O Sri Lanka tem uma costa ocidental incrível. Apanhei um comboio lento de Colombo para sul ao longo da costa. O comboio era lento. Isso deu-me conforto, pois sabia que chegaria ao meu destino no final. O comboio seguiu ao longo da linha, com o seu ritmo inalterado enquanto passageiros entravam e saíam em cada estação. O comboio avançava a uma velocidade constante, permitindo aos passageiros ver os cenários pelos quais passavam. Se acontecesse de vermos crianças que acabavam mais um dia de escola, éramos saudados pelo seu sorriso quando nos acenavam e gritavam “olá”. Quando se é bem recebido por estranhos durante uma viagem a solo, sentimos que deixamos de estar sozinhos.

Bentota, localizada a 65 quilómetros de Colombo, no sul, é um destino turístico popular na zona costeira. Depois de sair do comboio, apanhei um Tuk Tuk e pedi ao motorista que me levasse até o Lunuganga Estate, que fica a poucos quilómetros da estação. O carro deixou a movimentada área costeira e avançou para o interior da ilha. Os arrozais cobertos de verde começaram a surgir no meu campo de visão. Algumas garças andavam pelos campos, tentando encontrar alguma comida.

Depois de conduzirmos três quilómetros numa estrada de asfalto estreita, o nosso Tuk Tuk avançou por uma estrada de cascalho ainda mais estreita. A viagem acidentada durou cerca de 500 metros e parou num portão de ferro. Atrás do portão, via-se uma grande seringueira ao longe. A árvore ali estava, orgulhosa, enquanto a luz do sol atravessava as suas folhas, projectando contrastes de sombra e luz. Uma pequena campainha de metal estava presa ao portão de ferro. Eu pude imaginar o dono desta mansão, algumas décadas antes, vindo aqui para passar férias. Ele parava o carro no portão e tocava a campainha. Então os seus empregados apareceriam apressadamente e abriram a porta para o seu mestre, dando-lhe as boas-vindas.

O Lunuganga Estate

O Lunuganga Estate é enorme. Espaços para descanso, meditação e jantar foram projectados em todos os cantos da propriedade, onde há belas vistas, de modo a deixar o mestre apreciar os cenários. Foram também colocados sinos nesses locais. Eles produzem sons diferentes para que os empregados saibam para onde o seu mestre quer que se dirijam.

Geoffrey Bawa comprou esta propriedade em 1947. Costumava ser uma plantação de borracha deserta. Depois de comprar este pedaço de terra, o arquitecto começou a fazer renovações e experiências. A renovação durou até 1988 quando Bawa sofreu um acidente vascular cerebral. Bawa gastou toda a sua energia e dinheiro nesta propriedade, tornando Lunuganga uma das obras mais importantes de Bawa.

Na década de 1960, Geoffrey Bawa já era um arquitecto emergente na Ásia. A arquitecta exclusiva da Aman Resort, marca líder internacional de resorts da Austrália, Kerry Hill, é altamente elogiada pela indústria, e também tem grande influência de Bawa. Antes de os projectos com piscinas infinitas e materiais de reciclagem se tornarem populares, Bawa já havia explorado esses conceitos e era muito bom a fazê-lo.

Bawa representa também uma fusão perfeita de oriente e ocidente. Tais características são o que torna os arquitectos asiáticos únicos. Nascido no Sri Lanka sob domínio britânico, Bawa recebeu educação britânica desde criança. Depois de se formar em Direito no Reino Unido, regressou ao Sri Lanka e trabalhou como advogado durante vários anos. Foi apenas ao chegar à meia-idade que decidiu seguir a carreira de arquitecto. O choque de diferentes ideias e culturas acabou por servir a Bawa como fonte de inspiração. Com base nos meus anos de experiência em entrevistas, um bom criador não pode concentrar-se apenas numa área específica. Em vez disso, um bom criador saberá alguma coisa sobre tudo. Se um criador não sabe muito sobre história, geografia ou cultura, não podemos esperar que ele produza algo fora de série.

Bawa foi solteiro toda a vida e, portanto, não havia descendentes que pudessem reivindicar sua herança. Depois de Bawa falecer, os seus amigos criaram uma fundação para continuar o legado que ele deixou. O Lunuganga Estate está agora aberto aos visitantes e ao mesmo tempo é também um hotel-boutique que oferece vários quartos na mansão.

Se amamos a natureza, então é preciso respeitá-la e aprender com ela. A experiência de vida e a carreira de um arquitecto estão ligadas à natureza. Na propriedade, é muito comum encontrar algumas árvores selvagens que parecem bonsais enormes. Alguns deles estão colocados no centro da casa, obstruindo a visão das pessoas. Alguns vão crescendo selvagens nas escadas de uma descida, bloqueando o caminho das pessoas. O designer decidiu não remover as árvores. Em vez disso, integrou-as no design. Se estas plantas já estavam naquela propriedade, então deve haver alguma razão para isso. Esta decisão aparentemente aleatória requer sabedoria e capacidade.