Indústria de eSports de Macau preste a decolar

Nos últimos anos, os eSports têm-se tornado cada vez mais populares em Macau. Os videojogos já não são apenas um entretenimento para gamers, tornaram-se uma oportunidade de carreira à medida que a indústria dos eSports ganha dinamismo. Jogar videojogos profissionalmente é algo que agora tem um grande potencial. O governo de Macau lançou iniciativas para desenvolver as indústrias culturais e criativas e tornar Macau numa cidade inteligente. Impulsionados pela Internet, os eSports são uma actividade emergente que pode contribuir para integrar estas duas direcções de desenvolvimento. Nesta edição, convidamos um jogador de eSports local, os responsáveis pela Federação de Jogos Electrónicos de Macau e pelo 178Esports a dar-nos uma ideia do sector de eSports do território e do mercado local.

Federação de Jogos Electrónicos de Macau: construir uma plataforma para amantes de eSports

“Não fiques a jogar videojogos o dia todo! Não é bom para o teu futuro.” Era isto que os pais diziam aos seus filhos quando eles jogavam. Porém, jogar videojogos tornou-se hoje uma profissão. Agora, os jogadores profissionais são celebridades e potenciais participantes nos Jogos Asiáticos. A indústria dos eSports está a ganhar dinâmica, acumulando um valor de mercado na ordem dos milhares de milhões. Quando os eSports se tornaram uma moda noutras regiões, Macau também se apercebeu da oportunidade e começou a fomentar a sua própria indústria de eSports. A Federação de Jogos Electrónicos de Macau, fundada em Abril deste ano pelo seu actual presidente Mario Ho e por um grupo de pessoas com interesses similares, pretende construir uma plataforma que crie oportunidades para os jovens adultos locais.

Só é preciso saber jogar videojogos?

Qual é a diferença entre jogar videojogos informalmente e profissionalmente? Ho deu esta definição simples: depende se estamos a jogar por entretenimento ou se aquela é a nossa carreira. “Os eSports não têm grandes diferenças dos desportos tradicionais. É muito difícil ser um jogador profissional. Por exemplo, se eu estiver no Reino Unido e souber jogar futebol, isso não faz de mim jogador das camadas jovens ou da equipa principal do Manchester United, com hipóteses de vir a disputar jogos na Premier League. O mesmo acontece com os eSports. Sem competências profissionais e o devido treino, não se pode entrar no mundo dos eSports”, explica Ho.

Ho é gamer desde miúdo. Mas só encontrou os eSports quando se tornou empreendedor no interior da China após terminar o curso. Durante a sua jornada empresarial, conheceu vários programadores de jogos, estrelas de eSports e directores de clubes de eSports. Aos poucos, desenvolveu a ideia de criar uma organização de eSports em Macau. “Tendo estes recursos à mão de semear, sentimos que devíamos assumir a responsabilidade de contribuir para que a indústria de eSports prosperasse no território”, afirma Ho.

Servir de ponte entre o Oriente e o Ocidente

Segundo Ho, embora Macau tenha começado a desenvolver os eSports tarde quando comparado com Hong Kong e o interior da China, este pequeno território tem vantagens únicas. O seu conveniente processo de vistos, background cultural e forte experiência no acolhimento de feiras internacionais são factores competitivos apelativos para que clubes e equipas de eSports participem em competições realizadas em Macau. Além disso, as estâncias turísticas topo de gama de Macau e o seu estatuto de Cidade Criativa na área da Gastronomia reconhecida pela UNESCO serão úteis para atrair recursos de eSports.

Como cidade internacional em que o Oriente encontra o Ocidente, Macau pode servir de ponte para a indústria dos eSports de ambos os lados. “Devemos jogar a carta internacional e tornar-nos na ponte que liga o mercado do interior da China ao mercado internacional”, diz Ho, sublinhando que Macau pode ajudar as equipas de eSports profissionais do interior da China a entrar em torneios internacionais e contribuir para que organizações internacionais entrem no gigantesco mercado chinês à medida que o sector dos eSports do interior da China se foca no desenvolvimento de clubes, organização de eventos de eSports e formação de jogadores.

Colaboração transversal chama a atenção

Desde a sua fundação em Abril, a Federação de Jogos Electrónicos de Macau estabeleceu acordos de cooperação estratégica com diversas organizações, ao mesmo tempo que organizava vários eventos em Macau, incluindo o 2018 Macao E-Sports Carnival realizado em meados de Junho que convidou equipas de topo do interior da China para competir em jogos populares como Honour of Kings e Playerunknown’s Battlegrounds. Na perspectiva de Ho, o evento valeu a Macau algum reconhecimento na Área da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau, e parte das inovações pode ser reproduzida no futuro. Por exemplo, o evento convidou umas quantas estrelas de cinema para estarem presentes e jogarem por entretenimento. Através de uma colaboração transversal, o evento pretendia cativar uma audiência mais alargada que pudesse não estar familiarizada com os eSports.

A partir do próximo ano, a Federação de Jogos Electrónicos de Macau vai organizar pelo menos dois eventos de eSports internacionais anualmente. Além disso, a federação também irá organizar seminários e conferências para equipas de eSports e programadores trocarem ideias, com o objectivo de facilitar oportunidades aos jovens adultos interessados em eSports em Macau. Acresce que a federação planeou organizar uma competição de eSports na Área da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau no final deste ano ou no início do próximo, para encorajar o intercâmbio entre diferentes jogadores profissionais da Área da Grande Baía.

Educar a geração mais velha

De acordo com o relatório referente ao sector de eSports na China em 2018 (2018 China E-Sports Sector Report) lançado pela Tencent e outras organizações, o número de praticantes de eSports no interior da China é já superior a 300 milhões, contribuindo para um mercado na ordem dos 8,48 mil milhões de yuan. No ano passado, o Conselho Olímpico da Ásia listou oficialmente os eSports como modalidade para os Jogos Asiáticos de 2022 em Hangzhou. Todavia, muitas pessoas continuam a não ver com bons olhos os eSports, equiparando-os ao vício do jogo. Por esse motivo, Ho considera que educar a geração mais velha será um dos principais objectivos da federação no futuro. A Federação de Jogos Electrónicos de Macau irá cooperar com os serviços de educação e organizar seminários nas escolas de modo a ajudar os pais e os estudantes a saber mais sobre eSports. “Creio que as ideias erradas acerca dos eSports têm origem na geração mais velha, na geração dos nossos pais. Por isso, para nós é essencial educá-los acerca de eSports”, afirma Ho.

“A indústria de eSports de Macau vai arrancar. Só precisamos de algum tempo para fazer acontecer”, diz Ho com confiança.