Kong. Ela tem um conhecimento profundo sobre o cinema chinês contemporâneo”, explica Wong. “Os filmes chineses seleccionados para o festival são muito terra-a-terra. Por exemplo, temos Livre e Fácil, que tem lugar numa aldeia deserta e cheia de neve do norte da China durante a era pós-industrial. A selecção de filmes portugueses foi parcialmente efectuada por Clarence Tsui, um experiente crítico de cinema e uma profunda compreensão do cinema português fazem dele a escolha perfeita para esta função.”
Filmes contemporâneos chineses e filmes clássicos portugueses
As obras mais aguardadas do festival foram o filme de abertura, Ira de Silêncio, e os filmes de encerramento, Aniki-Bóbó e Douro, Faina Fluvial. Ira de Silêncio é uma obra da autoria do emergente realizador chinês Xin Yukun, que ganhou reconhecimento no meio pelo seu primeiro trabalho, The Coffin in the Mountain. Xin possui um estilo de realização criativo e único e é a escolha perfeita para apresentar o progresso da indústria cinematográfica no interior da China. Os filmes de encerramento, Aniki-Bóbó e Douro, Faina Fluvial, são, respectivamente, a primeira longa-metragem e a primeira curta documental do lendário cineasta português Manoel de Oliveira. Este mestre do cinema esteve activo durante mais de oitenta anos, desde os tempos em que o cinema era mudo até à década actual. “Escolhemos a primeira longa-metragem e o primeiro documentário de Manoel de Oliveira para o encerramento do festival, e o filme de Xin para a abertura, para criar um contraste entre as obras modernas e clássicas. Queríamos proporcionar uma experiência cinematográfica especial ao público”, explica Wong.
Nos bastidores
Não é tarefa fácil começar um festival de grande escala do zero. Para que o primeiro Festival de Cinema entre a China e os Países de Língua Portuguesa fosse bem-sucedido, foram feitos grandes esforços nos bastidores. “Para começar, tivemos de encontrar parceiros de curadoria, como Joyce Yang e Clarence Tsui. Também tivemos de nos preocupar com as projecções, de contactar com as produtoras e tratar da logística dos filmes. Foi essencial ter uma logística bem montada”, afirma Wong, explicando que a preparação foi de extrema importância: “Depois de os filmes chegarem, precisávamos de os processar. Fazê-lo exigiu muito trabalho! Alguns filmes têm formatos complicados. Uns são digitais e outros são em 35mm. Também houve filmes que precisaram que tratássemos de pormenores extra como acrescentar legendas em inglês e efectuar visionamentos prévios. Mas valeu a pena o esforço de fazer com que a audiência pudesse ver Macau em épocas diferentes.”