Cola Wong e a Arte da Cenografia

12 2016 | 18a edição
Texto/Chan Lap Hang

A cenógrafa Cola Wong formou-se no Departamento de Drama e Teatro da Universidade de Taiwan em 2009. Depois disso, trabalhou como cenógrafa em Macau durante dois anos. Durante algum tempo, sentiu-se bloqueada criativamente. De modo a ultrapassar os constrangimentos do processo de design, em 2011 inscreveu-se num mestrado em cenografia para performance, no Royal Welsh College of Music & Drama, na Grã-Bretanha. Depois de recarregar baterias, voltou a Macau e tem estado a ensinar na Escola de Artes do Instituto Politécnico de Macau e na Escola de Teatro do Conservatório de Macau. Mas Wong é provavelmente mais conhecida pelo seu trabalho como cenógrafa. Ela criou cenários e adereços para teatro, dança e ópera, incluindo a icónica rosa vermelha em Blood Wedding e o cenário fantasmagórico em Viagem ao Fim da Noite.


Wong estudou design de performance em Taiwan e no Reino Unido e aprendeu muito em ambos os lugares. Ela refere que Taiwan segue o estilo dos Estados Unidos da América e a atenção está na capacidade de apresentar coisas. Os estudantes têm de aprender técnicas como costura, carpintaria, construção de cenário e pintura. “Em Taiwan, habilidades e técnicas são importantes no processo de treino. Por exemplo, se é preciso criar um cenário, temos de recolher amostras de diferentes tipos de madeira e escolher o mais apropriado para fazê-lo. Deste modo, as nossas habilidades melhorarão. É dada importância à semelhança entre o esboço e o produto final.” Depois de se formar em Taiwan, Wong voltou a Macau. Os cenários que criava na altura reflectiam totalmente as suas ideias e o seu estilo costumava ser bastante realista. Os cenários de O Diário de Anne Frank são um bom exemplo disso.


Por outro lado, a educação na Grã-Bretanha dá mais ênfase ao pensamento criativo. Wong explica: “Tomemos como exemplo a produção de uma caneca. No Reino Unido, não importa quão ocupado se está, é impossível não fazer uma pausa para um café. Durante essa pausa as salas estão fechadas e não é permitido que os estudantes entrem, mesmo que ainda não tenham terminado o seu trabalho. O professor explica que não é importante acabar de fazer a caneca, porque a caneca tem uma forma fixa. Não encontraremos nada de interessante mesmo que acabemos de fazê-la. O segredo está em encontrar a parte mais bela da caneca, dado que o tempo é limitado, e depois pensar em onde parar e reflectir sobre o que fazer. As coisas apenas se tornarão interessantes quando não seguirmos os métodos habituais.”


Na Grã-Bretanha, Wong aprendeu que existem mais possibilidades no processo de design e criação. “Na Grã-Bretanha, os professores não param ou criticam os alunos por estes terem uma opinião diferente. Pelo contrário, eles estimulam-nos a pensar e repensar. Quando terminamos o nosso trabalho, o professor aponta as partes que lhe agradam. Se quisermos que a peça seja apelativa para ele como um todo, precisamos de pensar, descobrir o problema e resolvê-lo por nós mesmos.” Depois de terminar os estudos na Grã-Bretanha, o estilo teatral de Wong alterou-se de realista para simplista, e sente-se agora mais capaz de perceber as verdadeiras necessidades de uma peça de teatro. Ela foi a responsável pelo guarda-roupa e cenografia de Viagem ao Fim da Noite, que venceu a 14ª edição do Prémio de Artes Tashin.


Tendo experienciado estes dois lugares e estando agora de volta a Macau, como será que Wong avalia a cenografia local e que estilos considera que Macau deve seguir? “Actualmente há apenas cinco cenógrafos em Macau. A maior parte de nós estudou em Taiwan e herdou o estilo americano, isto é, centramo-nos nas habilidades e nas técnicas. Mas ainda não temos as infra-estruturas e os professores necessários, por isso é muito prematuro dizer que temos uma forte cultura teatral aqui.”


Na Grã-Bretanha, os cenógrafos têm normalmente assistentes que ajudam a terminar outras partes do trabalho. O designer apenas tem de se preocupar em desenhar. Uma vez feito o esboço, será entregue ao produtor. Mas em Macau, como em Taiwan, o cenógrafo tem de tratar da pintura, da produção do cenário, dos adereços e de outros serviços técnicos de palco. Basicamente, é uma operação centrada numa única pessoa. Além disso, Wong aponta também que Macau não tem quaisquer estúdios de cenografia para produzir cenários, tendo que depender de Hong Kong. “Olhemos para a Academia de Artes Performativas de Hong Kong e para a Escola de Design e Performance de Taiwan. Todas têm estúdios de cerâmica bem equipados, estúdios de carpintaria e metalúrgica para fazerem os cenários, bem como salas de pintura. As instituições de Macau ainda não têm estas infra-estruturas. E o ensino de design teatral está ainda longe de ser perfeito.”


Sobre como desenvolver o sector da cenografia em Macau, Wong diz: “É impossível uma pessoa apenas fazê-lo num curto período de tempo. Primeiro, Macau tem de ter uma instituição que esteja disposta a oferecer infra-estruturas bem equipadas para o design teatral, como um estúdio cénico, uma sala de pintura e um estúdio de produção de adereços. Em segundo lugar, é necessária uma plataforma para apresentar o trabalho. Se o governo estiver disposto a dar oportunidades aos estudantes para que possam participar no design, e se existir um estúdio cénico em Macau, os estudantes poderão então aperfeiçoar as suas habilidades durante os estágios. Finalmente, é preciso contratar quadros qualificados para ensinar os diferentes aspectos do design teatral, para poder melhorar a experiência de aprendizagem dos estudantes.”