PKP: novas formas de criar música

06 2020 | 39a edição
Texto/Lai Chou In

Quando comparamos o cenário actual com o que de há uma ou duas décadas, apercebemo-nos de que o modo como consumimos música mudou drasticamente nos últimos anos. As plataformas de streaming de música dominam agora a cena musical, à medida que os álbuns físicos vão desaparecendo gradualmente do radar das pessoas comuns. Os artistas musicais precisam de encontrar formas inovadoras de criar para acompanharem esta tendência. Nesta edição, convidámos representantes de três grupos de Macau para partilharem connosco as suas histórias. Alguns abriram estúdios em nome próprio, outros desenvolveram uma carreira além das fronteiras do território e outros ainda deixaram de estar nos bastidores para ficarem sob a luz dos holofotes. Não obstante as suas diferenças, têm algo em comum: todos procuram diversificar o seu trabalho para permanecerem competitivos neste mercado local emergente.

 

PKP: novas formas de criar música

 

Pun Kuan Pou (PKP) é um nome bastante conhecido na cena musical de Macau. Na última década, PKP trabalhou com vários músicos enquanto produtor e ajudou-os a produzir singles de sucesso. Recentemente, aliou-se ao experiente intérprete Sean Pang para criar um EP que é bastante diferente da música pop cantonesa convencional, na esperança de atrair atenções e expor a audiência a diferentes possibilidades musicais.

 

Dos bastidores para os holofotes

 

O EP intitula-se After Party e recebeu financiamento do Programa de Subsídios à Produção de Álbuns de Canções Originais 2018, lançado pelo Instituto Cultural. O programa de subsídios providencia um apoio financeiro até 150 mil patacas a álbuns seleccionados, ao mesmo tempo que oferece orientações de um painel de especialistas. Pang foi quem teve a ideia inicial de estabelecer uma parceria, enquanto planeava um álbum pop com canções descontraídas e diferentes das tendências actuais. Em seguida, abordou PKP, na esperança de que este pudesse assumir a função de produtor executivo do álbum. Pang ficou responsável pela interpretação, pela escrita das letras e pela composição das quatro canções do álbum. PKP, por seu lado, trabalhou sobretudo na composição e na produção.

 

Originalmente, pensámos que a colaboração seria similar às que tive no passado, em que eu basicamente estava ao serviço dos artistas. Eles diziam-me que ideias tinham e eu auxiliava-os com a composição, os arranjos e a produção. Surpreendentemente, quando estávamos a improvisar, percebi que o meu contributo era muito importante na apresentação geral das músicas”, afirmou PKP, salientando que o álbum é produzido sob o nome de ambos, ao invés de destacar sobretudo Pang.

 

Este modelo de colaboração é popular há já muito tempo nos mercados estrangeiros. Há DJ e músicos famosos, como Calvin Harris e Mark Ronson, que possuem um maior controlo sobre as canções do que os intérpretes. “A nossa descrição deste álbum é um pouco diferente da dos fãs em Macau. Penso que, mais do que os artistas, aqui a principal estrela é a própria música. Queremos aproveitar esta oportunidade para promover este estilo musical relativamente novo junto do público e provar que ele também é capaz de funcionar”, declarou PKP.


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Foto cedida pelo entrevistado

 

O declínio da era dos CD

 

Quando PKP e Pang concluíram a gravação das quatro canções, cada qual tinha um estilo musical diferente das restantes. No entanto, todas tinham em comum o tema do sexo, com o objectivo de criar imagens da vibe de uma afterparty que nos deixa aquela vontade de repetir. Segundo PKP, o álbum está actualmente na fase de design da capa e da embalagem. Com lançamento previsto para Junho, o álbum ainda não tem, todavia, quaisquer previsões de edição em CD físico. Ele será transmitido através de plataformas de streaming de música online e sites de downloads. O álbum físico será distribuído sob a forma de edições limitadas, mas no formato USB. “Actualmente, os CD são um bocado inúteis. Eu já nem tenho um leitor de CD”, revelou PKP, comentando que houve mudanças enormes no modo como as pessoas consomem música. Isto é particularmente verdade em Macau, onde o mercado musical ainda é algo imaturo. A maioria dos artistas locais não tem popularidade nem exposição, o que significa que, caso não consigam obter um subsídio do programa governamental, estes precisam de encontrar apoio financeiro noutro lado para poderem lançar um álbum.


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PKP é um artista musical activo em Macau que explora novas formas de obter rendimentos  Foto cedida pelo entrevistado

 

Uma revolução industrial na música

 

Antigamente, os artistas preferiam expressar os seus conceitos musicais através de um álbum completo. Todavia, o problema é que hoje em dia muitas pessoas não encontram tempo para ouvir um álbum inteiro, sobretudo se forem álbuns de artistas que não conhecem. Aliás, já é um feito digno de registo quando conseguem acabar de ouvir uma canção. Actualmente, é relativamente fácil produzir música, pois tudo pode ser feito com um computador. Depois, é só preciso fazer o upload para a Internet. Obviamente, este processo não gera necessariamente dinheiro, mas gera tráfego. E este é um desafio para a indústria. Ou, como eu gosto de dizer, é uma revolução industrial na música.”

 

Sendo um dos fundadores da empresa de produção musical local Chessman Music Industry, PKP tem algum conhecimento acerca desta “revolução industrial” na cena musical. Ele destaca que a empresa fornece, sobretudo, um serviço completo e abrangente para os artistas locais, além de produzir música para o governo e para outras organizações. No entanto, num mercado que muda tão rapidamente, a empresa tem de agarrar todas as oportunidades de negócio que venham ao seu encontro. Recentemente, a companhia tem explorado activamente novas formas de obter rendimento, de que é exemplo a entrada no mundo da educação musical.


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Foto cedida pelo entrevistado

 

Meio de auto-expressão

 

PKP concluiu os seus estudos universitários em educação musical em Macau em 2003. Mais tarde, em 2007, foi estudar música pop para a Austrália. Após terminar o curso, regressou a Macau e trabalhou na linha da produção musical. Isso não significa, porém, que alguma vez tenha tido relutância em actuar no palco. Em 2010, PKP conquistou o Prémio Canção Favorita na 8.ª gala dos Prémios de Música Pop da TDM, com o tema One Day, uma canção que o próprio PKP produziu e interpretou. No entanto, dados os constrangimentos do mercado em Macau, é relativamente mais fácil trabalhar na linha da produção musical. “Mas eu adoro divertir-me. Por isso, espero ter mais oportunidades de aparecer frente ao público. A música é o meu meio de auto-expressão”, concluiu PKP.

 

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