Nos Bastidores das Artes Criativas

06 2017 | 21a edição
Texto/Lai Chou In

Em Macau, há muitas actividades artísticas e culturais à escolha, sejam programas organizados pelo governo ou eventos de incentivo às artes criativas liderados pela comunidade. No entanto, já pensou no trabalho por detrás dos textos e materiais auxiliares dos eventos, ou nos esforços que um planeamento cuidadoso exige? Como se costuma dizer: “A preparação assegura o sucesso, enquanto a sua ausência é o caminho para o fracasso”. Para este número, convidámos alguns representantes dos sectores da música, moda e teatro a partilhar a sua experiência na construção de uma marca e no planeamento de programas. Seja uma cerim?nia de entrega de prémios com a participação de alguns milhares de pessoas ou um bazar dirigido a cerca de uma centena delas, planear devidamente a iniciativa é essencial.

 

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Jones Chong Cho Lam: Afirmando Talentos Através de Cerimónias de Prémios

 

No início de cada ano, vários eventos de prémios de música, em diferentes escalas, são realizados em Hong Kong, divulgando o talento de várias estrelas pop de língua chinesa. Embora aqueles que assistem a essas iniciativas no conforto das suas casas em Macau possam não se lembrar dos prémios ganhos por essas estrelas de Hong Kong, as cenas tocantes e o discurso de agradecimento dos cantores tendem a deixar uma forte impressão nos espectadores.

 

Por outro lado, das cerimónias de atribuição de prémios musicais em Macau, a única com alguma importância é a dos TDM Music Awards. Para ultrapassar a falta de eventos semelhantes, a Associação dos Artistas de Macau organizou a primeira edição dos SIM Music Awards em Fevereiro deste ano, com vista a criar mais oportunidades para que o trabalho dos artistas locais seja reconhecido.

 

Por comparação com os TDM Music Awards, os SIM Music Awards concentraram-se muito em reconhecer o desempenho de artistas individuais. “Dentro do círculo do entretenimento, chegámos ao consenso de que, quando chegasse a hora, queríamos prémios orientados para os cantores, como os de Hong Kong”, diz Jones Chong Cho Lam, presidente da Associação dos Artistas de Macau.

 

Há um ano, a Associação iniciou conversações com a Teledifusão de Macau (TDM), organizadora dos TDM Music Awards, para planear um novo evento de prémios de entretenimento. Como os TDM Music Awards decorrem no Verão, decidiram organizar os SIM Music Awards no início do ano.

 

Jones Chong Cho Lam assinalou que os maiores desafios do processo de planear são chegar a um consenso entre os proprietários de empresas de entretenimento e os artistas individuais dessa indústria, e decidir o número de prémios a atribuir e o mecanismo de avaliação. A primeira edição dos SIM Music Awards incluiu apenas 17 galardões para os artistas, contemplando as categorias de Artistas Mais Populares e Melhores Interpretações. Enquanto a primeira categoria está aberta à votação de todos, para garantir a participação do público, a segunda é julgada por um painel composto por mais de 120 profissionais do entretenimento, líderes comunitários e celebridades.

 

Reflectindo sobre o evento inaugural, Chong observa que a cerimónia enfrentou desafios consideráveis em termos de restrições de tempo e de financiamento, embora tenha recebido o apoio do governo e de muitas organizações. Considera também que ainda há espaço para melhorar e que, idealmente, a iniciativa deve, de futuro, envolver mais profissionais estrangeiros na função de avaliação, com vista a promover a música original em Macau. Para ilustrar o seu ponto de vista, Chong revelou que, ao descobrir a impressionante qualidade da música de Chan Wai Man, um dos juízes do painel adquiriu os direitos para o lançamento do novo álbum da cantora em Taiwan (de onde o juíz é oriundo). Sem dúvida, os prémios podem dar um contributo assinalável para incrementar a promoção de um artista. “Por exemplo, Lo Ka Ho, que ganhou o prémio de Intérprete Masculino Mais Popular, terá o privilégio de se apresentar como tal localmente e no exterior. O que esperamos oferecer é a afirmação do talento e um título adicional que os artistas podem aproveitar enquanto perseguem o seu sonho.”

 

No evento inaugural, Chong mencionou que o facto de existirem cerca de 30 artistas a tempo integral na indústria de entretenimento de Macau significa que apenas um em cada 10.000 escolhe fazer carreira  neste sector. No entanto, os esforços para entrar neste círculo reduzido não podem ser esquecidos.

 

No ano 2000, Chong e o seu amigo Terence Chui Chi-leong (o cantor residente em Macau conhecido por “Siu Fay”) formaram uma banda chamada C-PLUS e criaram a sua própria agência, a Chessman Entertainment, para promover música original em Macau. “Não havia cantores a tempo inteiro em Macau e muitas pessoas provocavam-nos dizendo: ‘Se um cantor tiver de alcançar sucesso em Macau, fá-lo-á com ou sem ajuda’. Embora os músicos no território não desfrutem do enorme êxito dos seus pares noutras partes do mundo, o sector é capaz de apoiar um punhado de artistas. De certa forma, é um começo promissor”. Por comparação com outras actividades culturais e artísticas em Macau, Chong sente que a carreira dos cantores sofre com a falta de audiência. “Esperamos que a atribuição de prémios e outras iniciativas possam apresentar os artistas ao público. Acredito que, se os galardões continuarem a ser atribuídos durante cinco ou 10 anos, será óptimo para o sector do entretenimento.”

 

Além de apresentar publicamente os artistas de Macau, também é necessário encorajar as pessoas a mostrarem o seu apoio através do consumo. Segundo Chong, de momento Macau não possui uma cultura de bilheteira robusta. Muitas pessoas procuram obter bilhetes para concertos ou espectáculos através de contactos pessoais, em vez de os adquirirem, mesmo quando se trata de artistas estrangeiros de renome internacional. Macau necessita de inverter esta tendência, para apoiar o consumo nas artes e na cultura. Embora a situação nos últimos anos tenha melhorado, uma mudança verdadeira e duradoura só pode ser conseguida mediante esforços contínuos. Como diz o velho ditado: “Mil milhas têm início num primeiro passo”. Mas como se consegue isso? Para Chong, “a melhor forma é organizar mais performances e actividades”.