Cheong Sio Pang

Cheong vive em Pequim, trabalha em investigação académica e gosta de escutar música clássica. As suas publicações incluem An Oral History of the Concert Band in Macao. Ele é também o autor de Macau 2014 – Livro Musical do Ano e Macau 2015 – Livro Musical do Ano. Cheong adora aprender.


Vibrações artísticas

7a edição | 07 2015

Fui ao Centro Cultural de Macau assistir à exibição de um documentário sobre Mio Pang Fei. Há uma sensação de um certo peso neste filme. Vinte minutos depois de começar, perto de 1/6 dos espectadores começaram a sair, uns atrás dos outros. Antes da sessão, o meu entendimento sobre a pintura contemporânea era limitado, principalmente porque se trata de um género muito abstracto para o gosto das pessoas. No entanto, desde a sua modesta vida como pintor até à posterior realização das suas ideias artísticas, o documentário de 90 minutos consegue mostrar de que forma os conceitos abstractos podem fazer parte da vida quotidiana. O realizador português Pedro Cardeira apresenta uma perspectiva do estilo de pintura dos artistas chineses completamente nova, olhando para os trabalhos orientais, singularmente elegantes, de uma perspectiva ocidental. Além disso, após ficar a conhecer melhor os momentos que marcaram a vida do pintor, o alcance artístico das suas obras foi sentido de forma mais profunda.


Na pintura moderna e contemporânea, a utilização deste meio para captar e expressar a singularidade da criatividade e personalidade de cada um é uma forma infalível de evocar emoções poderosas entre os espectadores. Citando Herbert Read, quando os artistas se projectam na sociedade ou na vida, manifestam o seu valor através de trabalhos que reflectem as suas interpretações subjectivas sobre a realidade empírica e metafísica. A arte não é necessariamente a evocação de uma experiência estética, mas a relação entre a arte e a vida das pessoas é óbvia. O valor das obras de arte é fortemente determinado pela sinceridade transmitida pelos trabalhos do artista.


Ao contrário da cultura popular, as belas-artes não abrangem apenas as artes visuais, mas também outras formas de arte, sobretudo porque as diferentes formas de arte partilham inerentemente elementos comuns—a ligação entre a música e as artes visuais é especialmente frequente. A beleza confusa dos trabalhos de Georges Seurat (1859-1891), um pintor impressionista mais conhecido pelas suas pinturas Pontilhistas, parece ter uma interligação com a música de Debussy.


Do mesmo modo, La cathédrale engloutie de Debussy e a série Rouen Church de Monet revelam objectos que reflectem diferentes cores em diferentes condições de iluminação. Debussy sublinhou a polaridade claro-escuro da música através de uma mudança na utilização dos acordes, afastando-se da utilização do acorde dominante três/seis, comummente utilizado na música alemã ao longo do século XIX. Debussy também utilizou a extensão dos acordes, como a sétima, nona ou décima primeira. Esta utilização livre de acordes, conjugados com um ritmo estruturado de forma menos rígida, revela o carácter musical único das suas obras.


Mas claro, esta tendência não resultou unicamente do trabalho do compositor. Debussy foi influenciado pelos salões culturais de Paris dessa altura, onde artistas de diferentes áreas participavam em debates. Isto permitiu um processo de alquimia entre as artes, que levou ao florescimento do Impressionismo.


Quando uma sociedade precisa de mais acção cultural, o diálogo parece ser um factor muito importante. Nos últimos tempos, vários cafés abriram as portas, para servirem como espaços onde comer ou beber, mas também agradáveis plataformas onde vários tipos de pessoas podem interagir. Infelizmente, dedicar uma vida à séria descoberta da arte não é uma tarefa fácil. Mio Pang Fei deixou claro que, na sua opinião, a arte é como uma religião. No entanto, sem conhecimento, não existe fé. Por isso, escolher um estilo de vida em que a arte está presente—em vez de escolher o progresso material—pode enriquecer a vida de cada um.