Mandarina Books: atingir o equilíbrio entre a receita e a despesa, independentemente dos apoios

10 2020 | 41a edição
Texto/Sara Lo

Quando se trata de indústrias culturais e criativas, é importante associar a indústria ao valor de produção. De acordo com as estatísticas da Agência do ISBN de Macau, 633 livros serão publicados em Macau em 2019. Para além das publicações regulares de departamentos governamentais, instituições públicas e escolas, muitas organizações e pessoas a título individual têm o prazer de publicar livros para promover e documentar os seus interesses. É realmente assim tão fácil publicar? Enquanto indústria cultural e criativa, como pode a publicação de livros em Macau tornar-se realmente uma indústria quando o público em geral não sabe muito sobre a edição local? Da produção de conteúdos à distribuição, venda e marketing, esta edição do “Destaque” analisa a forma como as grandes editoras e as editoras independentes operam em Macau.


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Algures entre as publicações de língua chinesa, surgiu, em 2019, uma pequena editora de língua portuguesa. Apesar da sua pequena escala, é surpreendente a competência desta editora na qual apareceram, num ano só, três livros infantis de línguas chinesa, inglesa e portuguesa, de design bonito e compacto, que atraíram instantaneamente muitos fãs e receberam o aplauso do público leitor.


A fundadora da Mandarina Books, Catarina Mesquita, veio para Macau há sete anos. Inicialmente jornalista, foi, depois, editora em várias revistas e está, agora, a ensinar a língua portuguesa numa escola primária. Antes da vinda para Macau, Catarina já tinha trabalhado numa editora de livros infantis em Portugal, e no ano em que nasceu o seu filho, ao mesmo tempo que cuidava dele, teve a ideia de “publicar livros infantis”. 


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Catarina Mesquita, fundadora da Mandarina Books.  Foto cedida pela entrevistada


Em 2019, criou Mandarina Books, e, em Setembro, lá foi publicado o primeiro livro, Little Explorers in Macau, um livro de autocolantes. Três meses depois, publicou um segundo Como se diz? 怎麼說? How do you say it?, no qual aparecem 100 palavras de línguas portuguesa, chinesa e inglesa que as crianças utilizam habitualmente. O terceiro livro, Na Rua, que surgiu ao público no “Dia Mundial da Criança” deste ano, relata duas histórias, uma dum pai português e sua filha e outra duma avó chinesa e seu neto, que se desenvolvem, no início, de forma paralela, mas que, a certa altura, se cruzam. Este livro não atraiu apenas o afecto das duas comunidades de Portugal e da China, mas fez, também, Catarina sentir profundamente que foi aceite e que já faz parte de Macau, o que é bastante comovente para ela. “Mandarina não é só um lugar de negócio, é, também, um lugar de entusiasmo, até mesmo de missão. Espero que através da nossa editora, as crianças conheçam Macau. O maior significado deste livro está na ligação entre diferentes pessoas.” Com o sucesso de Na Rua, a editora está já a planear a publicação do próximo livro que surgirá, previsivelmente, antes do Ano Novo Chinês, com personagens iguais às de Na Rua mas com uma história totalmente nova.


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Little Explorers in Macau usa Macau como pano de fundo para o desenho de 88 autocolantes relacionados com a vida e cultura de Macau.  Foto cedida pela entrevistada


Igual às outras edições independentes, Mandarina Books enfrenta o mesmo problema de distribuição. Apesar de este livro já ter recebido mais de 200 reservas via Facebook, Catarina visitou pessoalmente quase todos os endereços para dar livros aos leitores. Este processo, embora pleno de sinceridade, é muito cansativo e reflete o facto de o sistema da indústria de publicação não estar ainda maduro, sobretudo o sector de distribuição, o que se pode facilmente tornar numa desvantagem para as edições de autor. Logo desde que entrou em contacto com as livrarias, Catarina descobriu que havia muitas livrarias que não conhecia, o que a fez aperceber-se da lacuna enorme que existe entre a comunidade chinesa e a portuguesa, no que ao contacto com a sociedade diz respeito. Catarina sorriu, dando-nos um exemplo: para divulgar os livros de “Mandarina”, ela participou, em 2019, na Feira de Artesanato do Tap Siac e descobriu que todas as outras pessoas ficaram surpreendidas por ver uma estrangeira que habita mesmo em Macau a sentar-se lá e a vender livros. Ao mesmo tempo, Catarina achou que é somente ao sair da zona de conforto que pode obter a oportunidade de se mostrar ao público.


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No início, Catarina optou por entrar no mercado com um livro autocolante para informar os leitores sobre os mesmos.  Foto cedida pela entrevistada


A maioria dos livros locais depende do apoio do governo, nomeadamente do subsídio para publicação. No entanto, como mulher que gosta de desafios, Catarina decidiu tentar atingir o objectivo por si própria ao ritmo de três livros por ano. E conseguiu-o: hoje, após um ano, Mandarina Books já atingiu o equilíbrio entre a receita e a despesa; por exemplo, venderam-se 500 exemplares de Na Rua, o que é já um resultado fantástico para vendas em Macau. Sobre o futuro de Mandarina Books, Catarina já está a fazer vários planos, tal como a divulgação em escolas e livrarias. Ela abriu a porta aos livros infantis de línguas chinesa e portuguesa no mercado de publicação de Macau, dando uma nova luz a esta indústria e criando novas possibilidades.


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Na Rua é diferente dos livros infantis anteriores em Macau em termos de cor e estilo de ilustração, o que atrai a atenção dos leitores.  Foto cedida pela entrevistada


Mandarina Books

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