Un Sio San

Un obteve a dupla licenciatura em Língua Chinesa e Arte (produção de cinema e televisão) da Universidade de Pequim e o duplo mestrado em Estudos da Ásia Oriental e Estudos da Ásia-Pacífico da Universidade de Toronto nas áreas de investigação em literatura e cinema. Ganhou o prémio de Henry Luce Foundation Chinese Poetry & Translation e foi poeta residente no Estúdio Criativo de Vermont nos EUA. Foi convidada a marcar presença em vários festivais internacionais de poesia tal como o festival realizado em Portugal e trabalhou como letrista da primeira opera interior original de Macau “Um Sonho Perfumado”. Publicou algumas colecções de poemas nos dois lados do estreito e tem-se envolvido no meio académico e em publicação por muito tempo, além de escrever colunas para meios de comunicação em Taiwan, Hong Kong e Macau.


Refracção Multifacetada como um Diamante—
Uma Experimentação de Videopoesia

45a edição | 07 2021

Foi por mero acaso que produzi uma curta-metragem, O Murmúrio dos Icebergues, com a duração de 18 minutos, que estreou no Centro Cultural de Macau, mostrando um universo paralelo ou a casualidade imperceptível entre os glaciares derretidos e Macau, cidade a sul da China, que tem vindo a ter que realizar aterros. A película, que apesar de ter sido categorizada como um documentário, é, na verdade, uma videopoesia (video poetry).


Em termos da linguagem e da estrutura, a poesia digital em vídeo combina elementos de diferentes sectores, tais como filme, música, multimédia e jogo. Considerado como um estilo vanguardista da poesia moderna de Taiwan, a videopoesia tem algo em comum com a Liberatura, o movimento literário de vanguarda da Polónia, que utiliza, frequentemente, técnicas poéticas como a interpretação incorrecta, a colagem e o deslocamento. A origem da poesia em vídeo em Taiwan remonta à sua divulgação, desde 1988, pelo poeta de Taiwan Luo Qing, à experimentação na década de 80 da Poetry-TV realizada por Lin Qunsheng, e à abordagem a este género de Lin Yaode.


Sendo um berço importante da poesia em vídeo para os países e regiões de língua chinesa, o Taipei Literature Festival tem realizado, anualmente, desde 2007, o Concurso de Recolha de Poesia em Vídeo, em que os participantes enviam filmes com a duração de 15 segundos ou de 3 minutos; o objectivo é expandir as fronteiras da poesia moderna, da música e do vídeo e levar a poesia em vídeo ao público em geral. Por outro lado, a Taipei Literature Film Festival, uma das séries de actividades do Festival de Literatura de Taipei, foi criada em 2010. Focada na literatura e no filme, como mostra o próprio nome, foram já organizadas exposições que tiveram como temas principais Marguerite Duras e Mishima Yukio. O evento procura abranger a definição da literatura e do filme bem como promover uma forma mais livre de escrita e de leitura.


A dedicação de longo prazo de Taiwan à poesia em vídeo e ao filme literário criou uma plataforma para os profissionais cinematográficos poderem trabalhar, alargou a receptividade do público e estimulou, ainda, a cooperação entre o sector editorial e o cinematográfico na exploração da indústria criativa. O documentário experimentalista Le Moulin, realizado por Huang Ya-li, é um bom exemplo de combinação perfeita entre a literatura e o vídeo. A película não só ganhou o prémio de Melhor Documentário de Cavalo de Ouro como aproveitou o momento para este seu plano ganhar novo impulso.


Huang Ya-li utilizou as informações recolhidas e publicou o livro Le Moulin em parceria com os investigadores literários de Taiwan. Lançou, também, a iniciativa de mini-experimentação The Black Waves, em que vários artistas foram convidados a criarem, juntos, uma obra artística performativa utilizando diferentes meios, como o vídeo, a poesia, a ginástica ou o som. As duas obras receberam diversos prémios importantes nas áreas, respectivamente, editorial e da arte visual. Mais tarde, teve lugar, no National Taiwan Museum of Fine Arts, a exposição SYNCHRONIC CONSTELLATION-Le Moulin Poetry Society and Its Time: A Cross-Boundary. Através da publicação, da exposição, da arte performativa e dos fóruns, Le Moulin Poetry Society tornou-se num tema importante da arte, e aumentou exponencialmente a influência do filme literário.


Tom Konyves publicou, em 2011, Videopoetry: A Manifesto, que definiu o videopoema como “um género de poesia exibido numa tela, que se distingue pela justaposição poética e temporal de imagens com texto e som”. A película Le Moulin, classificada como documentário, é, na verdade, uma videopoesia enquanto Poetries From the Bookstores, realizado por Hou Jiran, é um documentário categorizado como videopoesia. No entanto, quaisquer que sejam as diferenças, ambos os filmes ganharam uma boa reputação e tiveram boa bilheteira, mesmo além-fronteiras. 


O meu interesse não consiste em diferenciar as definições de documentário, vídeo documental e videopoesia, mas sim em apresentar esta última, uma forma de arte menos conhecida pelo público de Macau, que possibilita a exploração de expressões de texto e de vídeo, como se de uma refracção multifacetada de um diamante se tratasse.


O documentário Macau Boxing House, exibido na mesma sessão do meu, conta com uma justaposição interessante em que uma celebridade da internet de Macau filmou um mesmo objecto para fazer um vídeo curto, o que ligou com sucesso os dois tipos distintos de espectadores (consegui, assim, eu também, ter um novo conhecimento das obras da Manner Culture Enterprises Ltd.). Nesta era dominada pelo vídeo curto, o facto de que este tem a excentricidade como princípio mas é popular entre o público faz-me pensar se a separação rigorosa entre os dois, documentário e vídeo curto, é devida à persistência profissional dos trabalhadores cinematográficos ou apenas a uma atitude conservadora de “delimitar o chão como uma prisão”?


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Cartazes do documentário O Murmúrio dos Icebergues


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A conversa após a exibição do filme