Wong Cheng Pou

Experiente professor de arte e colunista, Wong Cheng Pou viveu em Tóquio nos anos 80 e em Londres na década de 90. Tem especial interesse pelas indústrias criativas.

Ponto de partida

1a edição | 01 2015

Sejamos honestos: se me perguntarem qual é o negócio mais rentável do mundo, terei de dizer que é o jogo. Mas uma sociedade que cresça sustentada na indústria do jogo, tem de saber pensar a longo prazo sobre o que fazer com esses lucros. Caso contrário, no final, quando os jogadores se voltarem para outros lugares mais atractivos onde possam jogar, a sociedade terá de acordar para uma dura realidade.


Refiro-me, claro, à nossa cidade. O rápido crescimento da indústria do jogo, na última década, aumentou o custo de vida, a vários níveis. Macau atravessa agora um período difícil, com as receitas a entrarem em fase de desaceleração. O governo percebeu finalmente – mesmo que essa constatação venha demasiado tarde – que as indústrias criativas podem ser uma alternativa para o futuro de Macau.


A triste realidade é que um casal que queira ter uma vida confortável em Macau – constituir família, comprar um lugar de estacionamento para o carro, contratar uma empregada doméstica para tratar dos filhos e outros. – necessita de um rendimento mensal nunca inferior a MOP100.000 se quiser realizar os seus sonhos com o actual custo de vida. Mas que outra indústria além dos casinos pode pagar esse tipo de salários? É simplesmente um desperdício que jovens qualificados não tenham outra escolha que não seja trabalhar no mundo dos jogo. Odeio admiti-lo mas a verdade é que, para a maioria das pessoas, os casinos são única saída em Macau.


Não precisam de acreditar em tudo aquilo que digo, as provas estão à vista. Por exemplo, os casinos estão cheios de funcionários entediados. Em relação aos que estão agora em construção, haverá sem dúvida ajustamentos a fazer devido ao abrandamento das receitas do jogo. Em resumo, quero dizer que não só os casinos dificilmente continuarão a pagar salários loucamente elevados, como os requisitos para a contratação de novos quadros serão muito mais exigentes. Aqueles que se dedicaram durante anos aos estudos, estarão dispostos a desperdiçar tudo num casino? E que competências podem adquirir nos casinos que sejam úteis noutro tipo de emprego?


A realidade é brutal. Muitos de nós não querem encarar o facto de que estamos a avançar contra um muro. Ao invés de esperarmos que governo nos salve, devemos preparamo-nos rapidamente para trabalhar numa Macau com indústrias mais diversificadas.


Antes de mais, devemos gastar algum tempo a tentar perceber o que vende nesta cidade. Com cerca de 30 milhões de turistas por ano, os produtos culturais e criativos podem certamente encontrar um mercado em Macau. O que é que um casal precisa de criar e vender para ter um rendimento mensal de MOP100.000,00? Serão os famosos e procurados pedaços de carne seca trufada? Ou as bolachas de amêndoa em forma de Ruínas de São Paulo? Ou algo mais moderno, como uma lancheira com aquecimento automático, que contenha algumas das iguarias de Macau, como o famosos wontons ou o pombo assado com molho de soja?


Conseguiremos pensar em alguma coisa para vender se nos esforçarmos por fazê-lo pela perspectiva de um visitante curioso. No entanto, é preciso considerar se estamos realmente interessados em ser empresários. É definitivamente um trabalho mais exigente do que um emprego de escritório das nove às seis.


Se estão interessados e querem saber mais sobre saídas para as indústrias culturais e criativas, fiquem atentos à próxima edição.