Artes performativas em Macau: tendências e implicações

05 2015 | 5a edição
Texto/Ng King Ling, Allison Chan e Fong Son Wa

Macau é uma cidade pequena, mas recebe anualmente milhares de espectáculos de vários géneros—desde mega produções financiadas por grandes grupos, até pequenas produções independentes locais. Porém, tanto os grupos artísticos comerciais como aqueles que são subsidiados enfrentam uma série de desafios e oportunidades no seio da indústria das artes performativas. Neste número, convidámos três grupos muito diferentes—Venetian Macau, Associação de Representação Teatral Hiu Koc e Associação de Arte Point View—para falarem sobre o futuro das artes performativas em Macau.

 

Teatro Hiu Koc: partilha de recursos no sector das artes performativas   Associação de Arte Point View: onde a qualidade de arte é importante


Mega espectáculos em Macau

 

O Cats, musical da Broadway conhecido em todo o mundo, subiu ao palco do Venetian Macau 13 vezes em nove dias. Dos 200 mil bilhetes disponíveis, 90 por cento foram vendidos, o que permitiu à organização arrecadar receitas consideráveis—sem contar com os lucros provenientes da restauração, alojamento e jogo.

 

Em breve, o Venetian vai trazer a Macau mais um dos espectáculos favoritos da Broadway, A Bela e o Monstro, que vai estar em cena durante um mês e meio já a partir de Junho. “O interessante nos musicais é que são apreciados por todas as idades. As crianças adoram as histórias da Disney, como é o caso d`A Bela e o Monstro, enquanto os adultos gostam dos momentos de música e de dança. Os musicais são famosos em todo o mundo—dos Estados Unidos da América a Macau”, diz Scott Messinger, vice-presidente de Marketing da Sands China, que detém o Venetian Macau.

 

Messinger explica que a Sands tem um grupo de funcionários que estuda espectáculos internacionais e avalia a possibilidade de os trazer aos seus casinos. Depois de o Marina Bay Sands, em Singapura, ter apresentado O Rei Leão, a companhia apercebeu-se do potencial que os musicais têm no mercado asiático e, por isso, está agora à procura de espectáculos que estejam actualmente em digressão.

 

Para o Venetian, o factor determinante é perceber se a apresentação de determinado espectáculo pode trazer lucros à empresa. “Se um espectáculo já está em cena em Hong Kong, comercialmente não fará sentido trazer a Macau”, refere Messinger. “Ou se durante um determinado período de tempo outros espectáculos estiverem a ser apresentados nas regiões vizinhas, temos de pensar se o público estará disposto a gastar tanto dinheiro em diferentes eventos.”

 

Para muitos, o Venetian não passa de um casino. No entanto, o empreendimento conta com um teatro de 1800 lugares e uma arena que pode receber 15 mil espectadores e por onde já passaram estrelas como Rihanna, Eason Chan e a banda Girl’s Generation. A actuação conjunta das orquestras filarmónicas de Shenzhen e de Filadélfia, e alguns combates de boxe foram também alguns dos eventos organizados pelo Venetian.

 

Além de representar um crescimento de receitas para o hotel-casino, a organização dos espectáculos também chama atenção internacional para Macau, sublinha Messinger. “A Austrália costumava ser o grande centro de entretenimento e as pessoas apanhavam o avião de vários pontos do mundo só para ver um espectáculo. Agora, muitos espectadores vêm da Europa e dos Estados Unidos a Macau para assistir a concertos de The Rolling Stones, o que confere à cidade o estatuto de centro mundial de lazer e entretenimento.”

 

Messinger não divulga números, embora admita que só a simples venda de bilhetes gera lucro. Mas não tem sido sempre assim: em 2008, a apresentação do espectáculo Zaia do Cirque du Soleil gerou perdas à operadora devido à fraca adesão do público. Quatro anos depois, foi quebrado prematuramente um contrato de dez anos. Há quem defenda que um espectáculo de acrobacia chinesa adaptado ao estilo ocidental pode ser um sucesso aos olhos do Ocidente. Mas a verdade é que não foi o suficiente para atrair espectadores chineses—muitos dos quais têm possibilidade de assistir a espectáculos de acrobacia chinesa no próprio país.

 

“Foi um processo de aprendizagem. Os gostos dos norte-americanos e dos chineses podem ser muito diferentes. Para muitos, os bilhetes também eram extremamente caros. Agora oferecemos preços mais acessíveis, de forma a atrair público estrangeiro e local e tornar estes eventos mais sustentáveis”, diz Messinger.

 

Já o City of Dreams, situado do outro lado da rua no Cotai, tem conseguido um enorme êxito com o espectáculo The House of Dancing Water, que começou em 2010. De acordo com o relatório financeiro de 2014 da operadora de jogo Melco, o espectáculo já subiu ao palco mais de 1500 vezes e foi visto por mais de 2,5 milhões de pessoas.

 

Como é que se pode medir o sucesso do The House of Dancing Water? Lei Chin Pang,

crítico cultural de Macau, responde a esta questão recordando um episódio. “Quando Hong Kong foi atingido por chuvas torrenciais, em Março do ano passado, caiu o telhando de vidro de um centro comercial e o espaço ficou inundado. Muitas pessoas utilizaram a expressão ‘The House of Dancing Water’ para descrever a cena, o que revela o impacto profundo que o espectáculo teve nos turistas chineses.”

 

A equipa que coordena o espectáculo The House of Dancing Water fez um trabalho impressionante em termos de produção e de vendas. “Desde o início do processo, os criadores deste espectáculo tentaram adaptá-lo à realidade local, em vez de transplantar uma criação estrangeira para Macau. O espectáculo tem vários personagens e elementos que encontram eco no público chinês. Claro que os números de acrobacia, emocionantes e de cortar a respiração, também foram fundamentais para este sucesso. Como estratégia de vendas e de marketing, os organizadores pediram à estrela de cantopop Sammi Cheng para cantar o tema principal do espectáculo. Este foi um passo muito inteligente, que veio demonstrar a importância da utilização de elementos locais para o sucesso do espectáculo.”