Ruby Chen

Vencedora do Prémio Literário de Taipé, Prémio Literário China Times, Prémio Literário Lin Rong San e Prémio Literário Liang Shih-chiu. Ruby gosta de poesia e ensaios, de fotografia e desenho; adora descobrir o velho e o novo, o humor requintado e a verdade no absurdo; espera poder desempenhar um papel num dos filmes de Lou Ye e escrever letras para músicos que admira.

As festas itinerantes do século XXI em Nova Iorque

6a edição | 06 2015

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A Orquestra Dreamland tem organizado desde 2011 uma festa de jazz de dois dias no Verão, na Ilha do Governador em Nova Iorque, como se o próprio Gatsby lá estivesse.


A noite vibrante de Nova Iorque tem desde sempre reflectido fielmente o pulsar da cena artística contemporânea.


Foi assim desde a era do jazz de Fitzgerald à época do punk rock e da música disco. A literatura, arte e música que melhor definem gerações podem encontrar-se em qualquer local da cidade, seja nos altos círculos literários ou nas festas de jovens rebeldes.


Numa altura em que a casa espiritual do rock underground de Nova Iorque, o CBGB, anuncia o seu fim, os nova-iorquinos enfrentam uma profunda crise: sendo estes ícones um símbolo do passado, será que a Nova Iorque do século XXI ainda pode surpreender?


Os veteranos de Nova Iorque que gostam de uma boa aventura não estão felizes com a gentrificação da cidade. Times Square parece uma Disneylândia virtual. Tudo em Nova Iorque parece simplesmente demasiado “seguro”, demasiado agradável, demasiado classe média. Mesmo que a cena artística se mantenha excepcionalmente competitiva, eu entendo as suas preocupações. Nova Iorque sempre foi destemida e criou alguns dos mais impressionantes e inovadores artistas da história. Mas a geração Beat e os jovens do Hotel Chelsea são coisas do passado. Toda a gente está à espera da próxima grande época cultural.


Nesta era digital, os jovens interagem uns com os outros de formas completamente distintas. É a era pós-moderna, em que qualquer pessoa pode ser famosa. No final do século XX, grupos que advogavam uma subcultura independente—como é o caso do Rubulad—emergiram na periferia de Nova Iorque. A organização Dances of Vices foi estabelecida mais tarde, em 2007, dando novo ímpeto a estas festas underground. Estes grupos”alternativos mainstream” não queriam estar confinados a locais, horários ou temas. Para eles, qualquer festa podia ser temática e qualquer participante podia ser uma estrela. Os horários e locais escolhidos eram imprevisíveis e anunciados online. Estas são verdadeiramente “celebrações itinerantes”. Antigamente, as festas em Nova Iorque estavam sempre muito ligadas a clubes ou celebridades. Os novaiorquinos provavelmente não esquecerão o espírito ultrajante do Club Kids, ou como jovens músicos rock começaram as suas carreiras no CBGB. Andy Warhol, Madonna e Keith Haring encontravam-se e causavam sensação em espaços emblemáticos como o Club 57, Mudd Club, Studio 54 e o Tunnel.


Todos estes lugares já fecharam as portas. O que interessa na Nova Iorque do século XXI é que cada um encontre os seus 15 minutos de fama. A disseminação da cultura já não acontece de cima para baixo e orientada por celebridades e grandes marcas. Tornou-se muito mais acessível e igualitária. Dances of Vice, por exemplo, é um grupo com um crescimento orgânico e bem-sucedido. Os seus fãs vêm de todos os lados: internet, música, artes performativas, efeitos especiais, teatro e outras indústrias. Em geral, o seu público é um grupo de pessoas diverso e interessante. Cada espectáculo pode parecer como um filme realizado numa época e num espaço diferente, os efeitos visuais e sonoros são de cortar a respiração. Em poucos anos, Dances of Vice começou a desenvolver outros trabalhos, como passagens de modelo, organizações de festas, negócios na área da cosmética e do vestuário, que ajudam a financiar o grupo.


Talvez seja assim o novo mundo em que vivemos, graças à era digital. Neste mundo, nenhum homem é uma ilha e ninguém precisa de liderar. Se houver vontade, qualquer sítio pode ser um palco, em qualquer momento.