MFM: entrar na Ilha Formosa

06 2020 | 39a edição
Texto/Lai Chou In

Quando comparamos o cenário actual com o que de há uma ou duas décadas, apercebemo-nos de que o modo como consumimos música mudou drasticamente nos últimos anos. As plataformas de streaming de música dominam agora a cena musical, à medida que os álbuns físicos vão desaparecendo gradualmente do radar das pessoas comuns. Os artistas musicais precisam de encontrar formas inovadoras de criar para acompanharem esta tendência. Nesta edição, convidámos representantes de três grupos de Macau para partilharem connosco as suas histórias. Alguns abriram estúdios em nome próprio, outros desenvolveram uma carreira além das fronteiras do território e outros ainda deixaram de estar nos bastidores para ficarem sob a luz dos holofotes. Não obstante as suas diferenças, têm algo em comum: todos procuram diversificar o seu trabalho para permanecerem competitivos neste mercado local emergente.


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MFM: entrar na Ilha Formosa

 

Os MFM, uma banda local formada por Hyper Lo, Josie Ho e Adriano Jorge, entraram no mercado taiwanês no ano passado, lançando o seu primeiro álbum em mandarim, Our Stories. O grupo de três elementos rapidamente conquistou novos fãs em Taiwan e ganhou a reputação de ser o equivalente macaense dos F.I.R. da Ilha Formosa. A indústria musical madura de Taiwan marcou de forma indelével os MFM. Em Taiwan, a banda obteve um estatuto que poucos artistas musicais de Macau possuem ou obtêm com o seu álbum de estreia.


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A Seed Music planeou uma série de actividades de promoção de álbuns para os MFM em Taiwan  Foto cedida pelo entrevistado

 

Planeamento cuidado

 

Ver editoras discográficas apostar em artistas musicais macaenses fora de Hong Kong e Macau é algo bastante raro. Todavia, os MFM conseguiram assegurar um contrato com a editora taiwanesa Seed Music, que os ajudou a lançar Our Stories. Veteranos da indústria como o produtor de música malaio Jovi Theng viram potencial nos MFM e apoiaram-nos após ouvirem duas das suas demos em mandarim. Em seguida, começaram a ajudá-los, apresentando-os a editoras de Taiwan. “Três delas abordaram-nos, entre as quais a Seed Music. Nunca pensámos ter a oportunidade de escolher que editora queríamos”, disse Lo.

 

Os MFM tiveram muitas outras “estreias” em Taiwan. Our Stories foi lançado no final de Setembro, e os MFM visitaram Taiwan todos os meses, pelo período de uma semana, entre Agosto e Dezembro do ano passado. “Quando estivemos em Taiwan, sentimos pela primeira vez que éramos muito bem tratados enquanto artistas”, recordou Ho, dizendo que tudo foi bem planeado antes da chegada da banda a Taiwan. Desde a conferência de lançamento aos eventos de promoção, sem esquecer as entrevistas com a comunicação social, tudo tinha sido tratado. A única coisa com que tiveram de se preocupar foi com o seu espectáculo.


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A Seed Music planeou uma série de actividades de promoção de álbuns para os MFM em Taiwan  Foto cedida pelo entrevistado

 

Um ecossistema maduro

 

A cena musical de Macau apresenta um ambiente completamente diferente. Desde que se formaram em 2017, os MFM têm estado envolvidos em diversos aspectos relacionados com a sua carreira, dada a pequena dimensão da sua empresa em Macau. São obrigados a estar atentos a pequenos detalhes como os comunicados de imprensa, guiões de eventos e coisas mais complicadas, como a recepção a convidados importantes. “Em Taiwan é super confortável. Eles tratam das coisas por nós”, afirmou Ho. Além disso, The Lonely Song e Perfect, dois dos principais singles do álbum, foram vendidos para empresas de karaoke em Taiwan com licença de direitos de autor por tempo limitado. “Somos novos no mundo da música em Taiwan, ainda não temos reputação. Mas ainda assim conseguimos vender as nossas licenças por um preço razoável. Isto demonstra claramente que a indústria musical em Taiwan é bastante sustentável”, opinou Lo.

 

A maturidade da indústria musical em Taiwan também se reflecte noutros detalhes. Segundo os MFM, os anfitriões de eventos que conheceram em diversos espectáculos e actividades tinham-se preparado exaustivamente de antemão. Conheciam bem os antecedentes e a música dos MFM. Por exemplo, o famoso apresentador de televisão Mickey Huang, de Taiwan, foi convidado para apresentar a conferência de lançamento do novo álbum dos MFM. Huang foi capaz de falar sobre cada uma das canções do álbum. A audiência nos diferentes eventos também revelou excelentes reacções. “Sentimo-nos respeitados”, afirmou Jorge. “Conseguimos perceber que eles (os taiwaneses) são apaixonados por música e por aquilo que fazem.”


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A Seed Music planeou uma série de actividades de promoção de álbuns para os MFM em Taiwan  Foto cedida pelo entrevistado

 

Uma ausência de fontes de rendimento

 

Our Stories é inspirado na vida quotidiana e em diferentes emoções. “Esta é a primeira vez que lançamos um álbum em Taiwan. Por isso, quisemos criar algumas canções contagiantes sem perder o nosso estilo (as canções cantonesas) e, no fundo, transmitir boa energia”, disse Jorge. Comparativamente aos dois álbuns anteriores do grupo em cantonês, Our Stories teve custos de produção mais elevados. Por exemplo, a produção de The Lonely Song envolveu mais de 30 produtores de locais como Beijing, Malásia, Singapura e Macau, um esforço que visou contribuir para que a canção pudesse alcançar um público mais vasto.

 

No entanto, apesar de o álbum dos MFM estar a ter uma boa prestação no mercado de C-Pop, continua a ser improvável que o grupo ganhe dinheiro a vender álbuns físicos, dada a situação vigente no sector. “A parte mais difícil de fazer um álbum é a procura de financiamento. Além dos apoios do governo, a maior parte das verbas veio do dinheiro que ganhámos a efectuar espectáculos comerciais”, afirmou Lo, destacando que o grupo aceitou vários espectáculos comerciais no passado, mas que, devido à pandemia, não só foi afectado nas suas oportunidades de concertos como também teve de mudar os planos que tinha para Taiwan. Segundo Ho, artistas de outros territórios podem contar com receitas oriundas de anúncios, além do dinheiro ganho em concertos, mas em Macau há uma ausência de oportunidades para os músicos encaixarem rendimento através da publicidade. Os artistas musicais da cidade dependem, em grande medida, da participação em eventos comerciais, afirmou a cantora.


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A Seed Music planeou uma série de actividades de promoção de álbuns para os MFM em Taiwan  Foto cedida pelo entrevistado

 

Ir além de Macau

 

Os MFM planeiam lançar uma nova canção em mandarim este ano, após a contenção da pandemia da COVID-19. Além disso, a banda também pretende produzir uma nova canção em cantonês caso obtenha financiamento suficiente. Macau continuará a ser o principal mercado dos MFM, mas é crucial uma maior aposta no mercado taiwanês. Josie Ho encoraja os artistas locais a saírem de Macau. “O mercado de Macau é demasiado pequeno. Ainda não há um ecossistema a nível da indústria. As melhores oportunidades de trabalho para os músicos passam por concertos próprios e presenças em eventos. Mas... e depois?”, questiona a cantora, comentando que as oportunidades são essenciais para se poder explorar outros mercados. “Todavia, acima de tudo, é preciso estar preparado. Há que agarrar as oportunidades quando elas aparecem”, conclui Adriano Jorge.


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A Seed Music planeou uma série de actividades de promoção de álbuns para os MFM em Taiwan  Foto cedida pelo entrevistado

 

Recomendações:

The Lonely Song:

Our Stories: