Ling Lui

Jornalista de Actualidade Informativa em Hong Kong, interessada em viagens e com um fraco por palavras.

Raising the Bar

5a edição | 05 2015

Não há muito tempo, numa terça-feira, o Club 71 em Central estava a abarrotar e todas as atenções estavam viradas para um académico: Lokman Tsui, professor assistente da Escola de Jornalismo e Comunicação da Universidade Chinesa de Hong Kong falava sobre o fim da internet. Abordava temas como o conceito do terceiro espaço dos salões parisienses, bem como a monitorização e espionagem na internet. O público, de cerveja na mão, fazia ocasionalmente perguntas, participando na discussão.


Ao mesmo tempo, Chan Sze Chi, professor universitário do departamento de Religião e Filosofia da Universidade Baptista de Hong Kong, bebia um copo no Room Bar, em Sheung Wan, e conversava sobre o encontro entre Oriente e Ocidente, um tema que estuda há vários anos. Naquela mesma noite, dez académicos marcaram presença em vários bares de Hong Kong, dando uma palestra enquanto bebiam um copo. O evento, baptizado de Raising the Bar, nasceu pelas mãos de uma série de intelectuais de Nova Iorque.


Durante muito tempo as universidades foram consideradas torres de marfim. Alguns acreditam que o conhecimento divide a sociedade em diferentes classes e aumenta as disparidades económicas. Mas a verdade é que alguns académicos têm tentado levar o conhecimento até às comunidades. A Universidade de Columbia e a Universidade de Nova Iorque começaram a oferecer palestras gratuitas ao público, mas não foi fácil trazer as pessoas a estas instituições, devido a um complexo de inferioridade ou a um sentimento de não-identificação com a arquitectura destes espaços. E assim as torres de marfim mantêm-se – o público continua a sentir-se excluído.


Foi com base nesta situação que um grupo de economistas, escritores, banqueiros, actores e médicos criou o Raising the Bar. Estas pessoas recorreram a bares de bairro como escolas para partilhar ideias com o público em geral, tornando a educação numa parte integrante da cultura popular da cidade e transformando tópicos académicos complexos em discussões animadas. Os temas vão da anatomia ao género musical Fado e a questões relacionadas com a Coreia do Norte, entre outras. Cada sessão dura 40 minutos e os espectadores sentem-se mais à vontade para levantar questões num ambiente descontraído e de interacção.


O Raising the Bar é patrocinado pela Universidade de Columbia e a Universidade de Nova Iorque. Os participantes devem inscrever- se antecipadamente, embora o evento seja gratuito – cada qual só precisa de pagar a sua cerveja. Em Abril, numa só noite, foram organizados 50 seminários em 50 locais de Nova Iorque, desde as mais sofisticadas adegas até aos bares de bairro. O evento foi patrocinado pela Time Out de Nova Iorque e atraiu cerca de seis mil participantes.


Este evento começou em Nova Iorque, expandiu-se a São Francisco, Hong Kong e Sydney, e os organizadores já estão a considerar outras cidades, como Boston e Londres. Há também planos para a criação de “escolas flash” em estações de comboio e a transformação de bares em espaços para workshops, permitindo que estes estabelecimentos concorram a fundos de investigação.


Nos últimos anos, as sociedades ocidentais estão cada vez mais receptivas à organização de intercâmbios académicos em locais como bares ou cafés. Por exemplo, o The Troubadour de Londres é um conhecido espaço para discussões sobre poesia, com sessões de escrita, leitura e de discussão de temas relacionados. Numa colaboração com a University College London e o bar Bright Club dá formação artística aos investigadores para que estes possam apresentar em palco de forma animada e bem humorada os resultados das suas pesquisas. Também são organizadas actividades do género no Museu da História Natural, para tentar atrair mais pessoas a prosseguir os estudos no ensino superior. A Associação Britânica para o Avanço da Ciência estabeleceu o SciBar, uma escola de ciências dentro de um bar, que permite o intercâmbio científico enquanto se bebe uma cerveja.


Hong Kong também tem organizado eventos semelhantes em bares e clubes nocturnos, embora isso tenha acontecido apenas durante o Festival Literário Internacional da cidade. Durante este período, escritores conhecidos são convidados a partilhar as suas experiências em bares na zona de Central. Mas, por enquanto, não é nada que seja organizado numa base semanal ou mensal, nem que faça parte do dia-a-dia da população de Hong Kong.