Lam Sio Man

Nascida em Macau, atualmente a viver em Nova Iorque. Dedica-se a exposições independentes, à escrita e ao trabalho em educação artística. Em 2019, foi curadora da Exposição Internacional La Biennale Di Veneza, inserida nos Eventos Colaterais de Macau, China. Trabalhou no Departamento de Assuntos Culturais da cidade de Nova Iorque, no Museu dos Chineses na América e no Instituto Cultural do Governo da RAEM. É licenciada pela Universidade de Pequim em Língua Chinesa e Artes, e mestre em Administração de Artes pela Universidade de Nova Iorque.

2020, Algumas artes on-line interessantes

41a edição | 10 2020

Embora a epidemia de 2020 cancelasse muitas actividades artísticas presenciais, também permitiu que um grande número de criações e plataformas artísticas on-line brilhasse. À medida que 2020 está a chegar ao fim, gostaria de aproveitar este texto para partilhar alguns dos projectos artísticos on-line mais impressionantes que vi este ano.


Pixy Liao: Selecione a sua viagem


Talvez seja a minha exposição artística on-line favorita deste ano.


Pixy Liao é uma artista fotográfica, cujo trabalho gira em torno do seu parceiro, subvertendo a narrativa tradicional sobre as relações entre os sexos. Na exposição online “Selecione a sua viagem” (www.thethingsitellyou.com/exhibition-pixy-liao), transformou alguns dos seus trabalhos recentes numa série de perguntas ou jogos de escolha múltipla. Ao contemplar cada obra, o espectador tem que responder a uma questão subjectiva de escolha múltipla relacionada com o conteúdo da obra, e as diferentes escolhas vão orientá-lo para diferentes apreciações das viagens. Os títulos das obras estão escondidos no jogo e aparecerão apenas conforme a participação e a reposta do espectador. É uma exposição que interfere intelectualmente com o mundo da Internet e que, como afirmou Pixy Lao no seu ensaio curatorial,“repensa a sua obra pela forma de diversão, e ao mesmo tempo, produz uma concepção contrária àquela das galerias de vídeo omnipresentes”.


Special Special: Partilha de tela


Antes do lançamento da encomenda “Fique em casa”, a loja artística Special Special, localizada na Baixa de Manhattan, tinha acabado de abrir a exposição do grupo “Ferramentas de Artistas” (specialspecial.com/pages/exhibitions?s=384057737296), mas, infelizmente, por causa do surto da epidemia, a exposição transportou-se para a plataforma on-line um dia antes da abertura. Entretanto, esta loja, orientada para o divertimento da arte funcional, ainda insiste no seu carácter lúdico. Desde Março, iniciou o projecto artístico digital “Partilha de tela”, formulado especialmente para o WeChat, convidando artistas para submeterem as suas obras que poderão ser vistas, descarregadas ou transmitidas ao vivo seja por textos, aplicativos, programas pequenos ou memes. Um dos números de Junho (bit.ly/2FN5ZqL) apresentou ferramentas de protesto para ajudar as pessoas a permanecerem anónimas, inclusive “A máquina de limpeza de imagens” de Everest Pipkin e Body Blur de Xach Branch, concebido especificamente para os utilizadores do Instagram. Depois de fotografar marchas de protesto, os utilizadores podem aplicá-los para desfocar rostos pessoais e eliminar dados sensíveis. Este projecto “Partilha de tela” ainda está a ser actualizado, apresentando uma variedade de intervenções de arte e concepção em meios digitais que são simultaneamente divertidos e pragmáticos, sendo que já não é aqui questão se serão as ferramentas digitais ou a arte em si o mais importante. 


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Usar “A máquina de limpeza de imagens” de Everest Pikin para desfocar rostos pessoais (Imagem fornecida por Special Special)


Trigger: Maratona de críticas artísticas


O último caso apresentado é uma plataforma artística que nasceu na Escola de Design de Rhode Island, Trigger. Antes da epidemia, Trigger organizou salões de línguas chinesa e inglesa sobretudo em várias escolas artísticas no Leste dos Estados Unidos, convidando artistas (muitos deles chineses) para discutirem os seus trabalhos com profundidade. Após o surto da epidemia, a actividade passou a estar on-line, e há sempre centenas de pessoas que participam neste salão artístico on-line, às 21 horas, à sexta-feira. A comunidade artística engrandecida começou então a organizar esta maratona de críticas artísticas (bit.ly/3iQfm7k), onde se juntam curadores e artistas de várias áreas e regiões, criticando obras de 12 artistas. Cada edição da maratona são dois dias, durando ininterruptamente seis horas por dia. O mais interessante da actividade é que os organizadores não selecionam os artistas com base nos seus currículos ou na maturidade dos seus trabalhos, mas sim na possibilidade de gerarem mais tópicos de comunicação. Enquanto que este tipo de críticas artísticas intensivas são, para estudantes de pós-graduação de escolas artísticas europeias e americanas, uma formação básica, Trigger estende esta prática para além da academia. Na minha opinião, isto é, de facto, uma introdução popular aos modos de pensamento e aos métodos de criação da arte contemporânea. Depois de participar, teremos uma nova compreensão sobre este trabalho, física e mentalmente, intensivo.