Quando se trata de indústrias culturais e criativas, é importante associar a indústria ao valor de produção. De acordo com as estatísticas da Agência do ISBN de Macau, 633 livros serão publicados em Macau em 2019. Para além das publicações regulares de departamentos governamentais, instituições públicas e escolas, muitas organizações e pessoas a título individual têm o prazer de publicar livros para promover e documentar os seus interesses. É realmente assim tão fácil publicar? Enquanto indústria cultural e criativa, como pode a publicação de livros em Macau tornar-se realmente uma indústria quando o público em geral não sabe muito sobre a edição local? Da produção de conteúdos à distribuição, venda e marketing, esta edição do “Destaque” analisa a forma como as grandes editoras e as editoras independentes operam em Macau.
O montante do financiamento determina a dimensão da editora—Visita às editoras Os Macaenses Publicações e Hall de Cultura
Os Macaenses Publicações: a manutenção dos custos operacionais nos serviços editoriais
Quando se fala na publicação em Macau, surge sempre uma questão: “Há pessoas que publiquem livros em Macau?” A verdade é que há um certo número de pessoas em Macau que se vão aguentando, sem uma cadeia editorial completa e madura. As Os Macaenses Publicações, editora pioneira com sede em Macau, foi criada em 2016, com o objectivo de, segundo Cheong In Cheng, um dos seus fundadores, “publicar livros para escritores locais”.
Quando ainda era estudante, Cheong sonhava em escrever um livro em Macau, e gabava-se até junto dos seus amigos que adoravam escrever, que ela iria um dia publicar as suas obras. Este sonho foi semeado no seu coração há vários anos, e, quando floresceu, foi, então, o tempo de enfrentar a realidade. Em Macau, publicar livros com fins lucrativos soa a uma fantasia, por isso Cheong teve de pensar em diferentes formas e soluções para que a empresa mantivesse as suas receitas, incluindo design gráfico para empresas e eventos, e serviços editoriais como edições especiais e revistas para associações e instituições. A empresa não pode candidatar-se a um apoio financeiro, e o “Programa Específico de Apoio Financeiro para a Plataforma de Serviço Integrada de Publicação” do Fundo das Indústrias Culturais atribui apenas um subsídio. Cheong considera que o número de subsídios poderia ser maior, e não apenas virados para livros sobre literatura, história e artes, mas também para conteúdos mais diversificados: “devem ser dadas mais oportunidades aos pequenos editores e reduzir-se o volume de publicação exigido, por exemplo, publicando 10 ou 20 livros por ano, de modo a que o mercado possa ser mais dinâmico.
Desde a infância, Cheong In Cheng sempre teve o sonho de publicar livros e decidiu fundar uma editora com o objectivo de publicar as obras dos escritores de Macau. Foto cedida por Cora Si
Desde a sua criação, a editora tem publicado uma vasta gama de livros, desde romances, ensaios, banda desenhada e livros ilustrados a literatura chinesa, em que um dos mais conhecidos é o livro infantil O Tesouro da Colina da Ilha Verde (nome original: 青洲山寶藏), que retrata o ambiente natural da Colina da Ilha Verde. Cheong admite que não é mau vender 200 exemplares de um livro de um autor de Macau, e o local onde mais se vende é, sem dúvida, o Macau Book Carnival, que se realiza três vezes por ano. “Organizámos lançamentos de livros de edições de autor, mas não foi muito eficaz porque, por um lado, aquele evento serve principalmente para a oferta de livros, e, por outro lado, não conseguimos captar uma grande atenção do público. A melhor maneira de o fazer é ter sessões de apresentação de livros em feiras de livros, porque as feiras é que são o local certo para vender livros, e muitas pessoas compram-nos logo depois de ouvirem a apresentação.”
O Tesouro da Colina da Ilha Verde é uma das publicações mais conhecidas de Os Macaenses Publicações, e as suas vendas têm sido relativamente boas. Foto cedida por Cora Si
Para além de subsídios, Cheong acredita que o Governo pode também ajudar o desenvolvimento de editoras locais através das suas políticas. Nos termos da Lei de Imprensa, as condições de publicação são muito tolerantes e basicamente qualquer pessoa pode publicar a sua própria obra. Na sua opinião, as autoridades poderiam fornecer acreditação profissional às instituições editoriais, o que permitiria garantir qualidade e rendimentos sustentáveis para as editoras. Por outro lado, para além do número anual de livros publicados pela Agência do ISBN de Macau, não existem outros registos mais detalhados e completos das publicações em Macau, tais como tiragens e preços. Cheong espera que possa ser criado um sistema que ajude as pessoas a compreender as realidades da indústria editorial e a manter os rendimentos das pequenas editoras.
Nos últimos anos, muitas pessoas mudaram os seus hábitos de leitura do papel para o digital. Em 2017, Cheong In Cheng e a sua equipa gastaram mais de 100 mil patacas para criar o website “Read Macau” (www.readmacau.com). Na fase inicial, havia várias centenas de utilizadores, mas para manter o funcionamento a longo prazo é necessário um certo capital, e com a qualidade dos autores do website a variar muito, os utilizadores foram-se perdendo gradualmente. Cheong está a planear remodelar o website e melhorar a interacção entre o online e o offline, de modo a trazer novas oportunidades de desenvolvimento para a editora, bem como avançar para o objectivo de “promover os escritores de Macau”.
Os Macaenses Publicações LDA.
Hall de Cultura: o poder para publicar 60 livros de géneros diferentes em dois anos
Para além de pequenas editoras independentes, há exemplos de publicação em larga escala em Macau. Não é difícil encontrar o nome Hall de Cultura na lista numerosa de editoras de 2019. O Hall de Cultura é uma editora que conjuga os serviços de edição, distribuição e marketing, e as suas instalações no Beco da Felicidade servem, também, de espaço para o intercâmbio artístico e cultural e, ainda, como livraria, o que significa que é transversal a toda a indústria editorial, da produção de conteúdos às vendas e marketing.
De facto, o Hall de Cultura tem recursos suficientes para fazer face a esta enorme carga de trabalho. Em 2019, a editora recebeu o apoio financeiro de 5 milhões de patacas ao abrigo do “Programa Específico de Apoio Financeiro para a Plataforma de Serviço Integrada de Publicação” do Fundo das Indústrias Culturais para publicar 60 livros de géneros diferentes1 no prazo de dois anos. São também obrigados a participar, com um pavilhão de Macau, em quatro feiras do livro em Pequim e Guangzhou, e a prestar serviços de apoio à produção do sector. Só em 2019, já publicaram 27 livros e participaram, com pavilhões de Macau, nas feiras do livro de, nomeadamente, Pequim e de Guangzhou para promoverem as obras de Macau.
O Hall de Cultura publica um grande número de obras sobre cultura e história locais. 27 livros foram publicados, só em 2019. Foto cedida pela entrevistada
A directora geral do Hall de Cultura, Chiu Heung Ling, indicou que os livros mais populares publicados pela editora são os relacionados com a história, cultura e sociedade local de Macau. Por exemplo, no Macau Book Carnival realizado em Julho, o livro mais vendido foi Ruas de Macau: Histórias dos Tempos Antigos e Modernos (nome original: 澳門街說古今) com quase 100 exemplares. Já Oito Tribulações—A História de Ung Si Meng (nome original: 八劫——吳仕明的故事), que narra a vida do presidente honorário Ung Si Meng, da União Geral das Associações dos Moradores de Macau, foi vendido em cerca de 700 exemplares no dia do seu lançamento, em 2019. De acordo com a experiência de promoção no Interior da China, os livros com as melhores vendas estão também intimamente relacionados com a história de Macau, tais como a Série de História Oral de Macau (nome original: 澳門口述歷史叢書), produzido pelo Hall de Cultura, e que já vendeu mais de 20 mil exemplares no Interior da China.
Todos os anos, o Macau Book Carnival é uma boa oportunidade para vender livros. Cerca de 100 exemplares de Ruas de Macau: Histórias dos Tempos Antigos e Modernos foram vendidos neste evento. Foto cedida pela entrevistada
Quando se trata de como a publicação pode ser lucrativa em Macau, Chiu Heung Ling acredita que o pré-requisito é uma cadeia industrial madura, incluindo uma editora reconhecida, livros comercializáveis e uma vasta gama de canais de venda. No caso de Macau, se uma única tiragem for vendida na sua totalidade, após dedução dos custos de mão-de-obra e impressão, não é possível ter lucro até que mais livros sejam impressos. No futuro, explorarão o mercado dos livros electrónicos, esperando promover os livros que estejam mais de acordo com o estilo de vida dos leitores modernos.
A directora geral do Hall de Cultura, Chiu Heung Ling. Foto cedida pela entrevistada
Hall de Cultura
1Inclui a edição de Macau, um livro de duas edições e um e-book. Fonte: Fundo das Indústrias Culturais (www.fic.gov.mo).